Ano Novo…. Novo sentido da Vida: o Propósito

É domingo, e a “Ana” está no sofá, assistindo a Netflix, impaciente e lamentando a proximidade da segunda-feira, que é dia de voltar a trabalhar! É quando ela depara que esta sensação tem ocorrido com muita frequência.  

A Ana não está sozinha… pois, sentir-se insatisfeito com a profissão é mais comum do que imaginamos. Muitos ainda não percebem o verdadeiro significado da famosa citação “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás de trabalhar um único dia de tua vida”.

Trabalhar com o que se gosta não é tão simples como parece, pois, pressupõe que sabemos do que gostamos. E não me refiro a hobbies, mas sim, de algo mais profundo: o nosso propósito de vida. E ter um propósito é saber onde queremos chegar e se estamos dispostos a investir a nossa energia no percurso que nos leva ao destino pretendido. E acredite: não será um percurso fácil!

Eu defendo que quem receia a chegada da segunda feira, para trabalhar ou aguarda pela segunda feira para iniciar um projeto de vida, na maior parte das vezes ainda não identificou o seu propósito de vida. Trata-se de alguém que ainda não identificou um significado maior na sua vida nem do seu trabalho. Trata-se de alguém que não identificou no seu trabalho qualquer forma de prazer ou satisfação pessoal comparativamente a se fosse à praia ou ao cinema.

Entendo que, temos uma carência profunda e necessidade urgente de ver a vida muito mais como a realização de uma obra do que um fardo que carregamos no nosso dia-dia.. Temos urgentemente que substituir a ideia de trabalho como castigo ou sacrifício pela ideia de realizar uma obra.. a nossa obra na nossa comunidade, para um benefício maior. Uma obra que nos permite edificar como pessoas, que contribui para o nosso crescimento e melhoria contínua e que agrega valor aos meio em que operamos.

Já paramos para pensar porque na maioria das vezes a ideia de trabalho é associada a um fardo ou provação? Na maior parte das vezes afirmamos que “Tenho que ir trabalha”, ou “Devo arranjar um trabalho”.

É fato que se observamos pela evolução histórica do conceito “trabalho”, inicialmente no período do sec II a.c até o sec V, tínhamos uma realidade que associava o conceito a escravidão, depois no mundo medieval foi substituída pela ideia de servidão, e com o passar do tempo, no mundo ocidental foi construído o conceito sob a logica da exploração do outro em detrimento de um pequeno benefício.

Entretanto, o tempo passou, e com ele as mudanças que foram imperando no mundo corporativo, e as constantes transformações na cultura empresarial convida-nos aos dias de hoje (principalmente desde que as empresas passaram a valorizar as suas pessoas) a trabalhar o nosso mind set e substituir a ideia de “castigo” ou “sacrifício” pela ideia de “obra”! Aquilo que faço, que construo, e em que me vejo.

A minha criação, na qual crio a mim mesma e na medida em que crio o mundo. Vejo os meus filhos como a minha obra, os meus projetos como a minha obra, caso contrário, corro o risco de me alienar: todas as vezes que eu observo para o que eu fiz como não sendo eu, ou não me pertencendo, eu me alieno. Fico alheia, portanto, não me reconheço, e este é um dos impactos mais negativos que deparamos na atualidade.

Todas as vezes que não nos reconhecemos, naquilo que fazemos, o nosso trabalho torna-se estranho e alheio para nós mesmos, e, portanto, sem reconhecimento!

Quando penso num trabalho de qualidade, penso num trabalho que não seja alienado. O trabalho pode ser cansativo, mas não pode ser necessariamente stressante.  Podemos sentir cansados quando uma atividade exige bastante energia, mas é prazerosa, já o stress instala quando aquilo que fazemos exige muito de nós e não vemos razão por estar a executar tal tarefa. O stress tem haver com o resultado daquilo que fazemos mas não vemos nem encontramos sentido na sua realização (exemplo: jogar 1 hora de futebol pode cansar mas não é stressante).

Como podemos regressar a casa cansados, mas satisfeitos? Quando vemos sentido a o que fazemos!

E como ver ou dar sentido ao que fazemos? Principalmente se já o fazemos há anos? Como não cair na monotonia ou na estagnação? Como evitar a zona de conforto de “já sei tudo”?

A solução passa pela Educação Continuada! Alimentar-se todos os dias da convicção que todos os dias devemos aprender um novo conceito, uma nova realidade, um novo procedimento. Dar vitalidade às competências, às habilidades e ao perfil das pessoas.

O fato de nunca sabermos tudo, não significa que nada saibamos. Aliás, só é possível caminhar na direção da excelência se tivermos noção que não sabemos de muita coisa e ter a humildade de assumir esta realidade em vez de fingir que sabe.

Quando fingimos que sabemos, impedimos atingir o estado de dúvida que por sua vez corresponde ao motor da mudança! Cuidado com quem não tem dúvidas, estas pessoas não têm capacidade de inovar nem reinventar. Quem não tem duvida só consegue repetir mais do mesmo, e num mundo de velocidade e de mudança como a que vivemos, acabam por estagnar na zona de conforto.

Portanto é preciso aprender a aprender, reaprender é a palavra de ordem! Aquele ou aquela que reaprende ganha autonomia, uma vez que, a velocidade da alteração dos processos produtivos, dos conhecimentos, é tão acelerada que a questão não é a mudança em si (porque estamos sempre em mudança), mas sim, estarmos preparados para mudar sempre que necessário.

Neste sentido, acompanhar a mudança do mundo corporativo, bem como as necessidades de reaprender e desenvolver as nossas competências em busca de um propósito e satisfação maior como profissionais, sempre somos acometidos pela duvida entre seguir uma área de atuação em que temos o genuíno interesse ou algo para atender a demanda do mercado de trabalho? Para ir da oportunidade ao êxito é preciso enfrentar os medos da mudança, romper com o mesmo e ter a capacidade de antecipar.

O segredo está na raiz do nosso processo de edificação como profissionais, na altura em que escolhemos a nossa área de formação ou especialização e posteriormente atuação. Na altura de decidir entre uma formação ou especialização mais prazerosa ou uma que atende a uma necessidade imediata da carreira ou do mercado, é preciso identificar o ponto de equilíbrio, isto porque, aplicando a teoria Karl Marx sobre o reino da necessidade e o reino da liberdade: “só é possível chegar ao reino da liberdade quando o reino da necessidade está completamente satisfeita”, ou seja, só quando as nossas necessidades estão satisfeitas, reunimos condições para fazer escolhas livres.

Por isso a questão fundamental para conciliar as nossas escolhas pessoais com o percurso profissional com prazer e satisfação culminando no nosso propósito de vida, na nossa obra deverá ser. “Estou a escolher com liberdade o que eu quero? Vejo sentido no que estou a escolher para exercer durante a minha vida?

Atenção que, quando o que escolhemos para a nossa vida, ou para a nossa carreira leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar nesse caminho. A maior parte das pessoas no mundo do trabalho executivo estão cuidando do urgente e não do importante, e com isso, de nada adianta a um homem ou a uma mulher ganhar o mundo se ele ou ela perder a sua alma!

Por isso sugiro, logo pela manhã, antes de começar o dia, tome um cafezinho, com açúcar e com propósito, para recarregar as suas energias, para que se sinta inspirado, para que se sinta bem com o que esta a fazer, para que sinta realizado com a sua obra!

Desejo um ano 2022 repleto de propósito a todos!