Assédio moral e quando Saber Largar

De acordo com fontes oficiais, quem se dedicou a estudar primeiro o tema do assédio moral foi a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen (2000), que entende o mesmo como sendo “qualquer conduta abusiva, configurada através de gestos, palavras, comportamentos inadequados e atitudes que fogem do que é comumente aceite pela sociedade. Essa conduta abusiva, em razão de sua repetição ou sistematização, atenta contra a personalidade, dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando o seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho”.

E como cada um interpreta os conceitos à luz das suas crenças e experiências, assédio moral para mim é: tentar Ser e Fazer o que se é e se sabe melhor e não ser respeitado como tal, numa base contínua (ao ponto da exaustão ou da própria destruição de autoestima e noção de valor pessoal).

Escrevo este texto de um ponto de humildade para melhor compreensão do “fenómeno” e parte de uma jornada de autoconhecimento em que me recuso a ser o que me aconteceu e a aceitar a quota parte da minha responsabilidade no meio de tudo isso.

Partilho também aqui algo num ato de vulnerabilidade para que possa de alguma forma contribuir para que estas ou outras situações se evitem e se denunciem até.

Portanto, se o desrespeito pela individualidade é a base deste “fenómeno” que atenta à integridade física ou mental de alguém, partilho alguns exemplos pessoais de experiências profissionais que vivi:

RESPEITO NÃO É….

  • Fazer comentários depreciativos sobre o aspeto físico;
  • Retirar acessos e barrar informação para evitar que se faça o trabalho da melhor forma;
  • Reter a pessoa durante horas a fio, todos os dias no escritório, decidir quando tira férias e faz pausas;
  • Estar sempre disponível a qualquer dia e hora; 
  • Excluir de formações ou outras oportunidades de desenvolvimento porque é mais confortável ou menos ameaçador manter a pessoa na mesma função;
  • Assinar contrato para uma função e as responsabilidades efetivas serem outras completamente diferentes;
  • Dar o “tratamento do silêncio”, falta de feedback contínuo, esperando que a pessoa tome a decisão de sair pelo seu próprio pé.

Isto são apenas alguns exemplos do que não é respeito, que se materializa dia a dia por atitudes pouco dignas da dignidade de qualquer ser humano. 

Dia após dia, vermo-nos em situações semelhantes, que se acumulam, levam a estados de exaustão (os burnouts da vida, entre outros que tais), que se tornam autênticas bolas de neve, que mais tarde ou mais cedo, se tornam avalanches emocionais.

O que percebi que havia em comum entre mim e todas estas situações e pessoas?

  • EU própria permitia, não sabia estabelecer limites, de forma assertiva entre mim e os outros;
  • EU não sabia comunicar verdadeiramente de forma não violenta com o outro; 
  • EU mostrava a maioria do tempo uma postura de defesa, munida de camadas sem fim, para evitar que chegassem a mim;
  • “ELES” tinham tanto ou mais caminho interior para fazer que eu;
  • “ELES”, adultos com crianças interiores revoltadas, tristes, zangadas, a precisarem de colo, tal como eu;
  • “ELES” a precisarem de ser ouvidos, compreendidos, amados, como eu e todo o mundo.

Foi aqui que aprendi, que a maioria das pessoas com quem entramos em conflito, dizem muito sobre nós próprios.

Repetiria tudo de novo, pois isso permitiu-me chegar aqui hoje, mais que não seja, para ter a coragem de escrever este texto. E estar cada vez menos num ponto de rancor ou mágoa, mas de aprendizagem e paz. Sei hoje, que teria lidado com maior compaixão ou compreensão com tudo isso, especialmente comigo mesma. 

De qualquer forma, o caminho é sempre nosso, de cada um, não posso esperar que as pessoas mudem por mim, nem quero. E por isso, no maior ato de amor próprio, é preciso Saber Largar, quando o respeito não é servido à mesa.

E tu o que vais deixar em 2021?