Semana laboral de 4 dias. Utopia ou realidade?

A pandemia causada pela COVID 19, com todas as restrições inerentes, acelerou práticas que timidamente algumas empresas tinham começado a implementar, como foi o caso do trabalho remoto ou teletrabalho. Hoje é indiscutível que este modelo veio para ficar, mesmo depois do anunciado fim da pandemia e do regresso a uma vida normal.

Mas o gatilho catalisador de mudanças no universo do trabalho causado pela COVID 19 parece que não ficará apenas pelo trabalho remoto. Uma nova visão sobre este tema, muito mais radical e impactante na vida dos trabalhadores e das organizações parece estar a ganhar terreno e adeptos, o que era impensável há alguns anos atrás.

A semana de trabalho ou laboral de 4 dias há muito que é defendida por teóricos da gestão. Recentemente, Andrew Barnes e Stephanie Jones publicaram o livro “A Semana de Quatro Dias – Como o trabalho flexível pode aumentar a produtividade, os lucros, e o bem-estar”, disponível em várias livrarias portuguesas. As conclusões plasmadas no livro são chocantes: num dia de trabalho de oito horas, a produtividade dos trabalhadores é, no máximo, duas horas e meia.

O que significa que a produtividade numa semana de cinco dias é, praticamente igual, à de uma semana de quatro dias.

Nessa obra são elencadas as várias vantagens deste modelo de trabalho: utilização mais eficientes do tempo por parte das equipas; menos stress e mais equilíbrio entre a vida profissional e pessoal; maior disponibilidade para ser criativo e inovador; crescente colaboração entre os profissionais, as equipas e a liderança; benefícios ambientais com menos deslocações; maior foco nos resultados com menos dispersão; decréscimo nos custos com manutenção do escritório, entre outras.

Surpreendentemente, o governo liberal belga, que inclui socialistas, liberais, ecologistas e democratas-cristãos aprovou legislação que permite a existência da semana de trabalho de quatro dias. Segundo o Primeiro Ministro belga esta decisão procura tornar economia “mais inovadora, sustentável e digital”. O modelo belga tem a duração de seis meses, após os quais os trabalhadores podem optar por continuar ou retornar à semana de cinco dias. Os trabalhadores poderão também solicitar ao empregador, por exemplo, para trabalhar mais numa semana e menos noutra, não podendo ultrapassar as dez horas de trabalho por dia (na Bélgica trabalham-se 38 horas por semana). Os empregadores têm, contudo, a palavra final sobre este modelo. Se o recusarem precisam de justificar a decisão, tendo de apresentar por escrito “motivos válidos” às autoridades competentes.

Sabendo que Portuga tem um dos índices de produtividade mais baixos da União Europeia, embora seja um dos países onde se trabalhe mais, talvez fosse interessante este tema começar a surgir nas agendas programáticas dos partidos políticos em sede parlamentar, até porque o Partido Socialista já colocou este assunto no seu Programa Eleitoral.

Estaremos em Portugal mais perto da utopia ou da realidade? O tempo o dirá.