As lições de uma profissão milenar

Nos tempos que correm, somos impactados mensalmente com notícias sobre as profissões que vão deixar de existir no futuro e aquelas que ainda vão surgir, graças aos avanços da inteligência artificial e da tecnologia, trazendo eficiência e automatismos em tarefas que hoje são executadas por pessoas. No entanto, há uma profissão – cabeleireiro – que já existe há mais de 5 mil anos e que se tem adaptado para continuar a ser relevante e da qual podemos tirar algumas lições para sermos melhores profissionais, independentemente da área em que trabalhamos.

Aprendizagem Constante

Assim como quem tira licenciatura em gestão, economia ou recursos humanos, também a profissão de cabeleireiro exige uma formação de base, passando pelo domínio da arte de cortar cabelo, como executar tratamentos em salão e, o mais complexo, aprender colorimetria para saberem que tons devem combinar e como aplicar para alcançarem a cor que o consumidor tanto deseja.

Após dominarem a formação base, chega a altura de entrarem no mercado de trabalho (salão de cabeleireiro) e testarem o que aprenderam, continuado a sua formação, dado terem agora de conhecer todos os produtos com que o salão trabalha (para saberem como aplicar e quais recomendar ao consumidor) e quais os protocolos para atender um consumidor no respetivo local de trabalho.

Com toda a expertise da profissão e domínio das especificidades do salão em que trabalha, anualmente chegam novas tendências, serviços novos e produtos que têm de dominar.

Para os cabeleireiros mais ambiciosos que adquirem o seu próprio espaço para abrirem um salão, passam a ter de aprender como gerir pessoas, como gerir um negócio, desde a burocracia até à gestão financeira do mesmo, como promover o seu salão nas redes sociais e ir criando conteúdo para recrutarem novos consumidores.

Proposta de Valor

Já se questionou porque vai a um determinado cabeleireiro em vez do que está situado 500 metros ao lado?

Um salão pode diferenciar-se de diversas formas, entre elas o espaço (decoração e disposição das diferentes áreas), os serviços que proporciona (especializado em determinado serviço – por exemplo balayage ou alisamentos), um hairstylist reconhecido (o salão “vive” de um nome reconhecido pelos seus trabalhos em semanas de moda, televisão, editoriais ou por parcerias com celebridades), o atendimento da equipa (o profissionalismo e cuidado com que prestam o serviço) ou através dos preços que pratica (se é mais acessível ou com um posicionamento mais premium).

Aproveitar a Digitalização

Antigamente, um salão estava disposto a pagar um valor superior de renda conseguia garantir uma agenda mais completa. Uma boa localização era sinónimo de mais pessoas a verem a comunicação da montra – horários, serviços disponíveis, preços e marcas com que trabalhava – e por isso, mais clientes a entrarem no salão.

Atualmente, a localização já não é tão determinante para um salão conseguir recrutar clientes. Um salão que trabalhe bem as suas redes sociais e plataformas de marcação, pode estar situado no primeiro andar de um prédio que continua a conseguir garantir uma agenda preenchida, reduzindo o custo da renda significativamente.

Para além das redes sociais, a própria experiência em salão continua a melhorar graças à incorporação de soluções tecnológicas que as marcas profissionais desenvolvem. Dois exemplos claros dessa modernização, são (1) a aplicação de diagnóstico capilar através de uma câmara potenciada por Inteligência Artificial (K-Scan de Kérastase), que nos apresenta a rotina mais indicada às necessidades do nosso couro cabeludo e (2) a aplicação alimentada por realidade aumentada (Style My Hair de L’Oréal Professionnel) que nos permitem experimentar diferentes cores de cabelo para que consigamos tomar uma decisão mais consciente da mudança que queremos fazer.

Conclusão

Há 10 anos que trabalho com e para cabeleireiros e desde sempre me inspiram a ser melhor profissional através de 3 traços característicos que deixo como reflexão:

1. Assim como eles estão sempre a adquirir conhecimentos novos, considero relevante para que possamos evoluir, que nos desafiemos a procurar conhecimento em novas áreas que impactem o nosso trabalho e a sairmos da zona de conforto –– estou disponível para aprender e experimentar novas áreas?

2. Para que nos consigamos diferenciar no mercado de trabalho, é importante termos consciência dos nossos pontos fortes e fracos para que tenhamos claro qual a marca que queremos deixar nas pessoas com quem trabalhamos e nos projetos que abraçamos – qual é a nossa marca pessoal?

3. Existem inúmeras ferramentas (gratuitas ou por subscrição) e modelos de trabalho que nos podem ajudar a ser mais eficientes – como posso usar a IA a meu favor?

Que esta visão de como uma profissão milenar se foi atualizando ao longo do tempo, sirva para refletirmos como podemos ser melhores profissionais, com todos os recursos que temos ao nosso alcance.