Da Revolução Industrial ao ESG

A Revolução Industrial teve início na Inglaterra no século XVIII, lançando luz em alguns conceitos válidos até os dias de hoje. Vale destacar o significado de  economia de escala, quando um produtor amplia seu volume de produção de modo a distribuir seus custos fixos em um número maior de unidades produzidas, reduzindo o custo médio dos produtos.

Naquele mesmo momento Adam Smith (1723-1790) teórico do liberalismo econômico,  autor da obra Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações” abordou a visão considerada  clássica da economia, donde extraímos o seguinte pensamentoAssim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade”.

Desde então, o liberalismo econômico muito praticado no mundo ocidental, considerou que o foco da atividade econômica estava na exploração de recursos (material e mão de obra) para gerar a maior riqueza possível, e o bem estar seria uma consequência natural na repartição do “bolo” econômico desenvolvido.

Neste sentido, a exploração inadequada da mão de obra e do extrativismo praticado com recursos naturais, eram fatores desconsiderados diante da objetividade econômica daquele tempo: gerar lucro a qualquer preço.

SÉCULO  XX – METADE DO CAOS

Ao avançarmos no tempo chegando no século XX, temos em Henry Ford (1903)   o modelo reconhecido como tradicional de eficiência produtiva, onde  questões relacionadas ao excesso de  resíduos na produção, ou controle de emissões de gases,  ainda não compunham o escopo de preocupações do “chão de fábrica”, que  seguia focado na exploração de recursos para gerar o maior lucro ou riqueza possível.

Com advento da I Grande Guerra (1914-1918) o foco seguiu voltado para “alimentar” este pensamento, ratificado através do Tratado de Versalhes, quando o mundo claramente se posicionara para reconstrução do pós-guerra.

Contudo, não houve tempo para maiores reflexões sobre os caminhos da humanidade e do planeta, pois em 1929 eclode a Grande Depressão, para em seguida (1939) Hitler invadir a Polônia dando início a II Grande Guerra, encerrada somente 1945.

Em suma, na primeira metade do século XX, não houve sequer uma década de calmaria planetária ou tempo hábil para reflexões sobre os modelos de produção que deveriam nortear as pautas mundiais, pois sempre havia uma bomba (literalmente muitas vezes) para explodir.

E assim as “conquistas globais” estiveram sempre associadas, segundo o foco tradicional: produzir mais e mais.

Mesmo que nos anos 60 a Guerra Fria já estivesse instalada, contudo naquele momento não ocorreu uma luta armada nos moldes tradicionais.

E o excesso de produção gerado pelo “tempo de paz”, obrigou o desenvolvimento de conhecimento de logística, impulsionada pelo surgimento da televisão (em larga escala), impactando nas vendas ampliadas pelo desenvolvimento do marketing de varejo, tudo junto e misturado, para dar vazão as duas décadas anteriores (ininterruptas) voltadas exclusivamente à produção.

AVANÇOS DO SÉCULO XX

Foi neste momento de “calmaria” (1) quando esses novos mecanismos se expandiam, que ocorre uma mudança de paradigma, onde o foco dos negócios foram  voltados para atender o  “consumidor” (2), sendo que  paralelamente uma reforma um tanto silenciosa ainda,  tomava corpo.

Organizações sócio ambientais foram criadas como a  WWF -World Wide Fund for Nature (1961, Morges, Suíça) e Green Peace (1971, Vancouver, Canadá) , culminando com Relatório Brundtland, coordenado pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente  em 1987, onde ao lado de “atender” o consumidor, um novo conceito era adicionado:  “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”.

E assim, se na primeira metade do século os olhos do mundo estavam voltados à construção e reconstrução do sistema produtivo, no novo quarto daquele século os deveres  de um novo perfil de consumidor/ cidadão entravam na pauta, em paralelo a compromissos de Estado, ainda incipientes,  com o Meio Ambiente.

O planeta caminhava para virada do século, quando o conceito do tripé da sustentabilidade, também conhecido como triple bottom line criado em 1994 pelo empresário britânico John Elkington,  ganhava espaço no caminho da globalização, baseado  em três pilares interconectados : social, ambiental e econômico.

SÉCULO XXI – UM NOVO TEMPO ?

Assim como o pensamento de Martinho Lutero ganhou velocidade revolucionária de propagação por conta da prensa de Gutemberg, o mundo desagua no século XXI com a internet impactando decisivamente no novo formato de propagação de notícias.

E este novo cenário ganha velocidade sem limites, onde pessoas até então desconectadas, passam a abordar questões de energia limpa, resíduos sólidos, controle de emissões de gases, economia de água, proteção da florestas entre tantos outros temas, paralelamente as ONG’s ou organizações representativas.

Contudo estes assuntos que dominaram o novo cenário em muitos debates, nem sempre difundiram conhecimento verdadeiro, dado a interesses econômicos discutíveis, especialmente dos países com maior impacto nas emissões de gases de efeito estufa.

Temos como exemplo o Protocolo de Kyoto elaborado em 1997, em meio a discussões a respeito dos problemas ambientais associados às atividades humanas, que foi   ratificado em 1999, por quase todos signatários.

Porém EUA e China, não ratificaram as respectivas assinaturas, sendo ambos responsáveis por inacreditáveis 38% das emissões globais,  seguidos pela União Europeia e Índia (7% cada), e ao Brasil, com  3% das emissões do Planeta.

Por falar em Brasil, nosso país é motivo de manchete em todo mundo quanto a questão ambiental, onde se desconhece o importante protagonismo neste cenário, pois 82,9% da matriz energética é composta de usinas hidroelétrica, eólica e solar.

Também no campo da segurança alimentar, cabe ao Brasil (com 212 milhões de habitantes) alimentar mais de 1 bilhão de pessoas do Planeta, com alta eficiência ambiental, pois  nos últimos 40 anos a produção agrícola cresceu 385% contudo somente 32% de terras adicionais foram desmatadas para esta produção(3).

Sendo assim, a Floresta Amazônica, segundo a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, ainda mantém 84% da vegetação nativa, decorrente dessa eficiência do agrobusiness.

Claro que não há “mocinhos” nessa história, mas uma gama de interesses econômicos conflitantes de um mundo globalizado, onde produzir mais continua na pauta prioritária, porém (agora) com menor utilização de  recursos naturais.

Portanto não somente o controle de emissões passa a ser um grande desafio para este novo quarto de século, bem como todas as metas da ONU estabelecidas nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que devem ser implementados pelos países até 2030.

Contudo, surge agora um (novo) fator de risco diante dos avanços conquistados nas últimas décadas: a guerra Rússia X Ucrânia.

Pois a  situação bélica do leste europeu resultou no maior aumento do custo de energia do século naquele continente culminando com a maior inflação dos últimos 40 anos dos EUA.

Como se estes fatores não bastassem, foram registrados crescimentos negativos do PIB em quase toda Europa entre 2020/21/22 (decorrente da crise de saúde) com baixa recuperação de empregos, que poderá colocar em segundo plano, as metas ligadas à questões ambientais.

Mas em que pese este cenário preocupante, vale destacar que muitas empresas, de forma voluntária estão aprofundando políticas de governança, hoje conhecidas ESG -Environmental, Social, and Governance.

E assim se comportam, quer seja por imposições de mercado onde consumidores estão cada vez mais conscientes, quer seja por legislação ambiental avançada em muitas países (4).

A confirmar este horizonte de negócios renovados, impactando nos investidores sempre atentos aos riscos dos negócios, vale destacar que a Tesla , produtora de automóveis elétricos nos EUA , superou em 2019 a Ford em valor de mercado em Wall Street.

Detalhe: a empresa de Elon Musk produz somente 1% (em unidades) dos veículos da centenária empresa fundada por Henry Ford, ou seja, uma produção minúscula mas com valor agregado infinitamente superior.

Seria este um sinal dos investidores que não mais acreditam em mobilidade que produza fumaça?

Pressão dos consumidores?

Vamos aguardar o andar da carruagem, porém seguindo na contribuição da inserção da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas, e paralelamente em ações de cidadania por um mundo melhor.

ESG - comunicaRH

Roberto Mangraviti convidado por João Casarri Neto da comunicaRH