Geração de riqueza, felicidade e manutenção da existência

A sustentabilidade, hoje, é considerada um diferencial estratégico para as organizações, mas está próximo o dia em que ela será uma exigência, algo obrigatório no dia a dia de todas as empresas. A frase parece profética, mas o cenário é, de fato, apocalíptico: o mundo passa por mudanças profundas, com um fim anunciado, cheio de escassez e dificuldades, com pessoas cada vez mais em crise e desigualdade social evidente. Nesse meio, como vamos produzir, comprar, vender, negociar ou emprestar? Qual será o modelo de negócio que irá prosperar? Quem terá sucesso sem que desapareça pouco tempo depois de surgir? Certamente, aquele que estiver conectado aos anseios do meio ambiente, da nova economia e das pessoas, os principais “cavaleiros deste apocalipse moderno”. Como no Evangelho, quem crer será salvo, quem não crer será castigado. Portanto, “quem tem ouvidos, ouça”!

Para muitos, quando falamos em sustentabilidade, referimo-nos a “abraçar árvores, limpar rios, cuidar do ar, reciclar, etc. Tudo isso também pode acontecer, mas, hoje, o conceito vai muito além. Na era da Indústria 4.0 e da Inteligência Artificial, a sustentabilidade deve ser vista com todas as cores, representando a preocupação com o todo, com a diversidade de ações, afinal, o conceito transcende a natureza.

Para ser sustentável é preciso gerar riqueza. Ninguém é feliz em meio à escassez.

A diferença é que, agora, esses valores precisam ser gerados para todos: meio ambiente, pessoas e negócios (e nessa ordem). Ambiental, social e financeiro precisam caminhar de mãos dadas na economia da nossa era. Nesse sentido, a preocupação deve estar não mais em como um negócio precisa impactar menos a comunidade ou em como ele poderá retribuir às pessoas pelos problemas causados (conceito de Responsabilidade Social dos anos 90), mas sim em criar produtos, serviços e ações que estejam interligados à sociedade e que atendam aos anseios da nova realidade.

O negócio precisa se preocupar em ser sustentável na sua essência, na sua formação. Não vale agredir para depois recuperar, é preciso não agredir e sentir-se parte do todo. E, sim, dá para ganhar dinheiro dessa forma; experimente consumir menos água e energia, por exemplo, e veja o seu negócio lucrar mais. Óbvio, mas precisa ser dito.

Tais preocupações ganharam força, principalmente, pelos urgentes sinais enviados pela natureza. Até 2050, segundo dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) e da ONU (Organização das Nações Unidas), pelo menos a metade da população mundial passará fome e não terá acesso à água limpa e de qualidade. Há, ainda, uma perspectiva de pelo menos um bilhão de pessoas sofrerem de doenças que ganharão força por conta das mudanças climáticas, as quais ainda causarão prejuízos trilionários às economias dos países, sobretudo aos menos desenvolvidos. Para aqueles que acham que são previsões ilusórias, o cenário atual está aí para lembrar que não.

Nunca se viu tanto desequilíbrio com o clima e tanta falta de recursos.

Com isso, as pessoas notaram que seria preciso mudar, produzir e consumir de modo diferente. Hoje, 53% das pessoas já confessam deixar de comprar quando sabem que uma empresa não respeita as pessoas ou o meio ambiente, e 71 % delas dizem estar dispostas a pagar mais caro por produtos que sejam ambientalmente corretos, segundo dados do Ibope (2016). Agora, elas não aceitam empreendimentos que contaminem os rios, pois se tratam dos mesmos fluviais que as geram água para beber; ou aqueles que poluam o ar que elas mesmas respiram; muito menos aqueles que usam de trabalho escravo para construírem riqueza. A consciência é de que, mesmo que elas ganhem empregos, gastarão esse dinheiro com saúde e, mais do que isso, deixarão de ter disponível um recurso natural que é para todos.

Sem meio ambiente não há economia. Sem pessoas, não há consumo e muito menos empresas. O que se pede é que as riquezas sejam geradas, sim, mas não a qualquer custo. Que se tenha lucro, mas que o rio continue limpo, o ar disponível, as pessoas saudáveis (e bem remuneradas), e que a ética permeie os empreendimentos mesmo que isso traga uma margem menor dos ganhos, afinal, o lucro exacerbado significa, quase sempre, o prejuízo de alguém.

Mudança dos comportamentos

O que muitos empreendedores ainda não perceberam é que, no mundo atual, as pessoas possuem um poder gigantesco e ele só tende a aumentar. No passado, empresa, governo e igreja eram instituições que mandavam no estilo de vida do ser humano. Eram sagradas! Hoje, a lógica se inverteu: governos são depostos e as pessoas mudam dogmas seculares. E as empresas? Bem, muitas delas têm desaparecido pela mudança no comportamento do consumidor. Se você não respeita o meio ambiente, as leis e, sobretudo, o ser humano, seu negócio estará fadado à morte, pois ninguém comprará seu produto.

Numa rápida retrospectiva na história recente, vemos grandes produtores de detergente mudarem suas fórmulas porque a sociedade deixou de comprar e as vendas caíram. Produtores de carne que foram envolvidos em grandes esquemas de corrupção e quase fecharam as portas porque as pessoas deixaram de comprar. Gigantes de empresa de refrigerantes que estão diminuindo a quantidade de açúcar do seu produto porque as pessoas entendem que isso é nocivo à saúde. Alguma dúvida de que os negócios precisam ser sustentáveis?

Olhar para as pessoas

Isso também representa uma necessidade gritante de o empreendedor olhar para as pessoas, sobretudo às que estão ao seu redor, construindo o seu negócio. É impossível dissociar a sustentabilidade de uma palavra que está muito na moda: inovação. Como produzir mais gastando menos? Inovação! Quem inova? Pessoas! Então, é para elas que o foco do negócio precisa estar. São elas que podem nos tirar dessa verdadeira enrascada existencial. Não há sustentabilidade sem gente feliz e realizada.

Em uma pesquisa recente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou que cerca de 200 mil pessoas são afastadas por conta de doenças relacionadas à depressão causada pelo ambiente de trabalho. Até o final de 2020, essas doenças serão o maior motivo de incapacidade no mundo. Aí perguntamos: pessoas assim, infelizes e desmotivadas, podem gerar algum tipo de inovação para o seu negócio? Hoje, há consenso entre profissionais da mente de que o cérebro só funciona em sua totalidade, proporcionando criatividade e inovação, quando a pessoa está feliz. Que tipo de ambiente as pessoas têm encontrado nas corporações para que caiam em depressão? Esses ambientes estão assim para servir a quem? Hoje, são as pessoas que adoecem, mas também existe a Depressão dos Negócios. E se você cair nela, pode ser que nunca mais saia.

Só há uma forma de transformar essa realidade:

ouvindo e empoderando as pessoas. Nenhum gestor, executivo ou empreendedor sabe tanto do negócio como os funcionários da empresa. É preciso descer do “trono do escritório” e dar voz a quem quer falar, colocar a vida das pessoas em primeiro lugar e a preocupação com o outro como foco dos negócios. Assistencialismo? Não, é negócio! A sociedade mudou, o poder não está mais nas mãos das corporações e quem percebeu isso está lucrando (e muito).

A Universidade de Harvard, nos EUA, fez um estudo profundo entre os anos de 1990 e 2010, comparando as empresas que possuem políticas de sustentabilidade com as que não têm. O resultado foi impactante: as 90 empresas de alta sustentabilidade apresentaram melhores taxas de retorno, em 18 anos. Nesse período, o seu patrimônio aumentou 33 vezes; o de uma empresa de baixa sustentabilidade, 26 vezes. O retorno de uma empresa de alta sustentabilidade em 2010 foi de sete vezes o valor investido em 1992; o de uma empresa de baixa sustentabilidade foi de 3,5 vezes.

Analisando a evolução do valor das empresas ano a ano, também é possível verificar que, mesmo em momentos de queda nas Bolsas de Valores, a desvalorização das empresas de alta sustentabilidade foi significativamente menor do que a das empresas de baixa sustentabilidade.

Dados como esses reforçam:

é muito melhor ir a favor do que remar contra a maré, e isso significa apostar em gente. Só as pessoas podem ajudar o empreendedor a fazer o mesmo produto gastando menos e ganhando mais. Não há investimento em tecnologia, processos ou qualquer outra coisa que vá surtir tanto resultado quanto o investimento em pessoas: são elas que operam as máquinas, são elas que inovam. Faça-as felizes na sua corporação e veja até mesmo a sua folha de pagamento ter um valor menor do que a da concorrência. Sim, o salário é menos importante do que o propósito e o bem-estar, principalmente para as novas gerações.

A indústria pode chegar a ser 4.0, 5.0, 6.0, mas as pessoas serão sempre pessoas, e são elas que vão liderar todas as transformações. Então, se quiser ser sustentável, seja um gerador de valores e felicidade. Você quer existir daqui a 30 anos? Então, foque na sustentabilidade, foque nas pessoas. É o que dizem os profetas.