O Hiato

A pandemia que se instalou no mundo veio colocar nas mãos dos governantes, empresários e líderes muitos desafios, mas também trouxe consigo muitas incertezas e dúvidas. Num momento em que 1/3 da população mundial se encontra isolada em casa, todos  os dias são estudadas estratégias para dar resposta à pandemia que estamos a viver, mas também à crise económica que se avizinha.

Inúmeras e variadas medidas estão a ser tomadas e outras tantas estão por implementar

Ninguém sabe se as soluções identificadas são as mais corretas. Mas cada nação tem colocado em prática aquilo que considera ser o mais adequado à sua realidade para travar a propagação do vírus e minimizar o impacto que esta situação está a causar no mundo em termos sociais e económicos. Tendo por base os recursos existentes (humanos, financeiros, logísticos e tecnológicos), é sabido que nem todos os países poderão adotar as mesmas medidas e que nem todos conseguirão dar resposta de forma célere e equitativa. Cada país é único e é preciso olhar para a sua própria realidade, capacidades e limitações.

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Um dos grandes impactos que o Covid-19 trouxe consigo foi na forma como desenvolvemos o nosso trabalho. O risco de contaminação retirou grande parte dos trabalhadores dos seus locais de trabalho como forma de prevenir o contágio e zelar pela saúde pública.

Esta medida de contingência, de distanciamento social, veio alterar os modelos de trabalho de um número significativo de empresas e negócios em todo o mundo. De acordo com alguns estudos, antes da pandemia nas economias tecnologicamente mais avançadas, um trabalhador estava em regime de home office  1 dia por semana, em média.

Ou seja, se para muitos o trabalho remoto já era uma realidade e a sua implementação foi relativamente rápida e quase imediata, para muitas pessoas esta foi a primeira vez em que se depararam com a realidade de trabalhar a partir de casa, tendo que enfrentar algumas limitações físicas, logísticas e materiais para a sua concretização.

Os desafios que o COVID-19 trouxe para Timor-Leste

Para a adoção desta nova modalidade de trabalho foi necessário um período de adaptação das empresas e das suas próprias pessoas, mas nem todas tiveram a mesma facilidade ou possibilidade. Ninguém estava preparado para esta grande mudança que chegou até nós de forma tão repentina e inesperada. Trabalhar de forma isolada, com colegas e chefias à distância demonstrou para muitos ser um grande desafio.

Muitos gestores tiveram que reinventar o seu modelo de negócio

Investir em plataformas digitais, disponibilizar equipamentos (computadores e infraestruturas de comunicação) para os seus colaboradores, criar estratégias de motivação de equipas e liderança inovadoras, entre outras tantas medidas em prol da sobrevivência e continuidade do negócio e das equipas a médio/longo prazo. Não podemos também esquecer que um número elevado de profissões não permite o exercício da atividade laboral em regime de teletrabalho. Pelo que a presença diária nos locais de trabalho tem sido a única solução, mesmo que algumas empresas e organizações estejam a adotar o regime por turnos, de forma a reduzir o número de colaboradores no local de trabalho.

Também a educação sofreu uma grande alteração na forma como as aulas estão a ser lecionadas. De uma forma generalizada, optou-se pelo home schooling, permitindo que os alunos acompanhem os programas educacionais através de plataformas web específicas, programas de televisão e outras soluções, sempre recorrendo às TIC. Contudo, face às assimetrias socioeconómicas existentes, rapidamente se verificou que o tipo de medida adoptada não é equitativa, nem chega a todas as crianças e jovens da mesma forma.

O COVID-19 não foi alavanca da inovação para todos

Em muitos contextos o Covid-19 tem sido visto como um “transformador digital” que permitiu a muitas empresas e organizações dar um salto qualitativo nos sistemas tecnológicos, inovar os modelos de negócio e os processos de trabalho. Contrariamente noutras geografias, nomeadamente nos países mais pobres como Timor-Leste, o Covid-19 veio vincar o atraso tecnológico. A insuficiência e o contraste no  acesso aos recursos de informação e comunicação, bem como evidenciar que os processos de trabalho estão obsoletos e não conseguem acompanhar as consequências da pandemia.

Como tal, grande parte dos timorenses não pode ou não consegue trabalhar remotamente devido à falta de meios, equipamentos e infraestruturas. Nem tão pouco todos os estudantes conseguem acompanhar o programa curricular do ensino à distância que está em vigor, apesar de algumas matérias serem transmitidas pela televisão. São igualmente utilizadas plataformas online para transmitir os conhecimentos aos alunos, tais como Facebook, Youtube e Whatsapp. No entanto, num país em que o salário mínimo é de 115 USD, naturalmente que o acesso a um computador, telemóvel ou internet não são uma prioridade nos lares dos timorenses.

É pois uma triste e dura realidade que atira milhares de timorenses para os seus lares

Sem ocupação e sem data prevista de regresso aos seus postos de trabalho ou às salas de aula, obrigando desta forma à paralisação temporária ou definitiva de muitas empresas, organizações e escolas sem que hajam alternativas no curto prazo.

Assim, esta pandemia veio também demonstrar a desigualdade existente entre países pobres e ricos, no que diz respeito ao acesso à infraestrutura digital e às redes de comunicação. Para além das assimetrias socioeconómicas já conhecidas, a situação que atualmente vivemos à escala mundial destaca ainda mais o hiato tecnológico entre os países, demonstrando a necessidade urgente de adotar medidas que possam suportar o crescimento económico futuramente.

Considerando que a tecnologia é uma das chaves para o crescimento económico dos países pobres, é pois fundamental e urgente investir em infraestruturas e no desenvolvimento das competências e conhecimentos do capital humano nesta área, em Timor-Leste. Nos dias de hoje, ainda muitas organizações recorrem apenas ao trabalho manual, não havendo espaço para sistemas ou plataformas informáticas, assim como o acesso à internet nem sempre chega a todo o lado. Mais do que nunca, instituições públicas e privadas necessitam de sistemas de informação de suporte ao desenvolvimento das suas atividades, de forma a poderem alcançar os resultados pretendidos de forma mais eficiente.