O PRIMEIRO… E O ÚLTIMO PASSO DO ESG

Inserir uma nova cultura de ESG numa empresa, requer tempo e investimento.

E muitas empresas no momento atual, estão avaliando como inserir o conceito ESG – Environmental, Social, and Corporate Governance de forma estruturada, temendo enfrentar os desafios deste cenário que exige um “up grade” no DNA dos negócios.

Afinal, a variável “tempo” está interligada à conduta das pessoas para aceitação de novas políticas numa empresa, pois somente 10% aceitam de imediato mudanças organizacionais, e 20% necessitam de um pouco de convencimento (Figura 1).

No contraponto, há o temor que o investimento (sem retorno imediato) seja alto demais, até diante da resistência dos 70% restantes das pessoas que são pouco receptivas a mudanças.

Isto posto, inserir responsabilidades ESG numa empresa, obriga as direções qualificar a informação com dados econômicos fundamentais, e paralelamente sensibilizar os stakeholders através de produção de conteúdos dinâmicos e inteligentes, visando reduzir tempo e investimento.

PARÂMETROS E AFERIÇÕES

Segundo Peter Drucker, “cerca de 55% da riqueza do mundo, veio do conhecimento”, sendo que o mesmo grandioso autor ainda nos legou ainda no século passado (pasmem), outro parâmetro fundamental ao dizer, “O que pode ser medido, pode ser melhorado”.

Portanto temos que gerar riqueza nas empresas, “medindo”, consumo de energias, emissão de gases, produção de resíduos entre tantos outros indicadores de performance, que hoje claramente compõe qualquer negócio.

Isto é básico.

É mais do que essencial.

Dirão alguns que é óbvio a necessidade de controlarmos os gastos com energia em todas as frentes, especialmente diante da crise estabelecida entre a disputa Rússia X Ucrânia.

Mas na verdade, o que aqui procuramos destacar é que o insumo “energias” é um processo integrado entre todos stakeholders que contribuem num produto final, muito além do consumo de energia tarifado dentro de um estabelecimento ou unidade produtiva.

Sendo assim é uma tarefa extramuros, exigindo uma interação com fornecedores muito mais ampla, projetando adequadamente, interagindo e responsabilizando-se por toda a cadeia produtiva, e não por uma parte do todo.

Podemos tomar como exemplo, uma empresa que no Brasil produz a marca de amaciantes de roupas mais vendida, e que substituiu a embalagem de 2.000 ml por 500 ml, permitindo assim que o consumidor, através de um novo produto (mais concentrado), obtenha o mesmo resultado e eficiência por kg/roupa na lavagem.

Os resultados na linha de produção são incríveis, resultando em 78% de redução de água na produção, entre outras vantagens que envolvem fornecedores (Figura 2), além de resultar num produto mais barato ao consumidor.

Naturalmente que este tipo de decisão partiu de uma visão 360◦ de gestão integrada, onde o envolvimento de todos agentes nesse processo de análise de desenvolvimento do novo produto, exigiu num primeiro momento, “sensibilizar” os atores, afinal não era possível prever os ganhos que poderiam ser obtidos.

Ademais para sensibilizar, é razoável entender que convém transformar esta nova visão de negócios investindo também internamente no cidadão, paralelamente ao funcionário.

O DESAFIO DE SENSIBILIZAR

Uma das estratégias que apresenta bons resultados, é colocar o ser humano frente a frente com a própria realidade no dia a dia familiar, por exemplo.

Sendo assim, educar para sustentabilidade, significa informar ao “cidadão” que 1 kg de arroz enseja no plantio, um consumo de 3.400 litros de água para gerar aquela quantidade de grãos. (Figura 3)

Já imaginaram um pequeno bilhete nos refeitórios das empresas, em cada prato servido?

Esta mensagem migraria das empresas para os lares?

Certamente.

Ou também um adesivo para o funcionário levar para casa, agora transformando-o num agente de cidadania, onde o mesmo colaria na maçã exposta numa fruteira doméstica os dizeres “para produção desta maçã foram utilizados 70 litros de água”.

Imaginem o cuidado milimétrico em cada mordida na saborosa fruta, que geraria nos integrantes do lar?

Esta “educação sustentável” sobre o cuidado com insumos de produção, “retornaria” para empresa?

Claro que sim.

Fica evidente que educar somente a “parte” do ser envolvida com os negócios reduz (muito) o resultado do aprendizado, cabendo a obrigatoriedade de enxergarmos o “ser integral”, que possa também debater na mesa do lar, temas como o impacto na produção de resíduos e consequentemente na redução da fome.

Pois segundo a BBC o chamado “Índice de Desperdício de Alimentos 2021” apresenta um número quase assustador: em 2019, foram 931 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados. Isso sugere que 17% da produção total de alimentos do mundo foram para o lixo.

Portanto separar o funcionário do cidadão é um evidente equívoco na comunicação, como se poderíamos dividir a alma do ser humano em 2 partes através de um serrote.

É compreensível encontrarmos gestores hesitantes buscando dar o primeiro passo, vivendo um ambiente de insegurança diante dessa necessária escolha e titubeando para a inserção de princípios ESG numa organização.

Naturalmente que o caminho mais adequado para inserção desses novos valores, segundo o que se observa nos movimentos de mercado, está na criação de um Departamento específico, ou dependendo do tamanho da empresa, na contratação de uma consultoria.

A comprovar este movimento no Brasil, profissionais com conhecimento para implementar e elaborar estratégias ESG estão sendo disputados por empresas, especialmente no agronegócio.

 Dados da consultoria Michael Page, mostram que a procura por profissionais com experiência nas práticas ambientais, sociais e de governança para atuar em empresas do agronegócio cresceu 50% entre janeiro e maio deste ano de 2022, com salários que chegam até a Euros 9.000,00, que para os padrões brasileiros são excepcionais.

Mas como definir o tamanho desta estrutura inicial?

Cremos que o mais adequado é partir de uma Avaliação Externa/Pressão Ambiente, pois no final das contas são os stakeholders que orientam o cenário dos negócios (Figura 4).

E para tal, as próprias ferramentas internas de conhecimento do negócio, poderão auxiliar decisivamente na tomada de decisão sobre a criação, ou não, de um departamento ESG, iluminando a estrada no rumo certo, em menor tempo e com menor custo.

Contudo vale destacar que conceitualmente ao iniciarem esta jornada, é oportuno também determinar desde o início das atividades, a data de “fechar” as portas do departamento recém-criado.

Loucura?

Claro que não, pois quando a estrutura da empresa tiver absorvido os novos conceitos ESG, a missão estará cumprida restando um acompanhamento menor, que poderá ser efetuado através de atividades repartidas pelos demais departamentos, mantendo um ou outro profissional, se necessário e nada mais.

E para encerrarmos valendo-se do mesmo Drucker, cabe lembrar que “O tomador de decisão eficaz compara o esforço e o risco de ação com o risco de inação.”

Portanto, desejamos para aqueles que nos acompanham, BOAS DECISÕES!