O que é Candidatura consciente e qual a sua importância!

Nos últimos meses tenho tido a maravilhosa oportunidade de trabalhar mais de perto com Recrutamento o que tem me aberto os horizontes em diversas perspetivas sobre o processo em si e sobre a área de RH no geral. Não é algo novo, uma vez que já tive oportunidade de trabalhar com recrutamento nas empresas pelas quais passei anteriormente. Mas sinto algo diferente seja pelo meu nível de maturidade actual, pelas ferramentas disponíveis, pelo estado actual do mercado de emprego, quer seja pelos candidatos com quem vou interagindo.

Em um artigo de Outubro de 2021 dando conta do lançamento do programa governamental Emprega, estimava-se que a taxa de desemprego em Moçambique ronda-se os 17,5% referente aos anos 2019/2020 de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Por outro lado, temos um aumento considerável de número de graduados em todo país, seja pelo aumento de instituições de ensino ou pelo facto de deter nível académico superior ser um dos requisitos básicos atualmente.

Sabemos todos que o direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego é um dos direitos fundamentais da Declaração Universal Dos Direitos Humanos. É o emprego a fonte de rendimento e consequente sustento próprio e do agregado familiar de tantos de nós. Ele também contribui para que tenhamos crescimento pessoal, profissional e social.

Assim, encontramos um cenário em que há uma oferta enorme de mão de obra, mas poucas oportunidades de emprego e as que existem muitas vezes exigem qualificações que vão muito além de um diploma universitário.

Tudo isso contribui para que haja, na minha perspetiva, uma aura de desespero sobre os candidatos. Estamos todos ávidos de encontrar uma oportunidade de emprego, que venha nos satisfazer as necessidades pessoais e profissionais, que acabamos “disparando” em todas as direções.

No meu trabalho recente me deparo com diversas situações que me surpreendem, como candidatos de nível indiscutivelmente sénior se candidatando a vagas de trainees/estagiários, candidatos sem experiencia ou formação em determinada área aplicando a vagas na mesma, só para destacar algumas.

O que vemos é que estas candidaturas são rejeitadas ao longo do processo seletivo e isso vai frustrando os profissionais. Começam estes a questionar a clareza e idoneidade dos processos, duvidar das suas próprias capacidades, se ressentir dos recrutadores ou mesmos das empresas, entre outros.

Outro dia em conversa com um amigo, ele partilhou comigo a insatisfação e tristeza que sentia em relação aos processos seletivos em geral, pois na ótica dele era tudo aleatório ou então a seleção era por “cunhas”. Dizia ele que estava traumatizado com os emails automáticos das empresas que começavam com “We regret do inform…”. Ele lamentava o facto de preencher todos requisitos para as vagas que aplicava e mesmo assim não era chamado sequer para uma entrevista. Em nossa conversa eu pedi que me mostrasse algumas das vagas para juntos analisarmos. Qual não foi a minha surpresa de ver que realmente as competências técnicas estavam lá, adequadas ao perfil dele, ao nível de maturidade profissional, etc. mas… eram vagas para países no estrangeiro, em outros continentes até. Vale destacar que estamos a falar de um profissional de nível técnico com menos de 5 anos de experiencia profissional e tais vagas eram para profissionais nacionais do país em questão. Lhe escapava por exemplo compreender porque motivo uma empresa norte americana poderia não ter interesse em o expatriar.

Em outro caso recente, um colega do ramo compartilhou comigo que estava a recrutar para uma vaga de treinee e recebeu a candidatura de um profissional de nível gerencial. Seguindo o processo em vigor, a candidatura foi rejeitada por motivo de “over qualification” e o sistema fez a notificação automática ao candidato. Dias depois, pelo linkedin o candidato entrou em contato com a empresa a questionar porque motivo ele não havia sido selecionado para entrevistas uma vez que possui qualificações muito superiores ao que estava sendo procurado. Coube ao meu colega conversar com o candidato e explicar que o perfil que ele buscava era júnior por diversos motivos e um profissional com o calibre dele, naquele momento não se enquadrava no plano da sua empresa.

Outra ideia que já ouvi também com amigos e colegas é que para certas empresas devemos nos candidatar para qualquer vaga que a mesma divulgue, pois, o recrutador irá ter acesso aos nosso CV e mesmo que não tenhamos perfil desejado, o recrutador vai “se lembrar” de nós no futuro quando houver uma vaga que se adeque a nós.

É por estas e tantas outras, que vem para mim o conceito de “candidatura consciente”, que nada mais seria do que nós como candidatos pararmos um momento para refletir sobre alguns aspetos antes de nos candidatarmos a certas vagas, sendo que destaco os abaixo:

  • Nossas carreiras e condição financeira e social – qual o estagio actual e qual o nosso ojectivo a curto, médio e longo prazo?
  • Nossas qualificações – temos ou não os requisitos descritos nos anúncios de vagas a que nos candidatamos? O que estamos a fazer ou nos programamos para fazer desenvolver competências, obter certificações, adquirir experiências para estarmos qualificados para as mesmas?

A meu ver, se antes de aplicarmos fizermos estas e outras reflexões associadas, vamos poder focar melhor em vagas que realmente tenhamos chances justas de conseguir progredir no processo seletivo e quem sabe sermos os profissionais selecionados no final. Dessa forma garantimos coerência nos nossos processos de busca de oportunidades e o uso dos nossos recursos (tempo, dinheiro as vezes, etc.) para dedicar a candidaturas com boas ou melhores chances de sucesso.