Recrutamento Ético

Recrutar é hoje, além de uma prática diária, um dos maiores desafios na área de recursos humanos. O facto da mão de obra escassear, da competitividade entre mercados ser crescente, ou das competências técnicas necessárias para preencher determinado perfil serem raras e a conciliação entre a vida familiar e a profissional dos candidatos ser cada vez mais exigente, explicam esta realidade.

Em Portugal, o contexto demográfico constitui-se como uma das principais causas que desafia a relação entre a procura e a oferta de emprego no mercado de trabalho. Se metade dos estrangeiros que chegam a Portugal ficam na capital para trabalhar, por exemplo, nos setores da restauração, do turismo ou da construção, a outra metade distribui-se por todo o país e muitos procuram no setor agrícola uma oportunidade de trabalho.

Na área de produção agrícola, e em funções mais indiferenciadas do ponto de vista dos requisitos técnicos, o processo de recrutamento centra-se muito nas questões da conformidade legal dos candidatos. No entanto, as necessidades de mão de obra neste setor vão desde o trabalhador que constitui a base da operação em funções indiferenciadas, até às equipas de alta especialização técnica, seja nas áreas de produção ou nas funções de suporte.

Quando falamos em recrutamento para a atividade agrícola, o desafio que se coloca às empresas não é apenas o de ter mãos para o trabalho, mas o de garantir a transparência dos processos laborais, a igualdade de direitos e deveres quando comparados com os seus colegas de profissão de origem nacional e um sistema de remuneração que seja justo e atrativo para a sua fixação no território.

No que concerne ao recrutamento de estrangeiros em território nacional, também lidamos com pessoas que se apresentam à porta das empresas a pedir trabalho. Pessoas de quem não é fácil obter resposta à pergunta: “Como chegaste a Portugal?”

Infelizmente, e ao contrário do desejável, muitas vezes o trabalhador chega a Portugal por meio de redes de intermediários e não através do recrutamento direto na origem.

Facto é que muitos destes processos de recrutamento são operados por pessoas de igual nacionalidade de quem emigra. Muitas vezes, as pessoas em busca de uma melhor oportunidade, são vinculadas a empréstimos pesados para sair do país, e estas dívidas, contraídas no país de origem, criam dependências que se prolongam depois da chegada ao país de destino.


Com mais de 100 anos de experiência na produção de pequenos frutos por todo o mundo, a Driscoll’s tem uma longa história de apoio aos seus produtores para assegurar os mais altos standards. Através da colaboração com diferentes entidades governamentais e não governamentais, a Driscoll’s está a desenvolver propostas e programas com o objetivo de melhorar as práticas laborais do setor agrícola.

A convite da OIM Portugal – Organização Internacional das Migrações, em parceria com a AHSA – Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano, e juntamente com outras associações do Setor do Turismo da Região do Algarve e com o IEFP, participámos recentemente nas Missões Internacionais a Marrocos e à Índia. Nestas missões colocámos ao dispor o nosso conhecimento e experiência em Gestão de Recursos Humanos no setor agrícola para, de forma colaborativa, analisarmos as soluções e canais estabelecidos através dos novos acordos de cooperação internacional estabelecidos pelo governo português, com vista a gerar um conjunto de recomendações focadas na implementação de canais seguros de migração laboral.

A nossa participação nestas missões contribuiu para agregarmos um conjunto de informações sobre os sistemas públicos de recrutamento em cada um destes países, Marrocos e Índia, o que nos ajuda a melhor apoiar os nossos produtores na relação com os trabalhadores destas geografias.

Recrutar na origem geralmente acarreta um conjunto de responsabilidades, que começam com a seleção dos candidatos, a solicitação de vistos, o assegurar das viagens de ida e volta ao país de origem, bem como o disponibilizar de habitação associada ao contrato de trabalho.

Todas estas condições representam um investimento considerável, muitas vezes feito pelos produtores, especialmente aqueles que, tendo já alguma dimensão, conseguem ter capacidade financeira para desenvolver projetos próprios de habitação (temporária ou não) e acolher estes trabalhadores.
Contudo, esta não é uma realidade possível de concretizar pela maioria dos produtores e isto é um desafio.

Pequenos passos podem ser dados por toda a indústria no sentido de diminuir riscos, nomeadamente a prática de auditorias sociais à cadeia de entidades envolvidas, incluindo os prestadores de serviços e Empresas de Trabalho Temporário. Este é um trabalho que deve ser desenvolvido de forma colaborativa em todo o setor, com o envolvimento de todos os agentes da cadeia de valor com vista a criar um processo dinâmico e seguro para os trabalhadores que procuram uma oportunidade profissional na agricultura.

Desenvolver sistemas de gestão de subcontratados e escolher canais seguros para as práticas de migração laboral são, sem dúvida, passos importantes do caminho, mas tão importante quanto os sistemas de gestão é também a capacidade de informar e formar o melhor possível os trabalhadores migrantes sobre os serviços locais que lhes permitem a melhor integração social.

Cidadãos informados são menos vulneráveis a riscos externos. No final, o recrutamento ético é a forma pela qual realizamos os processos de recrutamento, assegurando transparência nos processos internos e fazendo a melhor gestão possível, sempre com foco na eliminação de riscos e com vista a assegurar o respeito pelos direitos dos trabalhadores migrantes.