Líder, (pare) caminhe para pensar!

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A pandemia permitiu-me descobrir uma técnica absolutamente poderosa e eficaz de equilíbrio físico e mental, que funciona também como uma alavanca de produtividade.

Caminhar passou a fazer parte da minha rotina de teletrabalho durante a pandemia e nunca mais parei! Comecei esta prática com o intuito de cuidar da minha saúde e rapidamente percebi que poderia encontrar muito mais vantagens nesta ação.

Nestas caminhadas podemos falar com nós próprios e arrumar ideias, algo bastante poderoso.

É minha escolha utilizar as caminhadas maioritariamente para trabalhar, mas há quem o faça precisamente como forma de desligar do trabalho, algo igualmente fantástico.

São caminhadas de 1h a 2h (5km a 10km), sempre que possível duas vezes por semana, em que me desafio a sair de casa com um problema e voltar só quando tiver uma solução. E digo-vos que quase sempre entro em casa com mais confiança e mais respostas do que quando saí. Por vezes ainda sem certezas do que vou fazer, mas na maior parte dos casos, com certezas do que não devo fazer, o que é um grande passo rumo à solução.

Gosto por exemplo de reunir alguns telefonemas (equipa, parceiros, etc.) para fazer enquanto vou caminhar e prefiro caminhar junto à minha hora de almoço para melhor aproveitamento do tempo.

Há vários estudos científicos que apontam os benefícios de andar e a Speaker Nilofer Merchant fala-nos disso no seu pitch para o TED (fevereiro 2023): “Got a meeting? Take a walk!”.

Criatividade a “caminhar” nas veias!

Como líder, parte do nosso trabalho passa por encontrar/criar soluções, pensar de forma ponderada sobre os temas, mas ao mesmo tempo fazê-lo de forma disruptiva, e claro, tomar decisões que impactam a vida de pessoas.

Caminhar, estimula de forma significativa uma competência que considero ter bem desenvolvida, a criatividade. Apesar desta ser uma competência (talvez) inata em mim, sinto que por vezes acaba por se “encolher” quando o stress se apodera do meu dia de trabalho, onde assumo que a rapidez de resposta é tão ou mais importante que a qualidade da entrega. Como reza a lenda, por vezes “o ótimo é inimigo do bom”.

Mas será que tem mesmo de ser assim? Ou melhor, será que deve ser assim com todo o tipo de temas e de decisões?

E vocês, já sentiram que estão a tomar decisões em piloto automático? Que só querem o assunto resolvido e o resto depois logo se vê?

Eu esforço-me por não ser assim, ou melhor, sinto que não consigo ser assim. Não consigo deixar de pensar que tudo o que faço terá consequências e esse peso obriga-me a planear, refletir, ponderar, mas também a ouvir os outros, a partilhar e a querer a melhor solução (possível), sempre.

Pois bem, a rotina por vezes não nos permite esses luxos e confesso que antes da pandemia (onde utilizava um formato maioritariamente presencial) e de iniciar a prática de caminhar, acabava por trabalhar muito mais horas, pois precisava do “fora de horas” para me equilibrar, para encontrar o silêncio, para ter o meu espaço para pensar, refletir e tomar decisões. Muitas vezes, era no trânsito que encontrava esse espaço. Se funcionava? Sim. Mas de forma muito menos eficiente e saudável do que atualmente.

Vejamos estes exemplos: o carro era mais perigoso (concentração ao volante); fisicamente não era positivo, pois estava sentado como no escritório, não permitindo os enormes benefícios físicos de uma longa caminhada; O ar poluído do trânsito não é comparável com o ar puro do local maravilhoso onde vivo e caminho, Azeitão.

Ao longo da caminhada ou quando chego a casa, registo as principais conclusões dos meus pensamentos. É incrível como a maioria das vezes as ideias estão bem estruturadas e prontas a serem comunicadas/partilhadas. Acredito que esta eficiência e eficácia são fruto da oportunidade de fugir às distrações que atualmente encontramos nesta máquina de onde vos escrevo. São inúmeros os estímulos que recebemos a toda a hora e que nos consomem totalmente.

A minha forma predileta de registar informação nas caminhadas é através da gravação de áudios, que habitualmente recupero mais tarde quando preciso de voltar ao tema. Desta forma consigo voltar ao ponto em que parei, retomando ideias que por vezes deixamos escapar entre os milhares de assuntos em que pensamos dia após dia. Considero ainda que as mensagens de voz são uma ferramenta poderosa de comunicação assíncrona (escreverei em breve sobre isto).

O que os líderes podem aprender com o futebol?

Por falar em bem-estar físico, o futebol é uma das minhas paixões, tendo sido jogador de futebol federado durante 13 anos. Gosto de utilizar o futebol como exemplo de muito do que podemos encontrar no mundo corporativo e é isso que farei nas próximas linhas.

Enquanto líderes, acredito que devemos sempre dividir muito bem as diferentes tarefas e responsabilidades que temos. Por vezes, podemos e devemos assumir um papel mais operacional e arregaçar as mangas e executar, mas, na esmagadora maioria das vezes não é isso que as nossas pessoas esperam de nós.

Nenhum jogador quer que o treinador corra por ele ou que marque o penalti por ele. O que realmente quer é orientação, quer que o treinador o prepare para os momentos decisivos, quer soluções para poder fazer mais e ser melhor. Indo mais longe, como poderemos ser o treinador se estivermos tão cansados como os nossos jogadores? Tão assoberbados na tarefa que não conseguimos pensar em que substituição teremos de fazer, em pensar no reajuste tático que poderemos fazer para desmontar a estratégia do adversário e ganhar o jogo? Como posso motivar aquele jogador que parece que está num dia não? Com estes exemplos, talvez pareça mais evidente que não é compatível.

Um conselho que deixo a todos os líderes é que possam parar o que estão a fazer para se dedicarem a pensar. Mas como o bem-estar físico, social e mental é essencial, e vejo uma oportunidade de otimizar em tudo, em vez de “apenas” parar, desafio-vos a caminhar para pensar!

É isso que caminhar nos permite fazer, parar o que estamos a fazer para pensar. Levantar a cabeça e tirar os olhos do ecrã do computador. Sair do terreno de jogo onde tudo está a acontecer a uma velocidade estonteante e os nervos à flor da pele e ver o jogo de fora, de diferentes ângulos. Com uma respiração baixa, relaxados, podemos simular diferentes abordagens e projetar o seu impacto em todos os intervenientes e no resultado esperado de cada jogada e do jogo como um todo, medindo os prós e os contras de cada tomada de decisão.

Acredito que caminhar permite aos líderes, encontrarem um espaço em que podem utilizar positivamente a solidão que caracteriza este papel. Muitas vezes estamos sós, mas rodeados de pessoas, ou até, estamos sós quando muitos falam connosco. A caminhar, podemos estar verdadeiramente sós, com nós próprios. Escutarmo-nos a nós próprios, refletirmos sobre o que os outros nos disseram sem ter de pensar se estaremos a fazer a cara certa e a exercer as técnicas de escuta ativa e de empatia que devíamos. Podemos até desabafar em voz alta, podemos treinar o que queremos dizer aos outros e ver como nos soa e se precisamos de aperfeiçoar algo na nossa comunicação.

A caminhar somos só nós e os nossos pensamentos, a encontrar o equilíbrio necessário para tomar decisões ponderadas! Se vamos errar? Claro que vamos! A toda a hora! Somos humanos! Mas estaremos mais bem preparados para explicar as razões das nossas decisões, a nós próprios e aos outros, principalmente aos que acreditam em nós e nos acompanham nesta jornada!