As Armadilhas do Ego e da Comunicação: Reflexões para Líderes em Tempos Desafiadores

A liderança é, acima de tudo, uma jornada de aprendizado constante. Uma das lições mais valiosas que os anos me trouxeram é que comunicar-se bem vai muito além de ter algo relevante a dizer — trata-se de saber “como” e “quando” falar. Essa habilidade se desenvolve com a experiência, com os erros e acertos ao longo da carreira, e talvez seja uma das mais difíceis de dominar. Nos meus 40 anos, esse entendimento se tornou ainda mais claro. Quando mais jovem, era comum expressar-me sem filtro, deixando que o ego dominasse a minha comunicação, falando de maneira impulsiva, sem considerar o impacto das minhas palavras. Hoje, a experiência me ensinou que, se o ego for deixado sem controle, ele pode ser o maior inimigo da boa liderança.

O ego é enganador. Ele faz com que sintamos a necessidade de sermos ouvidos a qualquer custo, nos empurrando a expressar nossas opiniões sem pensar nas consequências. No entanto, quanto mais alta é a posição que ocupamos, maior é a nossa responsabilidade, e, ironicamente, maior a necessidade de moderação. Liderar não é falar para ser o mais forte ou para ter a última palavra, mas para guiar, inspirar e construir. Isso envolve compreender que o poder das palavras pode ser tanto construtivo quanto destrutivo.

Em ambientes corporativos, o impacto de uma comunicação impensada é amplificado. Seja em uma reunião de equipe, durante uma negociação ou em uma simples conversa informal, a forma como nos comunicamos tem o poder de moldar percepções, influenciar decisões e até definir o curso de projetos inteiros. A comunicação é uma ferramenta de gestão poderosa, mas, quando usada de maneira inadequada, pode minar anos de trabalho árduo e abalar a confiança de uma equipe.

Uma palavra dita de maneira errada pode gerar desentendimentos, comprometer a execução de um plano estratégico e até arruinar relacionamentos pessoais e profissionais.

Uma lição que aprendi é que a comunicação assertiva, que equilibra clareza e empatia, é essencial para manter a confiança e o respeito. Essa assertividade, no entanto, não significa falar o que se pensa de maneira direta e abrupta, mas sim saber como adaptar a mensagem ao público e ao contexto. E isso, por sua vez, exige uma boa dose de autoconhecimento e autocontrole — virtudes que vêm com a maturidade. Conforme avançamos na vida, adquirimos um novo tipo de filtro, uma habilidade refinada para pausar antes de falar, para avaliar como nossas palavras podem ser interpretadas e que efeitos elas podem ter a longo prazo.

Infelizmente, nem todos conseguem desenvolver essa capacidade. Existe uma parcela de líderes e profissionais que vivem presos a uma mentalidade de imaturidade, repetindo comportamentos impensados e permitindo que o ego fale mais alto. Eles vivem em uma espécie de “síndrome de Peter Pan,” em que o tempo passa, mas o amadurecimento emocional não acompanha. Esses líderes falham em perceber que, quanto mais avançamos em nossa carreira, mais cautelosos precisamos ser na forma como nos comunicamos.

Além disso, o cenário atual — marcado pela cultura do cancelamento — nos lembra que, mais do que nunca, precisamos ser cuidadosos com nossas palavras. Na era das redes sociais, onde tudo pode ser compartilhado e distorcido, uma comunicação impensada pode não só prejudicar a reputação de um líder, como também arruinar carreiras inteiras. O ego, se não controlado, pode nos levar a respostas imediatas, a “reagir” em vez de “responder”, e isso coloca qualquer líder em uma posição vulnerável. Saber dominar esse impulso é uma habilidade essencial para qualquer pessoa em posição de poder ou influência.

Numa dessas minhas experiências de vida, aprendi uma lição simples e poderosa com os portugueses: “durma sobre o assunto”. O ato de refletir antes de reagir tem um poder imenso, que traz clareza e serenidade. Quando nos damos o tempo para pensar antes de agir ou falar, evitamos decisões e palavras impulsivas, que muitas vezes trazem arrependimentos. Essa pausa, esse tempo para respirar e ponderar, é uma ferramenta valiosa para qualquer líder que queira evitar cair nas armadilhas do ego.

As evidências sobre a importância da comunicação assertiva são amplas e bem documentadas. Um estudo publicado pela Journal of Leadership Studies revelou que líderes que conseguem equilibrar clareza e empatia em sua comunicação têm um impacto significativamente maior no engajamento de suas equipes e na retenção de talentos. Esses líderes são vistos como mais confiáveis, e sua capacidade de construir e manter relacionamentos sólidos torna suas decisões mais respeitadas e aceitas.

Esse estudo nos mostra que a comunicação não é apenas uma questão de transmitir informações, mas de como criamos percepções e influenciamos atitudes ao nosso redor.

Para líderes de todos os níveis, a mensagem é clara: comunicação eficaz não é apenas uma habilidade técnica; é uma questão de inteligência emocional. Filtrar o ego, desenvolver a capacidade de ouvir, saber quando calar e quando falar — todas essas são competências que, quando bem desenvolvidas, não apenas previnem problemas, mas constroem legados. A forma como nos comunicamos é o que define o impacto duradouro que deixamos, tanto em nossa carreira quanto em nossas relações pessoais.

Seja no ambiente corporativo, em um círculo de líderes ou na vida pessoal, lembre-se de que as palavras têm peso. Elas podem construir ou destruir, abrir portas ou fechar caminhos. E, acima de tudo, lembre-se de que o ego, quando não controlado, pode ser o maior obstáculo para uma comunicação eficaz. Saber quando calar, quando refletir e como falar de maneira estratégica e ponderada são habilidades essenciais para qualquer líder que busca não apenas resultados, mas também respeito e longevidade na carreira.