Ligue o sinal de alerta
As Redes Sociais e o Mercado de Trabalho
Muitos anos atrás quando a gente pensava em redes sociais, de alguma forma, isso tinha a ver com um grupo de pessoas juntas em um determinado lugar. A partir do surgimento da rede mundial de computadores, a coisa mudou de figura e ao presencial juntou-se o ambiente online, dando origem às redes sociais virtuais.
Atualmente, parece que é tudo uma coisa só, pois em muitos lugares do mundo já não se separa o online do offline – neste momento de isolamento social, a coisa ficou ainda mais forte. Gradualmente, parecendo que sem perceber o passar do tempo, essa mescla quase indissociável, está enraizada em nós – e a força das redes sociais virtuais (daqui para frente chamaremos apenas de “redes sociais”), é um caminho sem volta.
As redes sociais são ricas fontes de informações para as empresas em busca de talentos.
Por que? Porque lá a gente compartilha de tudo por livre e espontânea vontade: interesses, hábitos, desejos, opiniões, relacionamentos, comportamentos, no que acreditamos, como pensamos, etc.
De acordo com o relatório Global Digital Statshot 2020, no Brasil, somos 211,8 milhões, sendo 150,4 milhões de usuários de internet e 140 milhões nas redes sociais. O Brasil é o sexto país onde as pessoas mais passam tempo na internet através do celular: 04:41 horas em média por dia (perdendo para Indonésia, Colômbia, Nigéria, Tailândia e Filipinas – que estão no topo da lista). E são 03:31 horas só nas redes sociais.
Processos seletivos que buscam seus candidatos via redes sociais já eram uma máxima, entre outras razões, pelas palavras dos parágrafos anteriores. As consequências do COVID19 e o novo normal, potencializarão a tendência. É certo dizer que devemos ficar em alerta sobre o papel que as redes sociais e a tecnologia vão ganhar neste contexto (cuide da sua rede!). Embora não vá ser uma grande novidade (porque muito já acontecia), a velocidade das transformações pode surpreender a alguns.
Então, não se assuste com empresas fazendo processos seletivos 100% online. Esteja preparado para coisas que pareciam acontecer só em filmes (vejamos mais a frente). Sendo possível que você participe de um processo seletivo em breve, e se depare com algumas coisas, vamos ver o que já estão acontecendo por aí. É momento de adaptação.
Recrutamento e Seleção Online
Com a necessidade de afastamento social, mais e mais empresas adotarão ao recrutamento e seleção (R&S) online. Para nosso esclarecimento:
- Recrutamento refere-se às ações realizadas pelo RH para identificar e atrair possíveis candidatos.
- Seleção refere-se às ações que o RH cumpre para ajudar a organização a escolher o melhor candidato possível dentre aqueles recrutados, buscando maximizar acertos e minimizar erros.
Na atual guerra por talentos, com uma luta constante pela pessoa mais bem capacitada, ações eficientes nestes temas trazem aqueles com melhor desempenho e que geram os melhores resultados para as organizações.
Dito isso, no novo normal, o recrutamento e a seleção online vão se beneficiar dos recursos advindos da tecnologia para entregar resultados. E as empresas olharão ainda mais para as redes sociais.
Antes de tudo que estamos vivendo ocorrer, você imaginaria participar de um processo de R&S onde não há nenhum contato direto com outra pessoa? A empresa te acha na rede social, você passa por todas as etapas, e preenche a vaga. E o que pareceria algo impensável, está virando realidade. Você até vai ver alguém por vídeo, falar ao telefone, ou trocar email com outra pessoa. Mas, receber ou entregar crachá de identificação na recepção, saborear o cafezinho enquanto espera ser chamado para a entrevista, aquele aperto de mão ou um desejo de boa sorte olho no olho…
Nos últimos meses as empresas tiveram que se adaptar, para algumas foi quase uma metamorfose completa. Quem ainda não tinha iniciado, correu para fazer uma transformação digital – uma revolução, talvez.
Neste novo cenário teremos ainda mais coisas acontecendo de forma virtual. Tudo (ou pelo menos muita coisa) sem contato entre as pessoas. Em alguns casos, elas estarão do “outro lado” da ferramenta digital que está sendo usada para se comunicar com você – porém, pode ser que às vezes nem isso. Não se assuste. Adapte-se.
Dá uma olhada no que está vindo por aí (possivelmente, mais rápido do que o ritmo até 2020).
Uso da Inteligência Artificial
O The Future of Job Reports (Relatório Futuro do Emprego) de 2018, relatório do Fórum Econômico Mundial que discute o futuro do trabalho no espaço de tempo entre 2018 e 2022, apresentou dados importantes sobre a tendência de utilização da inteligência artificial (IA) e robôs no mercado de trabalho.
- Aproximadamente 37% das empresas pretendem adotar robôs em suas operações.
- Em 2018, 71% das tarefas das empresas participantes do relatório eram feitas por humanos e 29% por máquinas. E espera-se que em 2022 essa proporção mude para 58% das tarefas sendo feitas por humanos e 42 por máquinas.
De forma fácil, podemos entender a inteligência artificial como sendo o uso de computadores ou robôs (não no formato que sua imaginação possa estar trazendo à sua cabeça) para viabilizar análise de dados de forma rápida e fácil, que permite uma decisão mais precisa. Isso porque as máquinas são muito melhores que os humanos neste tipo de atividade.
Em grande maioria, o trabalho do RH é operacional e custoso. A tecnologia, em especial a inteligência artificial, está aí para melhorar esta conjuntura!
As plataformas especializadas, por meio da análise de dados, permitirão (já estão permitindo) que os candidatos com os perfis mais adequados cheguem às vagas certas – será toda uma trilha que vai passar da captação e filtro de currículos, aplicação e correção de testes, até chegar nas entrevistas e tomada de decisão.
A automação dos processos deixa a tomada de decisões mais inteligentes – como, por exemplo, os softwares de reconhecimento facial que captam nossas expressões melhor que qualquer especialista em PNL (Programação Neurolinguística). Ou ainda algoritmos para avaliar a reação em situações de simulação (estresse) – essas máquinas conseguem perceber se a pessoa realmente reagiria desta forma em um caso real.
Nos processos de seleção, há também as aplicações de IA que servem de assistentes virtuais. Elas ajudam os candidatos com as dúvidas que possam ter, respondendo perguntas que são feitas frequentemente (você vai só achar que está falando com outra pessoa) – liberando o profissional de RH para um papel mais estratégico dentro da organização.
Por essas e outras melhorias, além do mundo pós COVID19, é que veremos um aumento progressivo do uso da tecnologia nos processos de R&S, fazendo com que eles sejam mais online, mais virtuais e com mais IA.
Um ponto a ressaltar. Embora, muitos vejam isso como uma ameaça ao recrutador, a verdade é que seu papel será muito mais multi e interdisciplinar no futuro próximo, já que a máquina fará boa parte do trabalho operacional. Sei que ainda há muita discussão neste tema, e concordo que sejam feitas. Contudo não acredito que haja outro caminho. Mais uma vez, reforço: adaptação.
Voltando ao papel da IA, ela também vai auxiliar trazendo maior padronização e objetividade nos processos – atuando na redução do impacto dos preconceitos e vieses que fazem parte da natureza humana. Por mais que estejamos conscientes e queiramos eliminar estes fatores durante um processo de seleção (ou qualquer outro processo de julgamento), essa é uma tarefa muito mais fácil para a máquina do que para a gente.
Este fator, eliminar preconceitos e vieses durante o processo de seleção, é uma das principais justificativas para o uso da IA no RH. Mas será que ela, realmente, vai conseguir?
IA preconceituosa?
Nós somos dotados de vieses e preconceitos. Processos seletivos, são sempre influenciados por eles (por mais que alguns de nós acredite ser 100% imparcial). Muitos acham que a tecnologia e a inteligência artificial, podem contribuir para essa isenção – contudo, parece que a coisa não está saindo como imaginado.
Será que a inteligência artificial poderia ser considerada machista? Por exemplo, a Amazon criou um programa de recrutamento e seleção que, segundo as mulheres da empresa, tinha tendência machista . Mas como? A inteligência artificial foi desenvolvida a partir de uma base de dados formadas pelos currículos recebidos outrora pela empresa; que em sua maioria eram de homens. – o que já foi revisto pela empresa.
Um estudo publicado pela revista The Science revelou que por mais que a capacidade da IA de aprender sozinha a faz aprender o sentido mais usado das palavras e coisas. Com isso, o estudo revelou um certo machismo e racismo. Há também o caso da Tay, a chatterbot que a Microsoft colocou dentro do Twitter e um tempo depois teve que tirá-la de lá devido ao que ela se tornou – um reflexo do conteúdo da rede (e isso não estava se tornando algo legal, já que ela absorveu racismo, defesa ao nazismo e propagava polêmicas variadas).
Há o outro lado da moeda, para que se possa tirar o melhor da IA. O pesquisador americano Anupam Datta (Universidade de Carnegie Mello, EUA) desenvolveu algo que confunde a IA e permite identificar se ela está sendo preconceituosa ou não, corrigindo a parcialidade do sistema, que foi montado/desenvolvido com o nosso modelo mental de falsa imparcialidade.
Como tudo na vida, a tecnologia e seus avanços trazem pontos positivos e negativos. Assim como o mundo que está demandando de nós, com as adaptações que estamos tendo que fazer agora e depois, no mundo pós pandemia. Muita gente vai (já está) reclamar das mudanças que estão acontecendo. Este texto não vem para fazer você reclamar mais ou menos – concordar mais ou menos. Ele vem para acender uma luz de alerta, especialmente se nada ainda estava no seu radar. É hora de usarmos uma das principais capacidades do ser humano para sobreviver ao novo normal: a capacidade de ADAPTAÇÃO! Esteja preparado!
Sobre o autor:
RODRIGO MONTEIRO
ESPECIALISTA EM GESTÃO DE PESSOAS
Formado em Administração (UFRRJ), Pós-graduado em Gestão Estratégica de Pessoas (UNESA), MBA em Gestão Empresarial (FGV), Mestre em Administração e Desenvolvimento Empresarial (UNESA), Certificado em Liderança em Tempos Turbulentos pela Universidade de OHIO (EUA).
Mais de 15 anos de atuação em gestão de pessoas no setor de tecnologia.
Gerente de Recursos Humanos para America Latina na Orange Business Services (multinacional no setor de telecomunicações). Dale Carnegie Training Course. TEDx Speaker. Palestrante. Professor de MBA e Pós Graduação.