A digitalização pode ser a chave para mitigar o burnout em teletrabalho

A síndrome do burnout sempre foi uma preocupação dos departamentos de Recursos Humanos – e ganhou uma nova dimensão no último ano, com a crescente adesão ao teletrabalho. De facto, o trabalho remoto comporta a sensação de que é necessário estar sempre online (em “telepresença”) e ter disponibilidade a qualquer hora do dia – o que pode contribuir para o aumento das situações de stressprovocadas pela atividade profissional.

Segundo dados de 2020, Portugal é o país europeu com maior incidência de casos de burnout, em parte devido às longas semanas de trabalho. As mudanças provocadas pela pandemia não têm contribuído para amenizar estes números: um estudo recente indica que 25% dos inquiridos apresenta sintomas de ansiedade, depressão e stress. No caso dos profissionais de saúde, sem surpresa, o valor é bastante superior: 43% apresenta níveis elevados de burnout.

“Telepresença”: um mal que devemos cortar pela raiz

O stress associado ao trabalho é um problema persistente no nosso país, mas as empresas podem contribuir para o mitigar – seja qual for o setor em que operam. Num contexto de trabalho remoto ou híbrido, é importante ter em conta que, tal como a presença analógica prejudica a produtividade real, também a conexão constante e a disponibilidade 24/7 podem rapidamente levar ao desenvolvimento de um quadro de exaustão nos colaboradores.

Assim sendo, é imperativo que os profissionais de Recursos Humanos comecem a recorrer a novas estratégias para evitar a sensação de fadiga digital dos colaboradores, e ao mesmo tempo promover um bom desempenho e ambiente de trabalho. No contexto atual, essas estratégias devem ser aplicáveis tanto em regime de presença como à distância; e felizmente é possível. Embora pareça paradoxal, a digitalização é muito útil neste processo, podendo mesmo ser a chave para combater a sensação de “telepresença” e, assim, minimizar a proliferação de casos de burnout.

Avaliar em consciência, comunicar e conciliar diferentes horários

É fundamental adotar novos processos de avaliação de desempenho, com base em KPIs e não no número de horas em que o colaborador está online. A produtividade deve ser avaliada segundo a definição de objetivos estratégicos claros e prazos concretos. A presença online constante não deve ser considerada um indicador de desempenho.

O segredo também está na comunicação interna: implementar canais informais, onde os colaboradores possam partilhar preocupações, dificuldades e soluções, ajuda a reduzir a sensação de solidão e a promover a colaboração entre os membros da equipa, que muitas vezes partilham os mesmos problemas.

Para mitigar os efeitos da sensação de disponibilidade 24/7, os departamentos de RH podem também permitir que cada colaborador concilie diferentes horários, de acordo com o seu contexto individual. Também aqui a digitalização revela ser a aliada certa: os softwares de gestão de RH à distância permitem definir diferentes horários, turnos e sistemas de rotatividade, contribuindo para uma melhor consecução dos objetivos.

Graças a estas ferramentas e estratégias, é possível estabelecer dinâmicas que conciliam o trabalho e a vida privada, reduzem a sensação de telepresença, combatem o isolamento. Em última instância, tal trará mais satisfação, motivação e produtividade.

Efetivamente, com o progresso da digitalização dos RH e a adoção de políticas organizacionais marcadas pelo “direito a desligar”, os profissionais da área podem contribuir de forma muito significativa para a diminuição das situações de exaustão e burnout nas organizações – quer em presença, quer em teletrabalho.