A dimensão abrangente da administração em saúde

Na gestão do setor saúde, parece que, intuitivamente, se estabelece uma dicotomia entre o que se chama de medicina preventiva, social, comunitária ou saúde pública e o que representa administração dos serviços de saúde. Já seja por interesses de reserva de mercado de trabalho; por razões ideológicas ou por pura incompreensão do que seja gestão de serviços de saúde, sempre paira no ar uma desconfiança de que “administrar” seja um verbo inadequado para ser conjugado relativamente à saúde. Diz-se que administrar é algo relacionado com empresas privadas e que não teria relação com a saúde. Que não se pode pensar em eficiência quando se fala em saúde porque esta é um bem maior que não pode ser quantificado em termos de dinheiro, produtividade ou racionalidade. Todos os recursos devem estar sempre disponíveis para a saúde “porque saúde não tem preço! ”

Sabe-se que a saúde de um indivíduo não tem preço, mas pode custar muito caro e que os recursos, individuais ou coletivos, são sempre escassos para fazer frente às despesas que a recuperação da saúde possa requerer. Portanto, é preciso que os agentes envolvidos nesta equação, de fornecer saúde ao indivíduo ou ao grupo de indivíduos, tenham bem presente a importância de preocupar-se com os custos deste fornecimento, para que ele possa ser estendido ao maior número possível de pessoas que dele necessitem. E que quando se fala em medicina preventiva, social, comunitária ou saúde pública se esteja falando também em otimizar o uso dos recursos escassos disponíveis para a saúde, de modo que um número maior de pessoas tenha acesso aos serviços de maneira equitativa, integral e universal para fazer frente aos agravos de maior parte da população. E que, portanto, se está falando de administrar bem os recursos disponíveis de maneira que eles sejam usados eficiente, eficaz e efetivamente. Que a função do gestor neste contexto (seja ele chamado de administrador de saúde, sanitarista, “preventivista”, médico social ou comunitário) é fazer com que os recursos que lhe forem colocados à disposição deem o maior retorno possível em termos de benefícios à saúde da população. A isto se chama administrar.

As faculdades de saúde pública das universidades mais famosas do mundo há muito já se convenceram destas verdades e passaram a incorporar em seus currículos conteúdos de disciplinas que preparam seus alunos para fazer frente aos desafios que a moderna gestão dos serviços de saúde impõe. Estes desafios demandam gestores que saibam enfrentar desafios ligados à: liderança organizacional; estatística; epidemiologia; sociologia; antropologia; demografia; mercadologia; contabilidade e finanças; planejamento estratégico e operacional; gestão de pessoas; gestão de processos e outros. Desafios que estão relacionados com a gestão de recursos humanos, financeiros, materiais e organizacionais que serão colocados nas mãos dos gestores e que estes deverão saber o que fazer com eles; ter uma proposta gerencial concreta (e não apenas reacional) quanto ao uso destes recursos e prestar contas de suas ações a quem de direito público ou privado. Não há escapatória; estes são os fatos puros e simples como estão colocados sobre a mesa da realidade.

O que se pretende com este artigo é exatamente sinalizar a necessidade dessa aproximação de conteúdos e integralização do conhecimento para fazer frente aos desafios da saúde em qualquer mercado.

Espera-se que a junção simbólica dos dois conceitos sinalize aos observadores a necessidade do entendimento desta dimensão abrangente da administração em saúde. O que se pretende é contribuir com o setor saúde mediante a disseminação destes conceitos e a mensagem é no sentido de estimular a reflexão sobre as reais necessidades e prioridades na área da saúde. Estes objetivos específicos se materializam na disseminação de uma forma concreta de se fazer administração, abordando os aspectos principais da ação de um gestor de saúde: a liderança; o planejamento; a relação com clientes; a relação com a sociedade; a gestão das informações; a gestão das pessoas; a gestão dos processos; e a análise dos resultados. Estas ações serão necessárias seja na administração de um hospital de pequeno, médio ou grande porte; da cidade grande ou das pequenas comunidades; públicos ou privados; de centros de saúde, unidades básicas, planos e operadoras de saúde; unidades dos núcleos centrais, locais, ou mesmo, nacionais.