Coaching na visão de Maria Duarte Bello

Cristina Cruz, CEO da Comunicarh, entrevistou Maria Duarte Bello, CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem. A entrevista aborda aspectos da sua experiência na área do coaching, as diversas áreas de atuação de um profissional de coaching e o impacto no profissional e nas empresas.

Sua experiência com Coaching é bastante vasta. Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional. Por que você decidiu trabalhar com coaching?

Comecei a minha carreira como advogada e professora no ensino superior. O contacto próximo com os alunos levou-me desde cedo a orientá-los e a ajudá-los nas suas escolhas profissionais. Ao mesmo tempo, criava a minha empresa em consultoria de comunicação e a experiência como formadora nas áreas do desenvolvimento humano e treino profissional foi-se aprofundando. A minha passagem para o coaching foi muito natural. Começou a partir do desejo de ajudar as pessoas a superar desafios e a alcançar o seu potencial máximo, o que despertou o meu interesse em trabalhar diretamente com indivíduos e equipas na criação de mudanças positivas.
A decisão de me tornar coach veio quando percebi o impacto transformador que as conversas estruturadas e direcionadas podem ter. A possibilidade de ajudar pessoas a identificar objetivos, desbloquear crenças limitantes e a construir planos de ação concretos motivou-me a procurar certificações reconhecidas e a especializar-me em várias vertentes. Desde então, tenho trabalhado com empresas, líderes e particulares, guiando-os no seu crescimento.

Qual é o foco do seu trabalho neste momento?

Atualmente, o meu foco está em combinar o desenvolvimento pessoal e profissional com estratégias práticas que geram resultados sustentáveis. Trabalho com coaching executivo, apoio líderes e gestores a desenvolver as habilidades de liderança, inteligência emocional e resiliência, entre outras. O team coaching ou coaching de equipas, onde facilito dinâmicas que promovem coesão, colaboração e alinhamento de objetivos em grupos. E muito frequentemente, o coaching de carreira denominado também career coaching onde ajudo os clientes a planear transições profissionais, descobrir vocações e aprimorar as suas competências para o mercado. O meu objetivo é oferecer sempre uma abordagem personalizada, ajustada às necessidades únicas de cada cliente ou organização.

O conceito de coaching tende a sofrer algumas distorções. Como define o coaching. Quais as principais características?

O coaching é um processo estruturado de desenvolvimento que ajuda indivíduos ou equipas a alcançar metas específicas, promovendo o autoconhecimento, clareza e ações direcionadas. Baseia-se num relacionamento colaborativo entre coach e cliente, no qual o coach utiliza perguntas poderosas, ferramentas e técnicas para facilitar insights e mudanças. As principais características são o foco no futuro em que o coaching é orientado para metas e resultados, diferente de terapias que podem explorar traumas ou o passado; que seja uma parceria colaborativa em que o coach não dá respostas, mas guia o cliente a encontrar soluções por conta própria. Deve ser estruturado e mensurável, pois envolve etapas claras e indicadores de progresso e é ainda pleno de autonomia porque o cliente sente confiança e apoio para tomar decisões e implementar mudanças.
Embora o conceito seja frequentemente mal interpretado, é importante reforçar que o coaching não é consultoria nem terapia, mas uma ferramenta específica para o desenvolvimento.

Há alguns anos, o coaching era maioritariamente aplicado em empresas e para executivos.

De facto, o coaching teve as suas raízes amplamente aplicadas no ambiente corporativo, especialmente entre líderes e executivos. Surge como uma forma de desenvolver competências de liderança, melhorar a tomada de decisão e aumentar a performance organizacional. Nos últimos anos, a abordagem expandiu-se para alcançar não apenas líderes, mas também equipas, promovendo uma cultura de alta performance nas organizações. Embora continue sendo um pilar essencial no mundo empresarial, o coaching hoje diversificou-se para atender uma variedade de necessidades e contextos.

Atualmente, a aplicação de coaching se expandiu para outras áreas como coaching para pais & mães, coaching de transformação, coaching de estilo de vida, carreira etc. Como você vê essas áreas do coaching?

A expansão do coaching para novas áreas é extremamente positiva e reflete a flexibilidade e a eficácia dessa prática em diversos aspectos da vida. Estas novas modalidades facilitam, pois permitem aos clientes entender melhor a abordagem e a atenderem necessidades específicas. Todas estas áreas ampliaram o impacto do coaching, tornando-o mais acessível e relevante para diferentes públicos. Ou seja, reforça a noção de que o coaching não é um “produto único”, mas sim uma abordagem que pode ser adaptada aos mais variados desafios. Ao mesmo tempo, exige coaches capacitados e especializados, capazes de atuar com ética e competência em cada uma das vertentes. Independentemente das áreas a que se dirija, coaching é sempre coaching, quero reforçar esta ideia, pois o processo não se altera conforme a área que se trabalha.

O Processo de coaching é mais utilizado pelas empresas ou por particulares?

O coaching é amplamente utilizado tanto por empresas quanto por particulares, mas a forma de utilização varia. As empresas contratam o coaching geralmente para desenvolvimento de liderança, melhoria no desempenho das equipas, gestão de mudanças ou apoio nas transições de carreira. Por sua vez, os particulares procuram o coaching para questões pessoais como autodesenvolvimento, definição de metas, transição de carreira ou melhoria do equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
No contexto atual, o uso nas empresas tende a ser mais estruturado e abrangente, enquanto entre os particulares, a procura está mais relacionada às necessidades individuais.

No caso dos particulares, o que mais se procura num processo de coaching?

Os particulares costumam procurar o coaching para alcançar metas específicas, superar desafios ou promover mudanças nas áreas importantes das suas vidas. Os pedidos mais comuns incluem a transição na carreira, como por exemplo, o planeamento de uma nova etapa profissional; o autoconhecimento com o fim de identificar pontos fortes, fraquezas e alinhar objetivos pessoais; a gestão de tempo e produtividade, tendo em conta uma melhor organização e redução do stress; e ainda os relacionamentos, para construir habilidades interpessoais e comunicação ou o equilíbrio da vida familiar e profissional.

E nas organizações, de que forma uma empresa identifica quais colaboradores ou equipas que necessitam de coaching? E que vantagens o coaching pode trazer aos profissionais, equipas e as empresas?

Normalmente, as formas mais frequentes pelas quais as empresas identificam colaboradores ou equipas que necessitam de coaching são pelas avaliações de desempenho, onde identificam lacunas ou áreas de melhoria e pelo feedback das lideranças, onde as chefias indicam quem pode beneficiar. Outro factor é quando existem mudanças organizacionais, em que o coaching se revela essencial para apoiar adaptações nas reestruturações ou novas estratégias.
Para os profissionais, a maior procura é o desenvolvimento das habilidades de liderança, comunicação e resiliência.
Para as equipas, a melhoria na colaboração, resolução de conflitos e foco nos objetivos comuns.
Para as empresas, uma maior produtividade, compromisso dos colaboradores e retenção de talentos.

O que seria um cliente desafiador na sua opinião?

Um cliente desafiador é aquele que apresenta resistência à mudança, falta de clareza sobre os seus objetivos ou dificuldade em manter o compromisso com o processo. O que incluiu expectativas irreais como o desejo de resultados rápidos sem esforço proporcional; resistência à autocrítica como por exemplo, a dificuldade em reconhecer as próprias limitações. E naturalmente a falta de empenho em aplicar o que foi discutido nas sessões. Se quiser ver por outra perspectiva, estes desafios podem ser oportunidades de aprendizagem tanto para mim enquanto coach como para o cliente.

Qual é a sua abordagem para desenvolver clientes em setores ou áreas com os quais não está familiarizada?

Primeiramente realizo uma pesquisa inicial onde procuro entender o setor por meio de leituras, conversas com especialistas ou relatórios de mercado. Entendo que o foco está no processo e não no conteúdo técnico, pois o coaching trabalha com questões universais como metas, comportamentos e desafios, independente da área específica. A escuta ativa, onde deixo o cliente partilhar as suas perspectivas e ensino sobre o contexto. Obviamente que existe uma adaptação contínua na qual ajusto ferramentas e técnicas às necessidades do cliente.

Num processo de coaching, quais são suas estratégias para manter o cliente envolvido e comprometido com o processo? E quando são sessões on-line o processo e a estratégia é a mesma?

Relativamente às estratégias, creio que começa logo pelas metas que devem ser muito claras, definindo objetivos mensuráveis logo no início. Realizo follow-ups regulares, de modo a acompanhar o progresso entre as sessões. Também o reconhecimento de conquistas se revela inspirador, celebrando pequenos avanços para motivar o cliente. O uso de ferramentas práticas, como propor exercícios que conectem a teoria à prática.
Nas sessões on-line, a base é semelhante, mas requer adaptações como uma tecnologia confiável a fim de garantir que a experiência virtual seja fluida e para que a dinâmica continue interativa recorro por vezes, ao uso de recursos visuais ou partilha da tela para manter o interesse. É deveras importante fazer check-ins frequentes com a intenção de verificar o estado emocional do cliente no decorrer das sessões.

Como você equilibra o coaching focado em resultados de negócios com o desenvolvimento pessoal do cliente?

O equilíbrio é alcançado ao alinhar os objetivos pessoais do cliente com as exigências organizacionais. Algumas práticas podem incluir a definição de metas conjuntas, como seja identificar onde o crescimento pessoal e os resultados de negócios se sobrepõem. Desenvolver aquelas habilidades transferíveis, ou por outras palavras melhorar competências como liderança, comunicação e resiliência, que beneficiam ambos os lados. E ainda um acompanhamento equilibrado ao combinar discussões sobre metas tangíveis com reflexões pessoais e autodesenvolvimento.

Como atingir melhoria do desempenho em um período de 30, 60 e 90 dias, quando muitas vezes o coachee tem necessidade de resultados mais rápidos?

Para resultados rápidos, o foco é priorizar ações de maior impacto no curto prazo. Por exemplo, a 30 dias priorizo o diagnóstico inicial e o plano de ação específico, onde viso a implementação de mudanças pontuais e práticas. A 60 dias, realiza-se os ajustes baseados no feedback inicial e consolidação de hábitos positivos. No caso de 90 dias, o reforço das estratégias bem-sucedidas e avaliação do impacto nos resultados.

Como funciona um programa de coaching? Quais são os principais modelos ou estruturas de coaching que você usa em sua prática?

Um programa de coaching segue estas etapas, salvo alguns acertos que se revelem necessários. Em primeiro lugar, a exploração inicial, onde se procede à identificação dos objetivos e alinhamento das expectativas. De seguida, a criação de um plano de ação com metas claras. As sessões são regulares e de acordo com a combinação inicial entre mim e o cliente. Nestas sessões, as discussões guiadas são frequentes e dá-se a aplicação das ferramentas que se revelem adequadas ao cliente e ao seu contexto. Por fim, a avaliação onde se realiza a revisão do progresso e ajustes no plano.

Como adapta suas ferramentas e técnicas às necessidades específicas de cada cliente?

Acredito que um diagnóstico inicial bem feito agrega muito valor para a relação entre o coach e o coachee, pois permite um entendimento profundo das necessidades do cliente. A flexibilidade permite ajustar ferramentas ou criar novas estratégias conforme o progresso do cliente. E a personalização como o uso de metáforas, exercícios ou exemplos que ressoem com o contexto do cliente.

Que tipo de métricas ou indicadores de desempenho você usa para acompanhar o progresso de seus clientes?

As métricas dependem do tipo de coaching e dos objetivos definidos. Tratando-se de indivíduos, constatam-se as melhorias em autoconfiança, organização ou equilíbrio emocional. Nos profissionais, observam-se os aumentos na produtividade, resolução de conflitos ou cumprimento de metas e ainda o feedback 360°, a avaliação feita por colegas ou líderes do cliente.
A escolha das métricas varia de acordo com o tipo de coaching (executivo, de vida, de equipa, etc.) e os objetivos específicos do cliente. No início do processo, é essencial estabelecer indicadores claros, mensuráveis e alinhados aos objetivos do cliente (KPIs). Por exemplo, se queremos medir o aumento da produtividade, este é medido por tarefas concluídas ou resultados entregues. Se se tratar de uma pessoa, poderemos ver os avanços no equilíbrio emocional tendo em conta os relatos de stress ou autoconfiança.
As métricas são essenciais para garantir a eficácia do coaching. Um bom coach adapta os indicadores às necessidades do cliente, combinando dados quantitativos e qualitativos para criar uma visão holística do progresso e do impacto gerado. Assim não traz apenas clareza ao processo, mas também fortalece o compromisso e a confiança entre coach e cliente.

Na sua opinião, qual a parte mais gratificante da profissão de coach?

A parte mais gratificante é testemunhar transformações positivas na vida dos clientes. O que inclui vê-los superar desafios, alcançar metas e descobrir novos potenciais em si mesmos. É recompensador saber que o trabalho ajudou a construir mudanças duradouras.

Que impacto o coaching traz para as pessoas e as organizações?

Efetivamente, para as pessoas nota-se um crescimento pessoal ao nível da autoestima e autoconfiança, maior autoconhecimento, superação de bloqueios e realização de objetivos.
Quanto às organizações, observa-se uma melhoria do desempenho, maior empenho, redução de conflitos e alinhamento das equipas com as metas corporativas.
O coaching cria uma cultura de aprendizagem e evolução contínuos, promovendo mudanças positivas e sustentáveis.