Entrevista de Bruno Da Sola, Inetum: Impacto da IA nos recursos humanos

O Chief People Officer do grupo Inetum, Bruno Da Sola, esteve em conversa com a ComunicaRH sobre o impacto e as vantagens da Inteligência Artificial na gestão do capital humano.

Qual o negócio da Inetum e como é a gestão de pessoas?
A Inetum é uma empresa europeia líder em serviços digitais, com uma equipa de 28.000 consultores e especialistas em 19 países e mais de 130 localizações. Estamos empenhados em impulsionar um maior impacto digital em empresas, entidades públicas e na sociedade, com soluções que contribuem para o desempenho e inovação dos nossos clientes. Procuramos responder aos desafios da transformação digital com proximidade e flexibilidade e, para isso, contamos com parceiros estratégicos, incluindo fornecedores de software líderes como a SAP, Salesforce, Microsoft e ServiceNow.
Com uma equipa global espalhada por várias partes do mundo e em constante crescimento, a Inetum entende que as suas pessoas são a sua maior força. Estamos empenhados em criar um ambiente onde cada indivíduo possa prosperar. Isso significa adaptar as nossas práticas de Recursos Humanos (RH) para serem mais flexíveis e inclusivas, permitindo-nos atrair e reter talentos diversos, apoiar o seu crescimento e, ao mesmo tempo, entregar valor excecional aos nossos clientes em todos os cantos do mundo. Além disso, queremos garantir um ambiente acolhedor e equitativo, onde todos os colaboradores tenham igualdade de oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

Pensando no dia a dia da área de Recursos Humanos, a Inteligência Artificial pode ser aplicada a processos mais rotineiros, acelerar o cumprimento de tarefas e otimizar o processo de inovação da área?
A IA está a revolucionar a função de RH e as empresas que a integraram com sucesso, em grande escala, já estão a colher benefícios significativos. A Inetum é uma empresa em rápido crescimento no centro das transformações digitais, especialmente na revolução da IA Generativa (GenAI). A presença da tecnologia é algo que já está muito presente nos RH: nos últimos 10 anos, a Inetum investiu muito em inovação tecnológica na área de RH. Criámos, por exemplo, a nossa própria ferramenta Chatbot para facilitar as relações entre a empresa e os nossos colaboradores. Com a implementação da GenAI, o departamento de RH tem de provar a sua capacidade de ser ágil e proativo na forma como apoia os seus colaboradores. A GenAI automatiza tarefas repetitivas, permitindo mais tempo para reflexão e inovação. Tem o potencial de simplificar várias tarefas de RH, como analisar dados, recrutar e gerir a relação empregador-colaborador. Desta forma, os recrutadores têm mais tempo para interações humanas de alto valor com os candidatos. Para que este processo seja bem-sucedido, é essencial que os nossos colaboradores tenham formação sobre como utilizar esta tecnologia e utilizar o tempo poupado em tarefas mais criativas e inovadoras para melhor servir os nossos clientes e colaboradores.

Como a IA impacta e melhora processos, sem deixar de lado a humanização indispensável para a relação entre colaborador e empresa?
Vemos a IA não como uma substituição da interação humana, mas como uma ferramenta poderosa para a melhorar. A IA permite-nos automatizar a rotina, focarmo-nos em atividades de valor acrescentado e personalizar as experiências dos colaboradores. Ao automatizar tarefas repetitivas e demoradas, como análise de dados, triagem inicial de candidatos e redação de ofertas de emprego, os nossos profissionais de RH ficam mais libertos para se concentrarem no que realmente importa: construir relações humanas com os candidatos. Por exemplo, os recrutadores, ao ficarem libertos de algumas tarefas graças à IA, têm 30% mais tempo para se dedicar a ações que acrescentem valor com os candidatos. Esta mudança foi recebida internamente com entusiasmo, pois a nossa equipa considera agora o seu trabalho mais envolvente e impactante.
Por outro lado, com a IA a lidar com o trivial, os colaboradores podem dedicar mais tempo à criatividade, inovação e construção de relações mais fortes com colegas e clientes. Neste sentido, criámos a formação ‘Do You Speak GenAI’, que pretende formar os nossos colaboradores para tirar o maior partido do potencial da IA para se focarem em tarefas mais exigentes.
Além disso, a IA ajuda a personalizar as experiências dos colaboradores, desde os percursos de desenvolvimento de carreira até comunicações internas, fomentando um maior sentido de pertença e envolvimento. O uso de ferramentas baseadas em IA, como chatbots, visa fornecer aos colaboradores um suporte mais rápido e personalizado.

IA já está sendo utilizada nas diferentes áreas de RH, como recrutamento, gestão de desempenho, desenvolvimento de talentos e engajamento dos colaboradores, entre outros?
A GenAI está a transformar a forma como recrutamos e capacitamos as nossas pessoas. Integramos a IA em várias etapas do nosso processo de recrutamento e desenvolvimento de talentos, tornando-o mais eficiente e eficaz. Numa perspetiva de recrutamento, com a ajuda da IA, conseguimos criar anúncios de emprego atrativos: a IA analisa dados para nos ajudar a escrever descrições de funções alinhadas com a realidade da posição. Ajuda-nos também numa correspondência inteligente entre candidatos e vagas de emprego, na medida em que utilizamos a IA para identificar os melhores candidatos em plataformas como o LinkedIn, garantindo uma forte adequação entre competências e oportunidades. Outra vantagem é a simplificação da comunicação com os candidatos, mantendo-os informados ao longo do processo, graças à automatização baseada em IA.
Também adotámos o SmartRecruiters, uma solução de software de recrutamento, que impacta a nossa gestão de RH. O SmartRecruiters está totalmente alinhado com os nossos objetivos de ter processos mais ágeis e simplificados, o que torna o recrutamento mais eficiente, rápido e simples, com maior envolvimento dos gestores.
Mas a GenAI é mais do que uma ferramenta de automatização, é um catalisador para o crescimento e novas oportunidades. Ao abraçar a GenAI, estamos a capacitar os nossos colaboradores a desenvolver novas competências a um ritmo acelerado, a explorar percursos de carreira entusiasmantes e a desbloquear formas inovadoras de criar valor para a nossa empresa e para os nossos clientes. Esta transformação requer uma mentalidade de crescimento e um compromisso com a aprendizagem contínua. Ao investir nas nossas pessoas e ao embarcar nas potencialidades da GenAI, estamos a construir um futuro onde a tecnologia e o potencial humano trabalham em conjunto.

Sendo o engajamento e a retenção de talentos um fator crítico nas organizações, a IA está programada para detetar padrões de comportamento dos colaboradores e assim criar interações personalizadas?
O nosso compromisso com a inovação, tecnologia e desenvolvimento profissional contínuo, juntamente com a nossa dedicação à ética e responsabilidade social, são os pilares que nos permitem continuar a atrair e reter os melhores talentos – e é isso que impulsiona o nosso crescimento e sucesso a longo prazo. Utilizamos uma variedade de ferramentas que vão muito além do uso da tecnologia.
Tentar usar a GenAI para detetar padrões de comportamento dos colaboradores parece-me prematuro. Os comportamentos das pessoas são difíceis de prever e a magia acontece quando as equipas de RH conseguem adaptar-se rapidamente, apoiar e ser ágeis. Antes de usar a GenAI para este propósito, existem inúmeros aspetos que precisam de ser melhorados com a GenAI para as nossas pessoas.

Quais as vantagens e os riscos da inteligência artificial nos processos de recrutamento/candidatura?
A IA Generativa terá um enorme impacto na função de RH, trazendo benefícios a vários níveis. A GenAI automatiza tarefas repetitivas, libertando tempo para atividades e interações mais estratégicas, o que permite mais inovação e crescimento. Tem o potencial de simplificar várias tarefas de RH, como análise de dados, recrutamento e gestão da relação empregador-colaborador. O ganho de tempo estimado é de 30% para os nossos recrutadores, o que significa que os recrutadores da Inetum terão mais tempo para passar com os candidatos para interações humanas de alto valor acrescentado.
Além de aumentar a produtividade dos recrutadores, a IA contribui para tornar todo o nosso processo de recrutamento mais objetivo e imparcial, minimizando estereótipos inconscientes e promovendo a diversidade. Sentimos também que a experiência do candidato melhorou com a melhoria de todo o processo.

Como implementar uma estratégia de IA de forma a ser bem-sucedida?
Implementar uma estratégia de IA bem-sucedida requer uma abordagem multifacetada, particularmente na área de RH. Não se trata apenas de adotar a tecnologia, mas de transformar a forma como trabalhamos e preparar as nossas pessoas para o futuro. Primeiro, é preciso visão e foco. É fundamental começar com uma visão clara de como a IA irá impactar o negócio da empresa, a forma como se organiza e as capacidades necessárias para servir os clientes. Esta visão deve abordar tanto as oportunidades imediatas como o potencial transformador a longo prazo da IA. A clareza do propósito irá guiar todas as ações subsequentes e garantir que todos trabalham para um objetivo comum.
Também a abordagem centrada no colaborador é crucial, o que significa a IA deve ser usada para melhorar a experiência do colaborador. Para isso, importa compreender como a IA pode simplificar os processos de RH, personalizar as oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, assim como fornecer um suporte mais eficaz aos colaboradores. Ao priorizar a experiência do colaborador, é possível promover uma maior adoção e envolvimento com as ferramentas de IA.
A comunicação estratégica e o alinhamento são igualmente importantes. Uma vez estabelecida a visão, há que comunica-la de forma eficaz a toda a equipa de RH e à empresa em geral. Cada iniciativa, desde programas de formação e mentoria até ao desenvolvimento de liderança e à gestão da mudança organizacional, deve estar alinhada com esta visão global da IA. Isso garante que as mensagens vão ser consistentes e reforçará a importância da integração da IA em toda a empresa.
Os líderes de RH devem garantir atividades como programas de formação e desenvolvimento que capacitem os colaboradores com as competências necessárias para trabalhar em conjunto com a IA, numa base de aprendizagem contínua e experimentação.
Em suma, implementar com sucesso uma estratégia de IA em RH requer uma visão clara, comunicação forte, uma abordagem centrada no colaborador, gestão proativa de talentos e um compromisso com a exploração contínua. Ao focar-se nestes elementos-chave, os líderes de RH podem transformar a sua função num motor de crescimento e sucesso na era da IA.

É importante ter em conta questões éticas e de privacidade dos colaboradores, quando se remodelam os processos tradicionais?
Estamos conscientes dos desafios inerentes à utilização da IA e, por isso, monitorizamos continuamente todos os processos para garantir uma aplicação justa, ética e responsável desta tecnologia. A rápida evolução tecnológica que estamos a testemunhar, especialmente com o aparecimento da GenAI, traz consigo o desafio de garantir que os colaboradores a acompanhem e exige que sejamos ágeis na formação e preparação dos nossos colaboradores. Investimos continuamente na formação dos nossos recrutadores, para garantir que a IA é utilizada de forma responsável e ética, e sempre complementada pela experiência e inteligência humanas.
O nosso programa ‘Do You Speak GenAI?’, por exemplo, foi concebido para formar os colaboradores da Inetum nas tecnologias mais recentes relevantes para o setor. Queremos fornecer as ferramentas e os conhecimentos necessários para que todos se mantenham relevantes e confiantes neste novo panorama. O programa de formação de colaboradores tem sido muito bem sucedido, como se percebe ao ter tido mais de 18.300 participantes e 11.000 certificações até à data.

Como a IA Impactará o Futuro do RH e da Inetum?
A IA Generativa terá um enorme impacto na própria função de RH e em todas as funções que se podem esperar numa empresa. Já podemos ver que os gestores de RH terão um papel central no apoio à mudança, uma vez que a IA vai afetar absolutamente todos os empregos, sem exceção, incluindo as profissões manuais. A função de RH terá de provar a sua capacidade de ser ágil e proativa na forma como apoiamos os nossos colaboradores. Nomeadamente, a IA Generativa automatiza tarefas repetitivas, libertando tempo para reflexão e inovação. Tem o potencial de simplificar várias tarefas de RH, como análise de dados, recrutamento e gestão da relação empregador-colaborador. Portanto, é crucial formar os nossos colaboradores para usar esta tecnologia e utilizar o tempo poupado em tarefas com maior componente criativa e inovadora para melhor servir os nossos clientes e colaboradores.
A IA Generativa já está a revolucionar a função de RH e as empresas que a integraram com sucesso já estão a ter benefícios consideráveis, como o ganho de tempo para outras tarefas relevantes e mais estratégicas. Exemplo disso é um inquérito do LinkedIn, que mostrou que 59% dos profissionais de recrutamento acreditam que a IA Generativa aumentará o envolvimento dos colaboradores.
A IA Generativa é um vetor incrível de eficiência, mas é também uma oportunidade única para as pessoas. Permite, principalmente a um ritmo muito dinâmico, o desenvolvimento de competências, novos percursos de carreira e novas possibilidades de criação de valor em todos os níveis da empresa e em diferentes atividades. A IA Generativa é mais do que uma ferramenta de automatização, é uma ferramenta de inovação e crescimento.

Na sua visão e experiência as empresas estão preparadas para integrar a tecnologia de IA e em que momento deverão começar?
Na minha perspetiva enquanto Chief People Officer da Inetum, uma empresa global que opera em diversos mercados, a integração da IA não é uma questão de ‘se’, mas de ‘como e quando’. Embora a tecnologia esteja a avançar rapidamente, a preparação organizacional varia significativamente. Algumas empresas já estão profundamente empenhadas na adoção da IA, enquanto outras estão a dar os seus primeiros passos hesitantes. Não há uma resposta única, mas acredito que o ponto de partida ideal é ‘agora’. Isso não significa necessariamente a implementação em grande escala de todas as ferramentas de IA disponíveis, mas sim começar com uma abordagem estratégica, com uma compreensão clara e realista das necessidades do negócio e, de seguida, priorizar vitórias rápidas, identificando projetos-piloto que possam demonstrar os benefícios tangíveis da IA para construir uma maior consciência interna.
O compromisso com a melhoria das competências da força de trabalho e a vontade de abraçar a mudança são outros elementos-chave. As empresas e os líderes devem priorizar programas de formação e desenvolvimento que dotem os seus colaboradores das competências necessárias para trabalhar em conjunto com a IA, fomentando uma cultura de aprendizagem e adaptação contínuas. Esta é precisamente a abordagem que adotámos na Inetum com iniciativas como o nosso programa ‘Do You Speak GenAI?’. Além disso, é essencial não esquecer as considerações éticas de forma proativa, estabelecendo diretrizes claras desde o início para garantir a utilização responsável da IA.
Adiar a adoção implica o risco de ficar para trás da concorrência, enquanto uma implementação apressada e não planeada pode levar ao desperdício de recursos e à desilusão.