Evoluindo a Liderança

Conforme a gente vai evoluindo na carreira, vamos em busca de especializações na área que escolhemos. Em geral, um profissional vai em busca de uma Pós-Graduação quando quer se especializar em um assunto mais técnico, e olha para um MBA (Master in Business Administration) quando quer atuar como um líder executivo na empresa.

Concluir um tipo de curso ou outro pode ser a realização de um sonho, alavancar a carreira, almejar uma promoção, ter mais conhecimento em uma área específica etc. Os dois são extremamente relevantes.

Eu acredito que o principal objetivo do MBA é formar líderes em uma determinada área do negócio (compras, finanças, marketing etc.). É um lugar para desenvolver suas habilidades de tomada de decisão e liderança. E por acreditar que vivemos um apagão de bons líderes no mercado de trabalho, acredito que os programas de MBA têm papel relevante na sociedade e precisam de atenção.

Mas só a educação formal, não basta. Ter um apagão de líderes é grave e é indispensável tratar deste conceito, para gerar mais clareza e mais líderes. É por esta vertente que este artigo vai seguir. Ajudar a evoluir o conceito de liderança e contribuir para o surgimento de líderes mais bem preparados no mercado de trabalho.

Este artigo foi escrito em fevereiro de 2021, e ainda vivemos os efeitos da crise causada pelo Corona Vírus (o COVID19). Se no antigo normal, antes dos efeitos da crise, o papel do líder já era crucial, o que dizer agora (durante e no pós-crise)? Liderança no mercado de trabalho já era um espaço que precisava ser preenchido. Essa demanda está ainda mais urgente.

As organizações precisam de líderes para passar por essa turbulência e seguir em frente.

Tudo que nos vem sendo apresentado reforça a ideia de que um executivo de uma grande organização não é nada se não tiver as pessoas por perto, em busca da mesma causa – ele ou ela precisam exercer liderança para vencer as batalhas.

Exercer uma boa liderança está diretamente ligado a fazer uma boa gestão de pessoas, um tópico que está na moda por estar presente nas principais mídias, mas que ainda parece tabu na prática, quando o respeito pelo indivíduo no mercado de trabalho ainda não parece ser uma verdade incontestável – basta ver os elevados casos de burnout, ansiedade e estresse (você provavelmente conhece um).

O primeiro passo para exercer liderança

Pessoas são seres sociais, que se relacionam. Às vezes, nem na vida pessoal, com aqueles que são mais íntimos, a gente pratica um relacionamento 100% sincero e verdadeiro. Que dirá no ambiente organizacional.

Se queremos ser bons líderes, devemos ser bons gestores de pessoas. E aí entra um primeiro passo fundamental para ser líder: investir em relacionamento sincero com a equipe. Aí você vai me dizer: “se não vivemos um relacionamento 100% sincero e verdadeiro na vida pessoal, porque na vida profissional seria diferente?”.

Primeiramente, não acredito que temos uma vida ou outra. Somos seres únicos, mas que adaptamos papeis a depender da situação que estamos enfrentando no momento: papel de pai, esposa, filho ou amiga (papéis da vida pessoal); ou ainda médico, professora, consultor, policial, diretora (papéis da vida profissional). Na relação humana, seja em qual contexto for, o relacionamento melhora a partir da troca.

Em outras palavras, quanto mais conversamos com um amigo ou amiga, mais conhecemos sobre ele ou ela. Quanto mais nos abrimos para nosso cônjuge, mais intimidade conseguimos conquistar. Quanto mais disposto um professor estar a ouvir seus alunos, mais é possível entregar uma boa educação.

Investir no relacionamento com a equipe é o passo fundamental para gerar e elevar o grau de confiança.

Praticar a empatia e acreditar genuinamente no outro, estando abertos à uma boa relação. Só com esta base estabelecida é que aquele que é líder poderá exercer seu papel. Não se enganem, não dá mais para gerenciar sua equipe achando que eles são apenas números de matrícula (Ids).

Como líder, dê a partida. Busque por uma transformação interna para melhorar a relação consigo e, consequentemente, com sua equipe. Não jogue a responsabilidade para aquela entidade que costumamos culpar por tudo (a empresa). Não é mentira que as decisões da “empresa” interferem em tudo no ambiente de trabalho.

Porém, não podemos esquecer que a empresa somos nós (um conjunto de pessoas) e devemos assumir nossa parte da conta. Uma vez aberto a estabelecer a ponte que vai te conectar com sua equipe, é preciso saber como você vai fazer tudo isso. O ponto de partida pode ser autoconhecimento.

A boa gestão de pessoas, que leva a boa liderança, começa pelo autoconhecimento do líder. Se você não conhece a si mesmo – não sabe seus limites e como se administrar – como acha que será capaz de fazer isso com o outro?

Ah, mas como que faz esse tal de autoconhecimento (que muitas vezes parece complexo demais)? Dê tempo a você mesmo. Não é papo do cara do RH não. Conheça-se e reconheça as suas emoções. E estará mais bem preparado para os desafios que estão por vir. Seja o ponto de partida para contribuir para um ambiente de trabalho mais feliz.

Liderança Vida Real versus Liderança Conto de Fadas

Quando estiver preparado e de frente para sua equipe, saiba que a liderança precisa ser do tipo vida real, e não conto de fadas. Vamos entender isso.

Ao invés de líderes, as empresas querem super-heróis, com um conjunto de competências irreais. É o líder que não falha, é muito forte, aparece quando a equipe nem sabe que precisa de ajuda. Esse é o líder perfeito, do tipo conto de fadas, Super-Homem. Em uma sociedade cada vez mais conectadas por redes sociais e as vidas perfeitas que têm lá dentro, somos levados a acreditar que conseguiremos ser líderes (pessoas) assim (perfeitas).

Eu prefiro o líder Batman. O Batman? Sim. Ele é o único super-herói sem super poderes, tirando o fato de ser muito rico (risos). E sem super poderes você está sujeito a falhar, não ser tão forte, e não vai adivinhar que quem está do seu lado precisa de ajuda (pois você não o tem o poder de ler mentes), não conseguirá tomar todas as decisões ou agradar a todos.

Por outro lado, você pode se preparar, treinar seu corpo e mente como o Batman fez (vale conferir mais da história do personagem). Então, poderá ir para as batalhas do dia a dia profissional sabendo que pode aparecer uma lesão aqui e outra ali, mas que as vitórias também vão surgir! Ou seja, como líder, como ser humano, buscamos fazer o melhor, com a consciência de que vamos ganhar e perder.

O ambiente de trabalho nos apresentará lutas difíceis, que não são novas, mas que são sempre desafiadoras:

  • Atuar como líder de alguém que por anos foi seu par;
  • Dar um feedback negativo;
  • Administrar um conflito dentro ou fora da equipe;
  • Tomar decisões em nome do grupo e não para um indivíduo.

Essas e outras, não são coisas fáceis de se fazer, não é mesmo? Porém, mesmo sem super poderes, no exercício da liderança precisamos estar bem preparados e ser INCANSÁVEIS.

A neuro liderança diz que é responsabilidade do líder garantir que ele(a) e a equipe estejam sempre em busca de desenvolvimento, coletivo ou individual. Fazendo com que ambos estejam mais seguros para realizar o que acham não serem capazes (Amanda Gore).

Na liderança vida real, seja forte! Inspire-se e vá a luta!

Coragem para fazer diferente

Bons líderes terão coragem para fazer diferente! Por mais que a gente veja algumas poucas boas práticas de gestão de pessoas, o mercado de trabalho ainda é conservador em sua maioria. Na vida, nas empresas, no mundo, precisamos nos questionar e fugir do “sempre foi feito assim”.

Se você acompanhou um pouco de notícias e leu coisas sobre o mundo profissional durante a pandemia do corona vírus, principalmente em seu começo, sabe que muitos trabalhadores sofreram nas mãos de empresas que não estavam preparadas – ou melhor, empresas lideradas por pessoas que não estavam preparadas (já aprendemos que as empresas são as pessoas).

A loucura do home office com chefes exigindo conexões 24 horas por dia para mostrar (uma falsa) produtividade, jornadas de trabalho intermináveis, pessoas sentindo-se ameaçadas – coisas que não são tão novas, mas que despontaram ainda mais.

Mesmo que não fosse o COVID19, a cultura do “eu mando e você obedece”, falta de maturidade para feedbacks construtivos, excesso de centralização para tomada de decisões e para compartilhamento de informações, perseguições internas, vieses, pressões no mais alto nível – isso já existia.

Vejo muitas coisas legais que várias empresas estão fazendo, e tudo é verdade. Porém, quando olho em volta vejo pessoas que estão fora do mundo da real, que não tem acesso às coisas boas e estão sofrendo uma pressão irreal no mundo do trabalho. Ainda imperam os líderes (posso chamá-los assim?) preocupados (só) com resultados, e não com o indivíduo.

Gestão de pessoas ainda é uma modinha. Onde muito se fala e pouco se faz.

É fácil achar conteúdo na internet com práticas maravilhosas, mas ainda não são maioria os casos onde são realmente aplicadas. Por isso, nós, os profissionais do RH, continuamos na luta de propagar nosso conhecimento e ajudar líderes de qualquer área a terem coragem para fazer diferente!

Uma outra ação para reverter este cenário, é que precisamos ser mais ousados, fazer com que o padrão seja um mercado de trabalho mais feliz, que, consequentemente, será mais produtivo.

Esta não é a era da significação do trabalho, onde todos buscam um propósito? Então, por que a má gestão de pessoas ainda predomina? Sei que muitos estão impedidos de comprar algumas lutas porque os boletos chegam, e podem perder seus empregos se ousarem demais. Mas outros tantos podem dar o pontapé e mudar de atitude.

Cuidar das pessoas dá lucro

Se você não vai fazer porque não acredita, faça porque dá resultado então! Cuidar das pessoas no trabalho dá lucro! Quer apostar? Eu aposto na velha frase que “contra fatos não há argumentos”.

  • Em um estudo de 2015, a Warwick University, do Reino Unido (pg8), apontou que trabalhadores felizes são 20% mais produtivos que os não-satisfeitos;
  • Em 2018, o instituto Gallup publicou que 34% dos trabalhadores americanos se consideram 100% engajados (que significa aqueles que estão envolvidos, entusiasmados e comprometidos com seu trabalho);
  • Ainda em 2018, a Revista Exame publicou “empresas que enriquecem têm funcionários mais engajados e vice versa”;
  • E se você não conhece a história do Marcio Fernandes, procure mais sobre ele na internet e leia o livro Felicidade dá Lucro.

Se curtir a ideia que tal começar agora? Se você já faz, influencie mais pessoas – dê a sua contribuição para mudar o mundo do trabalho. Implemente no seu trabalho, mas não esqueça de levar para sua casa – para aquela tal vida pessoal! Ainda tem gente que acha que vida pessoal e profissional se dividem…mas não é bem assim!

Precisamos de um empurrãozinho

Um líder não faz nada sozinho, precisa de pessoas para realizar as tarefas, ir em busca dos objetivos. Por mais que muitos possam ter uma visão negativa, meu papel aqui é mudar isso e reforçar para quem já vê o lado bom da coisa. Eu sei que o papel do líder não é fácil e que ainda que ele ou ela queira muita coisa, a equipe precisa ajudar. Mas a boa notícia é que estamos no caminho, talvez falte apenas um empurrãozinho!

O estudo de engajamento de funcionários da Gallup de 2017 (veja o estudo completo: State of the Global Workplace) traz alguns dados interessantes sobre o Brasil:

  • 27% de nós somos engajados, ou altamente produtivos e comprometidos em prover valor para nossas empresas;
  • Somos 12% os que são ativamente desengajados e suscetíveis a espalhar negatividade dentro da empresa e entre colegas;
  • Logo, 62% de nós fomos identificados no estudo como não engajados.

Vejamos o lado positivo dos dados. Apenas 12% se declararam negativos. 27% já se reconhecem positivo. Agora é SÓ fazer pular para o nosso lado os 62% que estão em cima do muro! É só um empurrãozinho! Líderes de plantão! É nosso papel fazer esse convencimento. Fiquem atentos naquela galera que parece desmotivada, ou apenas deixando a vida levá-los por aí. Traga-os para nosso lado.

Você já se deu conta?

Na construção do caminho da evolução da liderança, precisamos entender de uma vez por todas que para ser líderes não precisamos ter um cargo de gestão de pessoas.

Está surpreso(a)? O cargo empodera o chefe, se será um líder ou não, é outra história. Na forma de enxergar o mundo que eu acredito, há muito mais líderes por aí do que podemos imaginar.

Pessoal, o questionamento não é “se você é ou não é”, mas “se você já se deu conta”. Você já se deu conta que você é líder?

Vamos derrubar a crença de que líder é quem exerce cargo de chefia na empresa, é dono de um negócio ou coisas do tipo. Isso não é verdade! Não importa o cargo ou o nível hierárquico, eu tenho certeza de que tem um líder aí dentro de você! Deixa eu te explicar um pouco mais da minha visão.

O que acontece é que a gente não é líder toda hora, a cada segundo. Seja por uma questão de perfil ou simplesmente porque não há líderes conto de fadas (Super Homem), e sim líderes vida real (Batman). Podemos liderar mais ou menos a depender da situação.

Você já se viu em alguma vez que teve que tomar a iniciativa e influenciar as pessoas em busca de certo resultado?

Fosse organizar uma festa, o happy hour da empresa, a reunião de condomínio, organizar o grupo da apresentação do trabalho da faculdade. Quem tomou a frente de qualquer um desses casos (e outros tão cotidianos quanto), exerceu liderança.

Por mais que você não se ache ou se veja um líder, pare para pensar quando se trata de uma situação que você domina o assunto – ainda que não seja o chefe de nada ou ninguém, como é o seu comportamento? O que estou querendo dizer é que existe a liderança formal e a liderança informal.

  • Na formal, a liderança vem por causa de um cargo, título, papel que você desempenha.
  • Na informal, é porque você detona no conhecimento necessário para resolver alguma coisa.

O que acontece é que a liderança é mais aflorada em uns do que em outros. Mas seja lá como, aonde e quando for, em algum momento todos nós vamos exercer o papel de líder! Prepare-se!

O caminho ainda é longo…

O caminho ainda é longo, mas já vemos uma luz no fim do túnel. Na era significação do trabalho, muitos de nós estão em busca de não fazer as coisas por fazer – queremos saber por que fazemos.

Este movimento social em busca do propósito é o que eu acredito que será o ingrediente principal para vermos no mercado de trabalho mais líderes com uma mente diferente. Estamos evoluindo a construção deste modelo de liderança, mas o barulho já incomoda alguns e quem não vier junto, vai perder espaço na jornada.

E você? Vem com a gente?