Gestão de Expetativas Profissionais (as nossas e as dos outros)

As expectativas profissionais são aspirações que criamos e alimentamos sobre o que desejamos conquistar ou alcançar no mercado de trabalho, no decorrer da nossa carreira.

Somos formatados desde a infância que temos que ter uma carreira profissional, temos que alcançar a excelência para só entao, sermos realizados e felizes. Apesar de sermos os responsaveis pelas vidas que escolhemos viver, parte das nossas decisões têm influência na história que nos contaram no passado e da receita (infalível) que nos deram para a realização profissional.

Para além da expetativa que criamos sobre  a nossa carreira, criamos tambem a crença da dependência de uma carreira: “precisamos dos empregos ideais para sermos completos e realizados”. Pois bem, quem nos disse ou garantiu que o país onde nascemos, é onde vamos trabalhar? Quem garantiu que a tua qualificação académica garante a área onde estás destinada a atuar? Quem disse que a qualificação dos jovens passa apenas pelo ensino superior? Quem nos garantiu que uma qualificação garante um emprego?

Condicionamos a nossa realização pessoal e profissional em função da empresa que trabalhamos, da retribuição que recebemos, do reconhecimento que recebemos, do status que ocupamos e por isso adiamos a nossa auto-realização e muitas vezes nos odiamos por nunca mais lá chegarmos.

Para reduzir a nossa frustração temos que reprogramar a nossa consciência, reeducar a forma como vivemos e suprir a dependencia de ter para ser, porque o futuro não nos faz promessas! Para reduzir as nossas frustrações temos que integrar que é hoje que precisamos ser felizes, é o hoje que interessa. Como digo sempre, ser feliz não é a meta… é o método (diário).

Já paramos para refletir porquê criamos expetativas?

Para reunirmos todas as condições de obter uma resposta, temos que perceber o que são expectativas. As expetativas são crenças condicionadas ou esperanças que criamos, alimentamos e depositamos sobre situações, experiencias e pessoas na nossa vida e estao entrelaçadas à nossa fé.

É a tentativa de criar cenários imaginários que nos ajudam a lidar com o futuro na tentativa de controlar o que é externo a nós. Logo é humanamente impossivel viver sem expetativas. São crenças que alimentamos internamente na base da necessidade de adquirir algo que nos permita ser felizes ou realizados.

Uma das principais fontes de angustia e de ansiedade que nos deparamos constantemente é a necessidade de controlar tudo e todos os que nos rodeiam… daí criamos e alimentamos expetativas e a esperança de um mundo previsível, onde o incerto não tem lugar, mas  infelizmente, é a única garantia que nós temos.

E se experimentássemos confiar na ordem natural (e invisível) da vida? Porque não aceitar com consciencia e coração aberto, tudo aquilo que nos acontece?

Será que o certo seria criar limites às nossas expetativas? Eu diria que perante uma situação que requer criar ou alimentar uma expetativa, o correto é ganhar consciencia de que temos determinada expetativa, e analisar se ela está ou não mal trabalhada.

Uma expetativa não trabalhada é quando atribuímos ao outro ou à uma circunstância externa a responsabilidade de suprir a nossa necessidade ou de responder ao que desejamos ou aspiramos.

Se percebermos ou entendermos que a expetativa é NOSSA, estaremos prontos para encarar os desafios que uma expetativa acarreta:

Primeiramente, não apegar às expetativas sob o condicionamento de ter para ser. A ordem correta é ser para ter. Apenas temos que trabalhar o nosso interior para estar numa condição pacifica e harmónica de receber o que a vida ou o universo reservou para nós. Não podemos condicionar a nossa realização ou sucesso profissional em função da empresa XPTO que aspiramos trabalhar ou na remuneração ideal que aspiramos receber. O correto é aceitar os desafios profissionais que vão surgindo, para aprimorar e desenvolver as nossas competências, comemorando as conquistas diárias e o sucesso diário que nos podem ou não direcionar para um resultado maior.

Segundo, não imputar no outro a responsabilidade ou o peso de responder à nossa expetativa. Ninguem está aqui para corresponder as nossas expetativas. Essa é a nossa responsabilidade e é intrínseca ao nosso ser e não ao outro. A melhor forma de lidar com as nossas expetativas é não condiciona-las à uma pessoa ou experiência, porque é um processo interno e não externo. Só exigimos externamente aquilo que falta em nós. Só exigimos da vida e do outro aquilo que não nos damos, porque quando damos a nós mesmos, não cobramos porque temos. E se temos “os recursos” isso nos basta, porque só depende de nós alcançar aquilo que aspiramos.

É importante estarmos cientes de que as deceções são resultado de expetativas frustradas, logo, para reduzir as deceções, devemos esperar menos dos outros e exigir mais de nós mesmos. Não precisamos de pessoas/empresas/cargos para sermos felizes. Precisamos apenas das pessoas/empresas/cargos que nos valorizam por sermos quem somos.

Terceiro, libertar dos condicionamentos, evitando a todos custo apegar às nossas expetativas. Os sonhos, objetivos e metas só podem ser realizados se estivermos em paz. O apego aos nossos sonhos, projetos e metas é que nos frustram. É a crença da dependencia de realizar a expetativa que causa frustração, tornando-nos reféns do que idealizámos.

O ideial é, apesar de ter um objetivo profissional, estarmos cientes de que não precisamos atingi-lo para sentirmos ou sermos felizes e realizados.

Há que desapegar da necessidade de que as coisas tenham que ser como queremos. Quem nos disse que o melhor para nós é aquilo que pensamos ou idealizamos? Somos muitas vezes arrogantes por achar que sabemos qual o plano maior do Criador. Há lugares que a nossa imaginação não alcança e muitas vezes são melhores do que aquelas que idealizamos.

Lidamos melhor com as expetativas quando aceitamos que muitas vezes a vida tem outros planos para nós e que apesar de termos objetivos traçados, temos que abrir para as inúmeras possibilidades que não controlamos, e acreditar que o universo sabe o que faz.

Nesta ótica, defendo que a melhor forma de lidar com as nossas expetativas é sermos flexiveis, libertando da necessidade de controlar todos os centímetros do nosso percurso académico e/ou profissional, para assim, reduzirmos a margem de frustrações. O segredo é deixar as expetativas caírem quando necessário, e assim, reduzimos a dor da frustração quando as coisas não correm como planeamos. Permita que a vida te surpreenda, porque nada é por acaso.

É importante confiar e viver a experiência pela experiência em si e não pelo resultado que ela proporciona.

Outro segredo é lapidar a nossa expetativa, a medida que focamos na nossa energia pessoal, no nosso poder pessoal e no nosso livre arbítrio. Ninguém deve depender de ninguem para ser feliz ou para se sentir bem.

Por fim, mas não menos importante, as nossas expetativas quanto aos colegas de trabalho (e chefias), também devem ser trabalhadas. Há fontes que defendem que os relacionamentos são os principais motores para a evolução pessoal. O campo relacional é a bússula que nos orienta para alcançarmos a nossa melhor versão. É na dinâmica relacional onde extraimos situações e experiências para o nosso crescimento. São nas relações onde deparamos com desafios e dores de crescimento, onde a própria vida encarrega de trazer os relacionamentos necessários para promover a nossa evolução e as mudanças necessárias.

Nós recebemos as situações, as pessoas, as experiências, os trabalhos, as famílias que precisamos para trabalharmos determinados aspetos em nós. Por isso devemos mudar a nossa perceção e aceitar que tudo está à nossa volta para proporcionar o nosso bem, a nossa evolução.

Tudo diz respeito a nós mesmos sempre, daí que toda experiência ou relação é uma oportunidade de evolução ou melhoria continua. Podemos e devemos utilizar o outro como o espelho daquilo que nos incomoda e nos limita permitindo auxílio e orientação neste processo de melhoria.