(In)Substituíveis – Todos somos ou ninguém é?

Branding - comunicaRH

“Ninguém é insubstituível”. Tantas e tantas foram as vezes que li e ouvi esta afirmação, em diferentes situações e ambientes, mas nunca me convenceu e sempre me deixou pensativo.

Se do ponto de vista da gestão, aceito que esta afirmação tem a sua quota parte de verdade, do ponto de vista da liderança, parece-me uma completa mentira!

Eu defendo precisamente o contrário: Todos somos insubstituíveis!

Quando alguém deixa a nossa equipa, perdemos sempre alguma coisa, perdemos uma pessoa, com tudo o que a compõe e que acrescenta a um grupo, diferenciando-a de todas as outras pessoas e de uma qualquer ferramenta de trabalho! Cada pessoa tem habitualmente o seu papel numa equipa, seja o(a) engraçado(a) ou o(a) distraído(a) ou o(a) acelerado(a) ou o(a) perfecionista ou o(a) maldisposto(a) pela manhã, entre muitas outras características. E ocupe quem ocupar o lugar funcional deixado vago, nunca conseguirá substituir em pleno a pessoa que saiu. Não falo do trabalho realizado, falo de tudo o resto que uma pessoa é capaz de dar a uma equipa, a um grupo de trabalho, a uma organização, isso sim é habitualmente insubstituível.

Atenção que, dizer que todos somos insubstituíveis é bem diferente de dizer algo como “sem mim esta empresa não sobrevive”. Parece-me relevante os gestores e líderes tomarem consciência da importância de olhar para as suas pessoas efetivamente como pessoas, como sendo a essência das organizações. Essa importância manifesta-se extravasando a execução técnica que cada pessoa tem a seu cargo. Posto isto, quando alguém sai, isso pode não significar que a empresa irá fechar, mas sabemos que há sempre algo que se perde e, se estivermos a falar de pessoas excecionais, que pode nunca mais ser recuperado ou substituído.

Quem é que não conhece aquela pessoa que pode até não ser o maior prodígio em termos técnicos, mas que ainda assim enche uma sala com a sua presença, que faz a diferença em cada interação com os colegas? Pois bem, se essa pessoa é tecnicamente substituível? Certamente que sim. Mas será que é substituível enquanto pessoa? Não. Nunca. Jamais.

As organizações devem estar preparadas para perder pessoas, mas será que estão?

Ao ter processos bem desenhados e implementados, automatizações e ferramentas adequadas, os gestores e líderes ambicionam a que a saída de uma pessoa e a eventual entrada de outra, possa ter pouco impacto em termos funcionais/produtivos, e a minha experiência diz-me que isso é possível. Ainda assim, quais as verdadeiras consequências em termos de cultura organizacional? De ambiente vivido na equipa? De dinâmicas criadas e enraizadas? De histórico e fluidez de trabalho? Chego à conclusão de que há muita coisa, por vezes invisível e intangível, que sai com as pessoas. E é também por isso que não podemos olhar para este tema de ânimo leve.

Ao mesmo tempo, esta análise deve ajudar-nos a perceber o impacto e importância que tem para uma empresa recrutar boas pessoas. Investir na profissionalização da gestão de pessoas é essencial para que possamos tirar o máximo retorno do ativo mais importante de qualquer organização, as pessoas.

Ao longo da minha carreira vi vários colegas deixarem as empresas/equipas e raramente vi alguém conseguir ser verdadeiramente substituído. Mesmo as pessoas que porventura não se adaptaram, não foram felizes nem deixaram uma imagem positiva, a maioria delas ao saírem deixaram a sua marca, a sua pegada emocional, e essa nunca será totalmente apagada, seja positiva ou negativa. Talvez com o tempo acabe por ser esquecida, mas apenas no seio da organização, nunca para quem conviveu com essa pessoa. É isto que nos torna a todos, únicos e insubstituíveis.

Será que caminhamos para ser substituíveis?

As relações humanas são extremamente poderosas e tenho a convicção que se irão sempre sobrepor a toda a inteligência artificial que possa vir a ser desenvolvida e por muito evoluída que seja, nunca conseguirá tornar as pessoas substituíveis.

Se haverá menos postos de trabalho? Não! Se serão diferentes dos atuais? Sim! Se há postos de trabalho que se vão extinguir? Sim! Se deixaremos de trabalhar e teremos máquinas a trabalhar por nós enquanto estamos na praia? Não acredito! Poderemos ambicionar ser mais eficientes e fazer mais com menos recursos e menos esforço? Sim!

Mas no final, nunca nenhum de nós será substituível! Teremos certamente de nos adaptar, como sempre fizemos, reinventar tudo se necessário, alguns até podem ser ultrapassados se nada fizerem, mas nunca seremos verdadeiramente substituíveis!

Humanizar é e será uma tendência natural do mercado de trabalho, pois há muito que se percebeu que no final do dia, tudo se resume a pessoas e todos dependemos de todos! Mesmo quando os interesses económicos se sobrepõem a tudo o resto, a história ensina-nos que será uma questão de tempo até acontecer uma de duas coisas: A empresa fechar porque se esgotou o propósito, ou surgir ou emergir um novo líder que irá revolucionar tudo porque se vai focar nas pessoas para dar a volta ao texto e colocar novamente a empresa no rumo certo. Posso até aceitar que por vezes, infelizmente, as pessoas são “temporariamente descartáveis”, mas substituíveis? Não, nunca, jamais!

Como gestores e líderes, pensem sempre nas vossas pessoas como algo muito maior que a função que ocupam e do que as tarefas que executam. Há sempre muito mais em causa quando falamos de pessoas, que no final do dia pode fazer toda a diferença no resultado da organização! São as pessoas que, ao final do dia de trabalho, levam consigo para onde quer que vão, a reputação e credibilidade das empresas e de quem lá trabalha. Algo que a tecnologia não consegue fazer, passar a emoção, a paixão e o brilho no olho que temos quando nos orgulhamos de representar e fazer parte de uma equipa. A tecnologia é rapidamente ultrapassada e substituída por outra mais recente e poderosa. As pessoas por sua vez, adaptam-se, lutam, perdem, ganham, choram, festejam, compram e vendem. Somos humanos e depende apenas de cada um de nós, sermos insubstituíveis para as organizações!

Incentivem as vossas pessoas a quererem ser mais e melhor, a desenvolverem-se e a treinarem a capacidade de superação e resiliência, a adquirir novos conhecimentos e novas competências, a ir mais longe. Este treino e os seus resultados, aumentarão a longevidade de todos nós no mercado de trabalho.

Acredito que, se formos líderes de nós próprios e trabalharmos diariamente para superar todos os desafios que a vida nos for colocando, dentro e fora das organizações, nunca seremos substituíveis e seremos sempre nós a criar o nosso próprio futuro!