Líder: Vou calçar os teus sapatos

Líder: Tantas vezes nos preocupamos em andar somente a olhar para cima, com medo de não termos o guarda-chuva mais adequado para os dias de invernia, que nos esquecemos de olhar o caminho que percorremos, enterrando, com frequência, os pés nos charcos que se encontram na nossa frente.

As pessoas obstinadas, com egos altivos, e convictas que a sua verdade e visão das coisas (ou dos acontecimentos) é a única possível, e que nem entendem como é possível os outros não seguirem têm, quase inexoravelmente, traçado o destino do fracasso, ainda que isso possa demorar mais ou menos tempo a acontecer.

Nas organizações, como na nossa vida em geral, é difícil encontrar algo de significativo e relevante, que se consiga obter de modo isolado. Mesmo o mais bem sucedido recordista mundial dos 100 metros, percebe que esse resultado só será possível com a conjugação dos esforços e da colaboração de uma equipa de apoio mais ou menos extensa.

Bem sabemos que a intensidade do esforço de uns não será igual à intensidade de outros, e que a dose de genialidade inata de uns lhes pode até permitir abdicar de despender dose adicional de energia na comparação com outros, para obterem um resultado similar.

É desta extraordinária diversidade de que dispomos na natureza humana, com elementos mais jovens e mais “rebeldes”, outros menos jovens mas mais experientes, uns mais competitivos e outros mais moderados e menos ousados, homens e mulheres em conjunto, que se encontram as soluções mais bem sucedidas e duradouras.

Podemos até conseguir, fora deste enquadramento de diversidade, resultados pontuais extraordinários e dignos de realce.

Mas muito dificilmente estas situações terão capacidade de vencer o crivo do tempo de maneira positiva.

Não chega que alguém muito determinado, organizado e resiliente queira levar por diante um projecto, se não levar em conta o meio que o rodeia e os anseios das pessoas que estão à sua volta.

É da força e da dinâmica das energias colectivas que se conseguem impulsionar e maximizar os resultados a obter.

Percebendo o que cada peça da engrenagem pode dar e o que essa peça espera poder obter. E não estamos a falar somente de estímulos financeiros. Diria mesmo que, na grande maioria dos casos, nem estaremos a falar desses estímulos, mas mais do reconhecimento entre os pares, da sensação de pertença a um grupo forte e bem sucedido, ou mesmo da percepção que o caminho apontado é “condizente com a qualidade dos sapatos que calça”.

Quantos chefes, na sua suprema sapiência, passam o tempo a olhar o céu, na ânsia de perceberem o curso das nuvens e se daí lhes virá uma inspiração divina acerca da chegada da próxima época de chuvas?

E com isso descuidam que, no chão que pisam, vão florescendo pequenas plantas verdejantes, aguardando somente que não as ofusquem com sombras permanentes, e permitam que entre a luz do sol que lhes garanta um crescimento mais sustentado e robusto.

Que as pequenas formiguinhas da estrutura continuam laboriosamente as suas tarefas a aguardar que, pelo menos, ninguém se lembre de as dizimar num afã de superioridade, esquecendo que a sua presença na manutenção do equilíbrio global é muitas vezes essencial.

É mesmo aos mais altos responsáveis de cada organização, que incumbe a tarefa major de avaliação, em permanência, das reais condições de equilíbrio do “ecossistema” em que se movimenta.

E permitir que o sol existente (seja ele muito, ou em pequena quantidade) possa ser repartido de modo harmonioso entre os vários elementos do grupo, evitando, assim, que ao crescimento repentino e desajustado de uns, se possa associar um rápido e intenso ocaso de muitos.

Sempre atento ao caminho, o bom líder é aquele que vai avaliando para cada um o passo que necessita de dar, colocando sempre os seus sapatos nos pés dos outros e estando disponível para calçar os daquele que está ao seu lado.