Maternidade e o Trabalho, desafios para as Organizações e para a Gestão de Pessoas

O mês de agosto é conhecido na área da saúde como o “Agosto Dourado”, em alusão ao Dia Mundial do Aleitamento Materno, celebrado desde 1990. Este mês simboliza o esforço para incentivar a amamentação, um movimento que ganhou força em um encontro entre a Organização Mundial de Saúde com a UNICEF, resultando na “Declaração de Innocenti”(1).

Refletir sobre o aleitamento materno nos leva a considerar a maternidade e os desafios frequentes enfrentados pelas organizações e áreas de gestão de pessoas, especialmente na intersecção com o trabalho. Discutir o processo de amamentação sem abordar as questões relacionadas à escolha pela maternidade e a carreira profissional seria incompleto.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), garante a licença-maternidade de 120 dias, conforme seu artigo 392. No entanto, a garantia do direito ao afastamento e a segurança no retorno das mulheres ao mercado de trabalho após esse período ainda enfrentam desafios significativos, que podem impactar profundamente o curso de suas carreiras. Isso destaca a necessidade de sensibilização das organizações e gestores sobre a importância de proteger esse direito.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, reconheceu a necessidade de proteger as mulheres no ambiente de trabalho durante a gestação e após o parto. No entanto, apesar dos avanços legislativos e da crescente conscientização, os desafios persistem, especialmente no que diz respeito à capacidade da mulher de conciliar os papeis de mãe e profissional.

Em um ambiente corporativo contemporâneo, caracterizado pela competitividade e pela crescente demanda por dedicação integral à carreira, a mobilidade geográfica e a flexibilidade de horários muitas vezes entram em conflito com as responsabilidades familiares. Isso coloca as mulheres diante de dilemas significativos sobre como equilibrar a vida pessoal e profissional.

Estudos indicam que muitas mulheres têm adiado a maternidade, seja pela busca por estabilidade financeira, avanço na carreira, ou pelo receio de interrupção de profissional(2) . Em alguns casos, a opção por não ter filhos decorre de experiências pessoais ou das histórias vividas por outras mulheres. No entanto, aquelas que optam pela maternidade frequentemente enfrentam um sentimento de culpa pela falta de tempo dedicado aos filhos e desejam uma maior flexibilidade no trabalho.
A difícil escolha entre ter filhos e seguir a carreira, gerando um sentimento misto de esperança e medo, permeia a vida de muitas profissionais. Dados apontam que 44,4%, quando optam pela maternidade, acabam reforçando as estatísticas de vínculos de trabalhos informais ou até desemprego.

Diante desse cenário, é imprescindível que as organizações atuem de forma coordenada para fornecer suporte adequado às mulheres que buscam conciliar maternidade e carreira. É fundamental desenvolver programas que demonstrem o compromisso da organização com a segurança e o bem-estar dessas mulheres, contribuindo para a retenção de talentos, a promoção da diversidade e a construção de uma cultura organizacional inclusiva.

Neste sentido, algumas diretrizes, se mostram relevantes, como:
• flexibilidade de horários: Implementação de políticas que permitam às mães adaptarem seus horários de trabalho, contemplando alternativas como o teletrabalho ou horários flexíveis
• oferta de programas que auxiliem as mães na transição entre a licença-maternidade e o retorno ao trabalho, prevendo orientação psicológica, creches corporativas ou subsídios para cuidados infantis
• uma cultura organizacional inclusiva, que valorize a diversidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, combatendo estigmas associados à maternidade no ambiente de trabalho
• o desenvolvimento de lideranças femininas, com investimento no desenvolvimento e ascensão profissional das mulheres, proporcionando oportunidades de capacitação e mentorias específicas para enfrentar os desafios da conciliação entre maternidade e carreira.
• uma rede de apoio, onde essas mães possam compartilhar suas experiências, trocar informações e sentirem-se acolhidas.

Diretrizes que, se adotadas, promoverão um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo, reconhecendo o valor das mulheres tanto como profissionais quanto como mães. Além disso, essas diretrizes contribuirão para o desenvolvimento social e econômico sustentável, considerando que, quando as mulheres têm acesso igualitário a oportunidades de empregos e são apoiadas em suas carreiras, elas passam a contribuir para o crescimento econômico, impactando positivamente as comunidades.

Algumas empresas já estão adotando programas voltado à maternidade. Um exemplo é a implantação, em 2019, de uma política de diversidade e inclusão da montadora alemã Volkswagen. Outro importante exemplo está na empresa financeira de universo majoritariamente masculino, que introduz o programa de apoio às mães gestantes(3).

É crucial ressaltar que a responsabilidade de promover a conciliação entre maternidade e trabalho não deve recair exclusivamente sobre as mulheres, mas deve ser compartilhada por toda a sociedade.

Vamos lá… que tal desenvolver na sua organização um Programa de Mentoria Materna? Ou compartilhar uma experiência já implantada?

Nota:

[1] https://bvsms.saude.gov.br/mes-do-aleitamento-materno-no-brasil-e-semana-mundial-da-amamentacao/ – acesso em junho/2024.

[2] GARCIA, C.F e VIECILI, J. Implicações do retorno ao trabalho após licença-maternidade na rotina e no trabalho da mulher. Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, SC, Brasil, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/fractal/a/4zVSP8j3SKn9Rf9TtNvzWzn/ – acesso em maio de 2024.

[3] LANGSDORFF, Janaina. Empresas demonstram mais consciência com a maternidade. PROPMARK, 2022. Disponível em: https://propmark.com.br/empresas-demonstram-mais-consciencia-com-a-maternidade/ . Acesso em: maio de 2024.