O Líder seguro

O perfil do líder não mudou muito nos últimos anos. É certo que sempre tivemos diferentes estilos de liderança, mas a realidade nunca nos “obrigou” a orientarmo-nos de forma inequívoca para algum deles. Acredito que esta é uma época de profunda transformação no mundo do trabalho, até porque é uma época de transformação da própria sociedade.

Fala-se muito do fim do líder autoritário, distante, superior, mas ele continua a existir, porque a sociedade não precipitou o processo da sua transformação. A realidade que temos vivido, vem, no entanto, acelerar alguns processos de mudança, acentuando-se a tendência para uma maior humanização da liderança e para uma maior predominância do que chamaria “Líder seguro”.

O Líder seguro é um líder que acredita nas suas capacidades e que não se sente ameaçado. Um líder que se afirma pelo que é, sendo autêntico e genuíno. Um líder sem receio de mostrar o seu lado humano e as suas fraquezas e que coloca o bem-estar e desenvolvimento dos outros na sua agenda.

Continuando a ser exigente com as suas equipas e sempre muito focado nos objetivos da empresa, é um líder que:

Orienta, verifica e confia

O líder que quer controlar tudo, que não dá espaço à liberdade e à criatividade das suas equipas é um líder que não dá resposta aos desafios que atualmente se colocam às empresas e muito menos às aspirações dos Colaboradores. Os aficionados do micro management condicionam as pessoas, que passam a dar maior importância ao facto de estarem a ser controladas (e às consequências pessoais desse controlo) do que ao crescimento e sucesso da sua Organização.

Ninguém gosta de se sentir controlado, existem pessoas que necessitam mais de acompanhamento do que outras, mas ninguém gosta de ser constantemente observado, de ter de justificar cada um dos seus passos dentro da Organização. Excesso de controlo, condiciona o comportamento das pessoas e limita o desenvolvimento do seu talento.

Esta necessidade de controlo foi bem visível na desorientação sentida por alguns gestores recentemente quando se viram na obrigação de colocar as suas pessoas em trabalho remoto. Esta realidade mostrou a fragilidade de muitos líderes que não souberam como reagir ao facto de não poderem ter os seus colaboradores constantemente “debaixo de olho”.

Este é o momento dos líderes que de facto sabem definir objetivos para as suas equipas, que têm a capacidade de os fazerem cumprir e, principalmente, que confiam. Chegou o momento de líderes que responsabilizam as pessoas, que as fazem sentir-se parte do negócio e dar o seu melhor. A Confiança será, sem dúvida, um valor fundamental nesta nova realidade.

É empático, preocupa-se genuinamente com o bem-estar da equipa

No mundo pandémico e no mundo pós pandemia exige-se um líder que se preocupe ainda mais com a saúde, o bem-estar e a segurança dos seus Colaboradores. A passagem pela pandemia também fortaleceu o líder, passando a estar mais atento às pessoas e mais aberto para as escutar. Terá que entender o contexto e as dificuldades das pessoas para melhor atingir os objetivos da sua Organização, através da sua equipa.

Acresce que o trabalho remoto faz com que os líderes tenham de desenvolver ainda mais as suas competências de escuta e de compreensão, contribuindo para diminuir o stress na rotina das empresas e garantir o cuidado com a saúde mental das equipas. Tem sido visível o aumento das doenças de foro psicológico, isso exige uma resposta também por parte das Organizações, com programas de saúde bem-estar genuinamente orientados para ajudar as pessoas.

Desenvolve os outros. Prepara a equipa para não precisar dele

O Líder seguro não tem receio de desenvolver os outros, pelo contrário, só vê benefícios ao fazer crescer as pessoas da sua equipa. Muitos líderes não desenvolvem verdadeiramente as suas equipas porque se sentem ameaçados, perdendo uma grande oportunidade para darem de si, para sentirem a satisfação do seu verdadeiro contributo.

Os líderes seguros não pautam as suas decisões nem a sua atuação pelo receio, comprometem-se a desenvolver os outros e sabem que estão a fazer um bom trabalho quando têm equipas autónomas e estão rodeados de pessoas com potencial para serem tão ou melhor do que eles.

Assume quando não sabe e procura saber

Assumem quando não sabem e o que não sabem porque têm consciência que “o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão de conhecimento”. Muitas vezes pode ser tentador disfarçar o seu desconhecimento, mas o líder Seguro quando não sabe procura saber, mostra vontade de aprender e colmatar lacunas de conhecimento, aprendendo com quem sabe e fazendo perguntas em vez de fingir ter respostas.

Desta forma estão sempre preparados para se adaptarem a ambientes complexos e imprevisíveis e para inspirarem as suas equipas.

Sorri, porque sorrir não o torna menos confiável

A COVID-19 deixou muitas pessoas no chamado “estado de tristeza” ou de apatia, com maior necessidade de sorrisos para seguirem em frente com otimismo. Um líder que sorri e com bom humor não corre o risco de perder a confiança ou o respeito da sua equipa, muito pelo contrário. Um líder com humor consegue encarar as decisões de uma forma mais positiva e estabelecer com os seus colaboradores e colegas uma ligação mais emocional.

Felizmente já existem muitos líderes seguros entre nós!