O que podemos aprender com a ‘Grande Resignação’?

Temos acompanhado o movimento da ‘Grande Resignação’ que está acontecendo nos Estados Unidos da América e outros países do mundo. Há especialistas falando que deveria ser o ‘Grande Despertar’, ‘Grande Reinvenção’ ou para o LinkedIn ‘Grande Reorganização’. A verdade é que independente de como chamaremos esse fenômeno o mundo do trabalho está sim mudando. O fato de mais de 4,5 milhões de americanos saírem de seus trabalhos em setembro/21, segundo o US Bureau of Labor Statistics, aponta que de fato as pessoas estão questionando seu trabalho, seu significado e as opções.

Não sabemos ainda como esse movimento acontecerá em outros países. Há muitas vezes medo do desemprego, insegurança política, falta de apoio do governo, condições que talvez limitem ou dificultem a saída do trabalho para buscarmos novos caminhos.

Mas mesmo assim, 40% dos colaboradores estão dispostos a mudar de emprego, segundo pesquisa realizada pela PageGroup no estudo “Perspectivas para o Mercado de Trabalho 2022.” A pandemia de fato nos trouxe mudanças e principalmente reflexões. Se a vida pode ser tão curta, como podemos passar 80 mil horas em um trabalho que não nos traga sentido, realização ou desafios?

Quando falamos de felicidade no trabalho há sempre pessoas reativas achando que estamos falando de algo superficial, como se fosse uma política de pão e circo ou algo para enganar o colaborador a trabalhar mais sem reclamar. E não é nada disso.

Felicidade no trabalho tem a ver com o trabalho da pessoa, de nos sentirmos realizados, desafiados e de termos um propósito.

E isso deveria ser óbvio. Não precisamos mais de crenças e mitos de que o trabalho é um fardo e que significa sempre o “sacrifício” de uma certa parcela de bem-estar, liberdade e felicidade, como Adam Smith pregava no século XVIII. Trabalho pode ser fonte de felicidade sim. Pode nos trazer sentido, um significado maior à nossa vida, um senso de realização, desafios que nos motivem e até relações profundas e importantes em nossas vidas. Com certeza, grandes amigos que tenho vieram do trabalho.

Mas para isso precisamos falar de mudanças, de novos caminhos. Há discussões sobre o futuro do trabalho, se o melhor modelo é o híbrido, se a jornada reduzida de 4 dias por semana funciona, entre outros. E os dados parecem promissores: 63% das pessoas, segundo a pesquisa da Perpetual Guardian com as universidades, acreditam que se torna mais fácil atrair e reter talentos com uma jornada flexível e reduzida.

De fato, se olharmos para os millennials é mais importante qualidade de vida (75%) do que salários e benefícios (59,4%), segundo o Employment and Employability Institute. E para Gen Z, qualidade de vida, autonomia e flexibilidade são ainda mais importantes: 19,6% querem sempre viajar e ter férias permanentes (isso existe? rs) vs 15,5% ter cargos importantes, segundo pergunta ‘O que é sucesso para Gen Z?’ na pesquisa do Google Consumer Survey (2019).

Precisamos nos preparar para esse novo mundo. Tudo isso precisa ser priorizado e o mindset da liderança precisa dessa consciência. Não queremos líderes bonzinhos, mas em pleno mundo pós-pandemia com tantas mudanças, não dá mais para fecharmos os olhos para esse fenômeno. O mundo mudou e sempre mudará. Ao invés de criticarmos e rejeitarmos as mudanças, que tal abraçá-las para criarmos então nas empresas uma nova consciência?