Teletrabalho – panaceia ou desencanto?

O tempo em que vivemos abre novas fronteiras, até agora inexploradas, para os RH nas organizações.

A probabilidade de contágio e doenças nas grandes metrópoles obrigará as empresas a criarem alternativas para operarem com riscos aceitáveis.

Desde a experiência de Hawthorne em 1927, na qual Elton Mayo quis conhecer de que forma as condições físicas no local de trabalho influenciavam a eficácia e a produtividade dos trabalhadores numa fábrica da Western Electric em Chicago, que a ciência evoluiu muito na determinação dos efeitos do ambiente de trabalho na produtividade e no desempenho profissional.

O Século XX foi exímio na determinação dos fatores externos e internos da relação de trabalho, que potenciavam a produtividade. O caminho percorrido foi feito de braços dados com a tecnologia.

Na inter-relação das pessoas com a tecnologia no trabalho há muitas questões para as quais não há respostas definitivas

No que diz respeito aos locais de trabalho, será que por detrás dos computadores estão pessoas ou por detrás das pessoas há sistemas de informação e tecnologia de suporte?

É claro que as duas afirmações são verdadeiras na sua real dimensão.

A situação de pandemia em que o mundo está mergulhado mostra o quão desafiante é o tempo presente no que diz respeito à relação das pessoas com a tecnologia no trabalho.

A nossa vida parece que está em suspenso, influenciada em grande medida pela vida profissional.  Temos lido e ouvido muitas opiniões segundo as quais o mundo profissional não vai voltar a ser o mesmo, devido ao incremento do teletrabalho.

Se assim fosse, e mesmo considerando somente os casos em que tal é possível, teríamos que aceitar a perspetiva dos RH entrincheirados no teletrabalho. Não partilho de tal visão e esta pode ser redutora. A ciência mostrou que, não são só os RH que se moldam ao trabalho, como aconteceu desde sempre, mas o trabalho é que se deve moldar aos RH´s.

As duas formas de encarar a relação do trabalho com as pessoas parecem ter cabimento no presente. No entanto, parece claro que moldar o trabalho à pessoa deverá continuar a ser o fator mais importante. Ao fim e ao cabo não foi o que os artífices fizeram nos últimos séculos?

Mais recentemente, a corrente que estuda o jobcrafting, aprofundou a relação das pessoas com o trabalho, segundo a qual a pessoa molda o trabalho “à sua maneira” por forma a que os trabalhadores usem os seus talentos, as suas competências, interesses e energia, ao mesmo tempo que os habilitam a otimizar o seu contributo para aumentar o valor acrescentado para os clientes internos e melhorar a contribuição geral para o negócio e a performance da organização.

Este processo tende a ser otimizado se existir balanço positivo e coexistência entre a vida pessoal e a vida profissional.

Ora, como podemos aceitar de ânimo leve o teletrabalho como terapia de aplicação generalizada e indiscriminada sem o enquadramento e o estudo do impacto sobre a pessoa nas várias dimensões relevantes?

Admito que o teletrabalho, pode ser muito interessante, mas teremos de saber mais sobre o real impacto do mesmo nas pessoas e aprofundar o estudo, para conhecer melhor, as condições em que aquele terá efeitos positivos na produtividade, na satisfação e no bem estar dos trabalhadores.