CARREIRAS & PESSOAS COM MAURÍCIO MARQUES

Falamos com Maurício Marques para a nossa rubrica Carreiras & Pessoas para perceber o seu percurso de sucesso, como chegou ao lugar o lugar que hoje ocupa e a sua visão sobre a área da gestão de pessoas na organização.

Maurício Marques é Diretor de Gestão de Recursos Humanos da Natixis. A Natixis é uma multinacional francesa de serviços financeiros especializada em Asset & Wealth Management, Corporate & Investment Banking, Insurance and Payments. Uma subsidiária do Groupe BPCE, o segundo maior grupo bancário da França por meio de suas duas redes bancárias de varejo, Banque Populaire e Caisse d’Epargne, a Natixis conta com quase 16.000 funcionários em 38 países e conta com excelentes práticas na área da gestão e liderança de pessoas.

1 – Qual a sua formação de base e que outras formações concluiu para o desempenho das suas funções?

Sou uma das pessoas que foi para Psicologia a pensar na área clínica, mas acabei na área dos Recursos Humanos por convicção de que nas empresas conseguimos melhorar a vida de mais pessoas simultaneamente.

Durante o meu percurso universitário tive a oportunidade de ter diferentes experiências, desde o negócio familiar na área da restauração, à paixão da venda numa loja de discos, à formação de adultos ou o ATL com crianças. Este percurso variado permitiu-me estar à vontade em diferentes ambientes e aprender a reagir a diferentes situações.

Mais tarde na indústria, fascinava-me a forma como se  dinamizavam grandes equipas de forma rápida e eficiente e com um número muito reduzido de erros, tentei perceber melhor como o faziam através de formação em Lean e de uma Pós Graduação em 6 Sigma.

Com o crescimento da responsabilidade de gerir equipas foi sempre uma preocupação aumentar os meus soft skills em gestão de equipas, através de formação na área, auto-estudo e, mais importante, constante feedback das equipas e pessoas com quem tenho trabalhado. Neste momento encontro-me a frequentar um Doutoramento em Gestão para aumentar os meus conhecimentos na área de Gestão e Finanças.

2. Qual foi o seu percurso para chegar à sua atual posição? Quando percebeu que era este o seu propósito? Foi premeditado, ou foi acontecendo?

O resultado das minhas sessões de orientação vocacional foi o mais ambíguo possível  – demonstrei interesse das artes aos números, pelo que não foi fácil escolher. Julgo que isso determinou a decisão de seguir uma área generalista. Posteriormente, julgo que os primeiros contactos com empresas, o carácter social da vida de uma empresa, a satisfação de atingir resultados e deixar uma marca por pequena que fosse na vida dos outros levou-me a optar pelos recursos humanos, tendo chegado ao Management Team de uma empresa aos 26 anos.

Neste percurso foi fundamental ir encontrando as pessoas certas pelo caminho – chefias, pares e equipas com quem aprendo diariamente, que me desafiam a atingir resultados e me dão a energia para acordar diariamente com uma vontade enorme de fazer coisas acontecer. E uma família que me ouve quando tenho dúvidas, dá-me a estabilidade necessária no dia-a-dia e que quando se impõe um desafio pessoal ou profissional que parece ser impossível me pergunta “mas é isso mesmo que queres”?

O resto foi um misto de curiosidade, esforço e oportunidade. Sempre tive como objetivo cumprir com a minha função e, nas áreas em que reconhecia  oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, investir em superar expectativas. Isso levou mais que uma vez a pensarem em mim para áreas que se enquadravam nos meus planos de carreira e fizeram do meu percurso algo fluido e muito gratificante.

3. Quais são os maiores desafios da profissão e que conselhos daria a jovens gestores de pessoas que queiram seguir um trajeto semelhante ao seu?

Sendo um lugar comum dizer que todo o negócio são pessoas, o papel dos RH é sempre fundamental, ainda que algumas empresas e gestores pareçam não o reconhecer. É importante por isso que tenhamos consciência da nossa responsabilidade seja pelo que fazemos e dizemos ou deixamos de fazer ou dizer.

Além disso, a credibilidade do profissional RH assenta na sua consistência no longo-prazo. Isto aumenta a importância de sermos transparentes, agir com base em dados e convicções, mas saber mudar de ideias e explicar os motivos quando o fazemos. É um trabalho que nos leva a questionar os nossos valores e as nossas decisões e, não gerir bem esta ambiguidade, pode facilmente tirar-nos o sono ou afectar a vida fora do trabalho. É muito importante estar mentalmente em forma para fazer um bom trabalho. Os casos de burnout na área estão normalmente relacionados com a falta deste equilíbrio.

Mas no final compensa – quando vemos as pessoas ou a empresa crescer, quando atingimos uma solução win-win, quando no final do ano vemos tudo o que fizemos e os seus resultados ou simplesmente quando alguém nos agradece algo que para nós faz parte do nosso dia-a-dia: um feedback que ajudou a melhorar, o conselho que mudou uma decisão ou uma contratação que mudou uma vida. Não é um impacto que todas as profissões ofereçam à partida e é motivo de gratidão mas também de grande responsabilidade.

4. Daquilo que é a sua visão do mercado, quais as competências cruciais para o sucesso do gestor de pessoas do futuro? 

O período pelo qual passamos voltou a colocar a função RH no centro das organizações pela forma como lhe foi requerido que suportasse a gestão em decisões de negócio, através do seu conhecimento, da forma de pensar e prever reações das equipas em tempos de incerteza. A forma como os RH compreenderam e tiveram sucesso a transmitir a “consciência” das organizações à gestão, neste período de crise, teve o seu impacto durante o último ano e meio e está a ter o seu impacto na forma como as empresas estão a adaptar-se a esta nova fase.

Tendo em conta que a realidade das empresas está também constantemente a ser reescrita, a função RH tem de ser cada vez mais rápida a compreender tendências e antecipar medidas que permitam uma adequada adaptação. Um exemplo atual é a forma como se adaptam politicas, processos e liderança ao regesso híbrido ao escritório, agora que sabemos que as velhas fórmulas já não funcionam.

Finalmente, no impacto nas comunidades, aqui também os RH têm uma enorme responsabilidade. Num ecossistema que se revela cada vez mais finito em termos de recursos, os RH têm um papel importante nos valores que passam no seu exercício, na forma como afetam os equilíbrios sociais. Alguns exemplos são os valores que transmitem pelas políticas que adoptam face à ecologia, cidadania, tolerância ou diversidade e experiências que permitem às equipas nestes campos ou a forma como cumprem o seu papel no desenvolvimento das comunidades onde se inserem, não se limitando a utilizar as suas competências, mas sendo um catalizador das mesmas. 

Entrevista realizada pelo Iúri Branco, Parceiro de Conteúdo da comunicaRH