Cuidar de Pessoas: Uma responsabilidade intransferível!

Longe deviam ir os tempos em que, de forma quase inconsciente, todos apontavam a gestão de pessoas à área de Recursos Humanos (RH). Mas ainda hoje se convive com a tentação de tudo o que tem que ver com pessoas ser da responsabilidade dos RH. Se por um lado esta premissa é verdadeira, temos de a enquadrar no contexto organizacional sob pena de estarmos a cometer um tremendo erro estratégico e de não estarmos a entregar “o seu a seu dono”!

O seu a seu dono!
Pessoalmente nunca adorei o termo “área de Gestão de Pessoas”, não porque não faça sentido, mas acima de tudo porque é perigosamente interpretada e levada à letra por muitos gestores e líderes nas organizações, acabando por influenciar comportamentos de desresponsabilização, assumindo que é nestes departamentos que se gere efetivamente as pessoas, as suas necessidades diárias, a sua motivação e tudo o que faz parte do dia-a-dia de qualquer pessoa.

É aqui que começam habitualmente os problemas e as dificuldades de ligação entre chefias de topo e chefias intermédias e os conflitos interdepartamentais, e acima de tudo, onde se começa a culpar a “falta de comunicação” como sendo o maior problema “lá” da empresa. É certo que, em grande parte dos casos, também o é, mas (utilizando uma expressão muito contemporânea) nem tudo o que acontece de mal durante uma pandemia é culpa do vírus.

Pois bem, não deixar claro a quem cabe gerir e cuidar das pessoas é normalmente o primeiro erro estratégico que compromete fortemente a experiência que uma pessoa pode ter numa organização. Acredito e defendo diariamente que cuidar de pessoas é uma responsabilidade intransferível, cabendo a toda e qualquer chefia esse papel, e só uma chefia que gere e cuida das suas pessoas pode ostentar ser considerado um líder.

A importância de clarificar o verdadeiro papel dos RH nas organizações
Com três “clientes internos” bem definidos (o Líder, o Liderado e o Grupo), os RH devem ter uma atuação estratégica, devendo focar-se em contribuir ativamente para a melhoria da experiência das pessoas nas organizações, com foco nas necessidades individuais (líderes e/ou liderados) e coletivas (grupo).

Mais do que gerir pessoas, na prática, cabe aos RH o papel de definir uma estratégia em conjunto com a restante gestão de topo e operacionalmente atuar como um Business Partner, apoiando, aconselhando, formando e acompanhando os gestores e líderes na gestão das suas pessoas. Espera-se que acrescentem valor através das suas competências e conhecimentos especializados e, acima de tudo, através da diferenciada sensibilidade e do foco que conseguem ter nas pessoas e no seu bem-estar, funcionando como mediadores, influenciadores e verdadeiros guardiões da cultura e dos valores das organizações.

São estes “poderes especiais” dos profissionais de RH, este brilho no olho e energia positiva que podem influenciar positivamente os líderes e as suas organizações a criar um ambiente organizacional saudável e feliz.

Dessa forma os RH, serão, cada vez mais, entendidos como equipas essenciais ao
desenvolvimento individual e organizacional, assumindo um papel fulcral através da criação,
disseminação e implementação de ferramentas, processos, projetos, programas e artefactos
que permitam a construção de marcas fortes e atrativas, culturas saudáveis, e empresas mais
eficientes, sustentáveis e rentáveis.

Resiliência, posicionamento e mediação
Em suma, o desafio que lanço a todos os profissionais de RH é que, por um lado, sejam resilientes na procura por ocupar o lugar certo nas organizações e por assumir o papel que lhes cabe, liderando através da mediação (Em breve escreverei sobre o facto de mediar poder ser visto como a arte de liderar sem se ser chefe), e por outro lado, ajudem os líderes a perceber que cuidar de pessoas não é tarefa dos RH, e que essa é talvez a mais nobre e essencial missão de qualquer líder.