Desempenho: Sou bom!

Nas organizações compostas por seres humanos, qualquer que seja o seu enquadramento e modo de funcionamento, há sempre necessidade de se encontrarem mecanismos de avaliação e hierarquização, que permitam, reconhecimento pelo desempenho de uns e incentivo à melhoria de outros.

Isto, no panorama actual da generalidade das organizações (empresas, associações, clubes, etc), em que não se conseguiu ainda atingir (não sei se alguma vez se conseguirá), um patamar em que “todos sejam iguais e funcionem em partilha colectiva operacional e de decisão”.

Na grande maioria dos casos, a avaliação dos desempenhos de cada um vai-se fazendo, com metodologias mais ou menos formalizadas, pela apreciação feita “de cima para baixo”, com a recolha das informações e percepções feitas por quem “está em cima” acerca do desempenho “de quem está em baixo”.

Muito frequentemente, nessas avaliações, são usadas informações, consideradas mais ou menos relevantes por parte de quem avalia, de pessoas que “estão ao lado” de quem é avaliado.

Instituições mais sofisticadas têm desenvolvido outras metodologias de avaliação, em que se chega mesmo à avaliação 360º, e onde o avaliado é sujeito à apreciação do desempenho por parte de quem “está por cima”, mas também de quem “está ao lado” e mesmo de quem “está por baixo”.

Deste modo, os chefes chegam a ser avaliados pelo seu desempenho com o contributo da informação prestada pelos seus subordinados, o que obriga a que a actuação se tenha mais de orientar por um perfil de liderança, muito mais do que pelo perfil de chefia.

Liderar implica assim, ter a capacidade de funcionar como exemplo e ainda de se fazer respeitar pela sua competência e reconhecimento, muito mais do que pela imposição ou pelo medo.

No final da linha, sou levado a concluir que, é muito mais eficaz, muito mais respeitado e muito mais reconhecido aquele que tenta permanentemente inovar, servir de locomotiva aos outros, trazer a equipa a reboque motivada e a criar valor acrescentado, do que aqueles que gastam as suas energias na lamúria permanente da alegada falta de reconhecimento ou, pior ainda, no autoconvencimento de que são excepcionais e imprescindíveis.

Como bem sabemos da nossa realidade quotidiana, a distribuição das pessoas entre os fracos, os insuficientes, os normais, os bons e os excelentes, se faz em forma de curva, onde a grande maioria se encontra ao nível da normalidade.

Ao contrário do que acontece na maioria dos casos, em que as pessoas partem de um patamar da sua autoavaliação ao nível da excelência, o exercício deve ser, na minha modesta opinião, completamente invertido, e partir do patamar da normalidade, cabendo a cada um demonstrar, no concreto e pelas acções quotidianas regulares, quais as razões pelas quais deve ser considerado nesse patamar superior.

Fomos sendo formatados ao longo do tempo a ir fazendo do nosso percurso de vida, qualquer que seja o nível de intervenção, de uma soma consecutiva de coisas e tarefas que, de uma forma ou de outra, vão construindo um curriculum, que vamos usando variadíssimas vezes nos mais diversos pontos de paragem com que nos vamos confrontando.

E nesse curriculum, muitas vezes vamos acumulando o que fomos e as tarefas que fomos fazendo, mas nem sempre deixamos evidenciado o resultado conseguido, o grau de concretização dos objectivos ou as metas atingidas.

Na grande maioria dos casos, creio que seria possível cada um concentrar-se no que verdadeiramente foi fazendo com impacto significativo e resumir esse curriculum em uma ou duas páginas A4, deixando expresso o resultado dessa sua intervenção.

É que, qualquer beduíno que vagueia no meio do deserto percebe com grande facilidade a existência de uma montanha à sua frente ou ao seu lado, sem que seja necessário que lhe falem da mesma. Também qualquer caso de excelência nas organizações funciona, em regra, na mesma lógica da referida montanha, ou seja, fica tão óbvia que todos a vêm sem ser preciso falar dela.

Concentremo-nos, pois em “ser bons”, muito mais do que em apregoarmos que “somos bons”.