Estágios não remunerados: Sim ou não?

É de conhecimento geral que as ofertas de estágios extracurriculares não remunerados por parte de inúmeras empresas são abundantes e comuns no mercado de trabalho.

Fatores como as taxas de desemprego, o receio de não conseguir ingressar no mercado devido à sua instabilidade, a cultura incutida de que cada vez mais os colaboradores têm de ser flexíveis, a vontade de aprender, ou até mesmo a pandemia atual, Covid-19, são condições que podem influenciar fortemente a decisão de quem se depara com estas ofertas.

A questão que se insurge é: Estágios não remunerados, sim ou não?         

Enquanto estudante universitária na área de Gestão de Recursos Humanos, tive a oportunidade de ingressar tanto num estágio não remunerado como num estágio remunerado e posso afirmar que ambos trazem consigo vantagens e desvantagens.

Quer isto dizer que:

é importante colocar na balança diversos fatores e antes de tomar decisões garantir que a mesma se encontra equilibrada.  

A inexistência de remuneração num estágio deve ser considerado um fator decisivo?                    

 O facto de não existir remuneração num estágio não quer de todo dizer que a oportunidade com a qual nos defrontamos não é benéfica para nós, antes pelo contrário. Contudo, um estágio deve ser encarado acima de tudo como um espaço de aprendizagem, crescimento e evolução e quando isso não acontece é importante parar para refletir se realmente estamos no caminho certo.

Ora vejamos, podemos ingressar num estágio não renumerado que nos oferece um salário emocional que aposta na nossa formação e na valorização do nosso talento, ou seja, que proporciona um desenvolvimento profissional favorável, que aporta consigo um ambiente de trabalho saudável, que se foca em aumentar as nossas possibilidades de progressão de carreira e que nos permite relacionar com mentores internos das organizações que possuem a capacidade de liderar.

Por outro lado, podemos igualmente ingressar num estágio não renumerado que não estimula o desenvolvimento das nossas skills, onde não é concedido feedback, onde existem lacunas de comunicação recorrentes, no qual não nos identificamos com o conteúdo das tarefas inerentes à nossa função e onde desde cedo percebemos que o nosso futuro profissional não é considerado.

Atendendo aos cenários anteriores, a perplexidade de aceitar uma oferta de estágio não deve passar apenas pela remuneração, mas sim pelo impacto que essa experiência vai ter no nosso desenvolvimento individual a nível profissional, da(s) equipa(s) de trabalho em que nos vamos inserir e das próprias organizações. 

Quais os aspetos que podem ajudar a perceber quando vale a pena aceitar um estágio não remunerado?

Antes de tudo, é primordial que, enquanto candidatos a um estágio, estejamos esclarecidos sobre o conteúdo do mesmo para compreendermos até que ponto nos identificamos com a função.

Para além disto, devemos ter em consideração se o estágio que vamos aceitar irá complementar o nosso currículo, se é na nossa área de estudos, a duração do mesmo, se estamos alinhados com os valores e crenças da organização, se vamos conseguir expandir a nossa rede de contactos e se realmente vamos conseguir adquirir uma experiência relevante sem sentirmos que estamos a perder tempo.    

Por fim, a importância e o impacto dos estágios na educação e formação de quem chega pela primeira vez ao mundo do trabalho.    
A complexidade do mercado de trabalho tem vindo a aumentar ao longo dos anos, a globalização e o avanço das novas tecnologias obrigam cada vez mais as organizações a lidarem com as inseguranças do dia a dia, uma vez que o mundo que vivemos atualmente se caracteriza por ser um mundo em constante mudança, o mundo VUCA.

Isto, impôs que as empresas acompanhem a volatilidade, incerteza, complexidade e a ambiguidade do mercado de trabalho e para isso é fulcral identificar talento e formar colaboradores que se dediquem verdadeiramente àquilo que fazem e que acrescentem valor.    

Posto isto, os estágios possuem uma componente decisiva na formação de quem chega ao mercado de trabalho. e os mentores internos das organizações detêm um papel decisivo no crescimento e desenvolvimento profissional dos indivíduos.

Uma mentoria profissional inadequada ou a inexistência da mesma no início de carreira, podem influenciar negativamente a forma como quem está a aprender encara o mundo do trabalho e as suas mais valias.       

Os jovens são o líderes do futuro e quanto melhor a sua formação, melhores serão as empresas em que se inserem e maior será a competitividade existente no mercado de trabalho português.