Lançamento do Livro – FAÇO O PINO SE A EMPRESA DANÇAR O TANGO – TAKE 1- A BORDO QUEM É DE BORDO

LANÇAMENTO DO LIVRO – FAÇO O PINO SE A EMPRESA DANÇAR O TANGO

“Os duros não choram” e “dos fracos não reza a historia” – que citações fantásticas para descrever a minha empresa (ai este sentido de posse!) – correção – a empresa onde trabalho!

Os duros não o são e se chorassem seria um rasgo de humanismo e talvez deixassem de “meter agua” nas decisões estratégicas, pois já tinham expelido tudo sob a forma de lagrimas, mesmo que fossem de “crocodilo” e era um bom contributo para o tal toque genuíno dos bons líderes.

Agora ouve-se muito por estes lados “melhorar a performance” tipo carro de corridas” a quem juntamos gasolina aditivada, para chegarem ligeirinhos à meta, porque estamos numa fase de reestruturação e reorganização da empresa. Sim ouviram bem, temos de criar uma organização, qual “fenix renascida das cinzas, “mais competitiva e alinhada com um mercado global e digital” – esta frase é um rasgo de genialidade e inovação e consta de todos os documentos e discursos do nosso CEO o carismático Dr. António Luvinha D’ Rey – ele próprio!

Dirige os destinos da empresa há quase uma década, e antes de assumir este cargo, era Administrador de uma “Big 4.5” – uma versão mais moderna da clássica “Big 4”, com sede na Suíça e sucursal na Madeira (pus-me a pensar que esta escolha estava correlacionada com benefícios fiscais…mas depois parei com estas ideias porque não quero ser injusto e fazer juízos de valor…).

Estamos no processo de implementação de um grande projeto de mudança organizacional (Change Management para os mais proficientes), que exige um esforço de toda a equipa- até da nossa empregada de limpeza – Joaquina da Cruz Limpa Direitinho que foi renomeada Cleaning Manager, com as mesmas funções mas com a espada de Démocles de ter de aprender a ser uma “gestora” num claro desafio das suas competências (não tem equipa mas é uma expert em Rainbow, óleo de cedro e detergentes com cheirinho a sabão azul e branco!).

A Joaquina reportava a…ninguém, mas como o sistema de avaliação de desempenho exige um Manager, passou a reportar à Diretora de Segurança também renomeada Security Manager – Diamantina Garante Segura – escrupulosa e seguidora dos bons princípios da lei, sempre preocupada com o bem-estar do CEO, que quer manter seguro e saudável, na esperança de viver um grande amor, que tem vindo a adiar por falta de motivação emocional do próprio – para Dr. António D’Rey ela é invisível….Exceto quando há uma inspeção do trabalho e ai, temos prelúdio de amor com cafezinho bem servido em chávena de louça, para “alavancar” a assertividade da Diamantina.

Mas não nos desviemos do essencial e mais importante para a empresa: PINOTE – Projeto Inovação Organizacional Task Emporwerment, que tem como grande impulsionadora e mentora a Dra. Maria Benedita Heteria Pessoa, Diretora de Recursos Humanos e mais conhecida pelo diminutivo Bibi!

Era necessário promover a mudança, estávamos perigosamente à beira da falência do antiquado modelo piramidal e taylorista e, a falta de produtividade reinava lado a lado com burocracia e as toneladas de papel. A tomada de decisão era lenta e centralizada e o PINOTE prometia, qual panaceia milagrosa, tornar-nos todas pessoas “aditivadas” com uma performance de chorar por mais, e tornar a cultura organizacional numa fada democrática, onde todos podiam converter-se em “Managers” e decidir com a participação de todos, com destaque para a Joaquina que já estava à frente no tempo, e antes do PINOTE já opinava e decidia, concluímos que seria uma agente de mudança importante para dar o exemplo aos mais resistentes!

Um dos grandes resistentes à mudança organizacional é Alfonso Penteado Direito, o contabilista e colaborador com mais antiguidade na empresa, dono de um look anos 50, exibe um total descredito na raça humana, sempre tenso com a marmita do almoço a inundar a copa de aromas de pastel de bacalhau e arroz de grelos.

Quem gostaria de enviar o Alfonso para Marte é o jactante Dr. Rodrigo Janota Defesa da Cunha, Director de Marketing no seu entendimento e Director Comercial no entendimento do CEO, nada que o PINOTE não resolva atribuindo um novo titulo quase conciliador de Strategic Project Manager, que é suficientemente vago mas relevante para ser aceite “in dúbio para o réu”.

O resistente Alfonso reporta ao Diretor Financeiro Dr. João Contas do Rosário, que nutre por ele uma espécie de sentimento de compaixão e confia na sua integridade (porque ele é de desconfiar de pessoas tagarelas e que riem muito!) e o Alfonso nem uma coisa nem outra!

Mas não é de estranhar que esta dupla funcione, pois o pobre Dr. João Contas do Rosário, tem vindo a lidar com uma situação conjetural de SIFT – síndroma de insuficiência financeira terminal, por isso não tem olhos para mais nada que não sejam os balancetes e previsões de tesouraria que imprime e leva em passo apressado e esbaforido ao CEO, para sair sempre do gabinete mortificado pelos insultos, que sabe que não pode pessoalizar, como tão bem lhe diz a Dra. Bibi, que gostava imenso de o envolver no PINOTE, se ele tivesse tempo e…vontade!

Tenho agora de dissertar num parágrafo (não merece mais) esta questão quase metafisica dos doutores e doutoras que exibem os títulos logo ali, para início de conversa, precedendo o nome próprio, como se fosse uma grande borbulha alojada na ponta do nariz ou na bochecha, exuberante e autocrática, impondo-se no campo visual do outro. Na empresa onde trabalho todos os cargos de Direção têm borbulhas exuberantes e ai de quem sugira uma pomadinha para as eliminar!

O Dr. Rodrigo Janota Defesa da Cunha é um elitista, diz-se um marketeer, um estratega de mensagens subliminares dirigidas ao consumidor, mas francamente tenho algumas reservas sobre o seu auto reconhecimento hiperbolizado – vulgo gabarolice, tem uma excelente opinião sobre si próprio, o resto do mundo nem por isso.

A nossa Joaquina (mais um dos meus ataques de possessividade) está sempre a afirmar que “o homem precisa que lhe aspirem o cotão do miolo”, sou solidário com o seu vernáculo ainda que de forma muito discreta, para não ferir suscetibilidades.

Não sinto que esteja a cometer uma inconfidência (e se estiver paciência) se vos disser que o Dr. Rodrigo da Cunha (para abreviar o nome mantendo o apelido que mais se destaca) tem um “je ne sais quoi” pela Dr. Bibi e até já se ofereceu várias vezes para envolver-se com ela no PINOTE, mas sem grande sucesso, falta-lhe a inspiração e o engenho para pessoas, especialmente se não tiverem pedigree (somos uma empresa de plebeus em geral e isso é maçador para o guru do Marketing).

Só me falta mesmo apresentar o Diretor de Operações – Coronel José Patente Elevada, ex-militar, homem de grande devoção ao CEO (um cão de fila tipo Rottweiler que rosna e tudo) e que se gaba de ter dado luta ao inimigo sem dó nem piedade, portanto em caso de discordância, as represálias não se fazem esperar! Circula em tom de segredo, que colocou escutas em vários locais da empresa, para garantir uma “comunicação ordeira e controlada” porque assim é que é bonito e promove a lealdade assertiva! (assunto tabu para a Dra. Bibi que tem alergia a pelo de cão).

Quem sou eu? Desculpem não me apresentei: sou o narrador! A história é mais relevante do que o quem a conta, fico por aqui nas apresentações, e a partir destas vou tirar o Dr. e Dra. de todos os personagens, uma libertinagem que me concedo só desta vez!

Confesso que a minha empresa (outra recaída de possessividade) podia ser um estudo de caso, pessoas tão idiossincráticas que me questiono sempre onde conseguiram desencanta-las, são de facto “primos inter pares” numa escala generosa de insanidade.