Liderança humanizada – Carla Ribeiro entrevista António Rosa, Administrador da Lusoponte

A propósito das questões de uma liderança humanizada, voltada para as pessoas, com agenda para a saúde integral dos colaboradores, conversei com o atual Administrador da Lusoponte, António Rosa.

Princípio, Meio e Fim…
Quase nunca pensamos nas empresas desta forma, mas o atual Administrador da Lusoponte, António Rosa, mais do que pensar, tem de o sentir e viver, agora, mais do que nunca.

No início da década de 90 do século passado, são iniciados os preparativos para a construção da ponte.

“Foi uma operação muito complexa, com a necessidade de criar procedimentos, equipas, plataformas e a inevitabilidade de trabalhar com vários fornecedores, inclusive de outros países, nomeadamente ingleses e franceses”.

“Foi uma altura muito intensa, de grande contratação e tudo o que implica uma operação dessa ordem”.
Houve, sim, a exigência e desafio, e, identicamente, a vontade de “unir e agregar várias culturas, conhecimentos, formas de trabalhar, para que tudo funcionasse.

“Foi uma experiência única, e o mais importante foi a equipa, o cruzamento de experiências foi o que fez com que o processo fosse bem conseguido”. Há “laços que ainda (hoje) perduram, com pessoas que foram trabalhar para várias partes do mundo e com as quais ainda mantenho ligação”.

A partir de 1998, com a ponte finalizada, assumiu-se uma empresa “mais virada para a operação, com equipas obrigatoriamente diferentes, mas tentando aproveitar as pessoas existentes e o seu know how”.

“Desde o início passaram por nós avós, pais e filhos. Vimos nascer pessoas e vimos morrer pessoas.” É com particular comoção que fala do episódio dramático que viveram aquando do acidente que ocorreu durante a construção da ponte e refere que “se não houvesse esta força (humana e partilhada) e esta cooperação, (este espírito de equipa e entreajuda), teria sido ainda mais difícil”.

“Neste momento somos uma organização voltada para a operação e manutenção e (como é evidente), cada vez mais de manutenção, pelo envelhecimento da ponte, havendo inclusivamente, um programa de manutenção, para em 2030 deixar tudo em boas condições de funcionamento”.

Assim o é com a equipa, pela premência, “temo-nos dedicado à proteção (a todos os níveis), dos nossos trabalhadores”.

“Esta é uma gestão de proximidade às nossas pessoas. É mais uma Família, todos nos conhecemos, sabemos os problemas uns dos outros, de vária ordem, e tentamos ajudar e resolver”.

Acarinhar e acolher as pessoas, e as suas famílias, é um modo de estar. “Não o considero nada de muito excecional, apenas o fazemos. E não sou só eu, tenho uma equipa que partilha comigo esta visão, centrar nas pessoas”.

“As reuniões de performance são feitas com conversas abertas, e alguma diversão, onde as ideias fluem, e onde há um grande espírito de colaboração”.

Esta é “a minha forma de estar, e, embora, por vezes, seja difícil que contribuam, que tragam ideias, sobretudo os mais velhos, da minha geração, que é mais fechada, é fundamental ser humano o suficiente para as pessoas confiarem”. “Prefiro que me tragam os problemas e soluções do que o «Yes Man»!”
Acredita sempre na “melhoria contínua, através de todos os inputs, ajustando estratégia e procedimentos e, embora seja um cliché já muito ouvido, a verdade é que as empresas são as pessoas”.

Há que ter “este comportamento humano, senão torna-se insuportável e perde-se este elo comum que sustém as empresas”.

Quando questionado se considera ter uma liderança humanizada, responde que “é uma questão de respeito e sim, de humanismo”.

“No meu caso, a minha forma de gestão é natural, tenho sempre a porta aberta, recebo toda a gente que queira vir falar, portanto é, talvez, a minha forma de estar, nunca pensei muito sobre isso. É uma questão de caráter e saber ouvir, ouvir naturalmente. Traz os seus riscos, claro”.

Pedi para dar uma dica aos futuros líderes, ou aos mais recentes, retorquiu “Quem sou eu para dar dicas?

Mas talvez termos a empresa sempre aberta às pessoas e às suas ideias e respeitá-las, incentivá-las, tratar delas como se fossem a nossa família. Estar com as pessoas, pensar no seu bem-estar, na criação de uma comunidade, com objetivos comuns, é realmente uma força adicional”.

Falando de bem-estar, na Lusoponte dispõem de Psicólogo que faz consultas a quem desejar e participa em iniciativas de Well Being. Considerando que a medicina de trabalho não abarcava todas as necessidades, de igual modo disponibilizam uma Médica de Medicina Geral e Familiar, uma Nutricionista e uma Massagista, para além do seguro de saúde com o qual já eram contemplados. Estão, ainda, a adquirir desfibrilhadores.

Gosta de sublinhar que ouvem e têm em consideração o ponto de vista das pessoas, pelo que, todas as medidas advêm dessa escuta ativa. Um outro exemplo disso mesmo é o mega Cabaz de Natal que entregam nesta altura do ano e que surge em substituição da tradicional festa, com a concordância e de acordo com a preferência dos colaboradores.

Dispõem de um programa de desenvolvimento de competências, componente variável da remuneração, flexibilidade, entre outras medidas e benefícios.

O que prefere destacar é que, em momentos difíceis, tentam minimizar os efeitos, suavizar, integrar, tentando perceber as dificuldades e atuando, como o foi na altura da pandemia, ou em situações mais particularizadas.

Há a preocupação com o desenvolvimento e com a saúde integral dos colaboradores.

Verbi gratia, foi a ação de sensibilização em primeiros socorros em saúde mental, nos passados dias 19 e 24 de outubro, para todos os colaboradores, todos mesmo, já que houve a preocupação de fazer várias sessões com horários diferentes, para que todos tivessem oportunidade de participar. Também António Rosa esteve numa dessas sessões.

António Rosa é um Administrador que se comove, que reconhece as dificuldades e as conquistas, com uma versatilidade que pode ser compreendida neste artigo e que, com alguma emoção, nos menciona:
“O que deixa pena é o projeto (Lusoponte) terminar em 2030!”