O “ser” humano, no mundo corporativo.

Somos todos seres humanos, isso é um facto.

Mas será que todos nós sabemos realmente o que significa “ser” humanos? Existirá alguma directriz que nos indique como agir no mundo corporativo? Existirá algum manual da vida para o mercado de trabalho? Para as relações interpessoais?

Num tema tão subjectivo, quanto intrínseco à essência de cada um de nós, certamente que várias são as respostas as questões acima. Para mim, o “ser” humano no mundo corporativo começa com a percepção e aceitação de que somos todos iguais e, ao mesmo tempo, todos diferentes. E é esta uma das maravilhas da natureza e do ser humano – viver na unicidade e na diversidade, a um só tempo.

Porém, aqui reside a importância da diversidade e da inclusão no local de trabalho. A diversidade fomenta a criatividade e a inovação, trazendo uma ampla gama de perspectivas para a resolução de problemas. A inclusão, por sua vez, cria um ambiente onde todos se sentem valorizados e respeitados, independentemente das suas diferenças.

Cada um de nós tem a sua história. Cada um de nós foi exposto, desde cedo, a uma cultura e a uma forma de estar distinta. Esta exposição, aliada aos princípios com os quais crescemos, ajudaram a definir quem e como somos hoje, as nossas crenças, a nossa forma de estar e de nos relacionarmos com o outro e, até, como recebemos e enviamos mensagens ao Universo.

Não se faz aqui referência à “forma de ser de cada um”. Àquela que, a olho nu, corremos para caracterizar com adjectivos: introvertido(a), extrovertido(a), nervoso(a), simpático(a), calmo(a), sonhador(a), optimista, e a fila faz-se longa.

Refere-se, independentemente da nossa “forma de ser”, a nossa capacidade de perceber e respeitar as nossas diferenças, enquanto seres humanos. Perceber que não somos iguais uns aos outros e que isso não faz de nós seres superiores ou inferiores, incluindo quando se trata das relações no ambiente de trabalho. Portanto, é fundamental respeitar as nossas diferenças, é isso que nos distingue e engrandece.

Note-se que a referência aqui não é da “aceitação”, mas sim do “respeito”. Ora, se numa determinada situação temos dois intervenientes com opiniões destintas nenhum deles tem de aceitar a posição do outro ou forçar a sua. Se ambos respeitarem as opiniões um do outro e houver espaço para entender a motivação e argumentos um do outro, poder-se-á concluir que para a situação discutida melhor se enquadra uma delas, ambas ou até encontrar uma terceira opção que não só satisfaça a ambos, como também, que traga um melhor resultado.

No mundo corporativo, esse respeito também se traduz na gestão de conflitos. Trata-se de criar estratégias para resolver desacordos de uma maneira respeitosa e produtiva, permitindo que todas as vozes sejam ouvidas e que as diferenças sejam valorizadas.

O “Ser” humano no mundo Corporativo refere-se a praticarmos o que, actualmente, muitos se antecipam em dizer, talvez porque “esteja na moda” ou “é bonito de se dizer”, a empatia.
Já nos perguntamos o que significa ter empatia? O “calçar os sapatos do outro” (colocarmo-nos no lugar do outro)?

Empatia é despirmo-nos dos nossos princípios e crenças, da nossa opinião já lapidada do resultado que queremos e praticarmos a escuta activa, de mente vazia, sem julgamentos nem preparação da “próxima resposta”. Pois, isso mesmo! Muitas vezes, e não limitado ao nosso meio profissional, cingimo-nos a ouvir os primeiros 5 segundos do que nos é dito e bloqueamos a nossa mente, na ânsia de “rebater” o que vem a seguir.

Empatia é, também, compreender que as nossas acções e forma de comunicar pode despertar os mais diversos sentimentos nas pessoas, ainda que essa não seja a nossa intenção. Assistimos, nalguns momentos, a situações quer humilhação, quer de frustração que infelizmente fazem parte da experiência de muitos no seu local de trabalho. É aqui que a importância da saúde mental no trabalho entra em cena. Os empregadores têm a responsabilidade de promover ambientes de trabalho saudáveis, enquanto os indivíduos devem cuidar da própria saúde mental. O mundo corporativo deve ser um lugar onde “engolir sapos” é a excepção.

“Ser” humano, no mundo corporativo, é respeitar! Ainda que não concordemos.
Respeitar o trabalho do outro. Respeitar o tempo do outro. Respeitar a opinião do outro. Respeitar as escolhas do outro. Em suma, respeitar o outro.

“Ser” humano, no mundo corporativo, é exigir respeito através de acções e, se necessário, através de palavras.

Muitas vezes, o medo e o receio de perder uma oportunidade ou de perder o emprego faz com que nos submetamos a situações de desvalorização e frustração. Comumente, chamamos a isso “engolir sapos”. E pensamos: “Fazer o quê, mesmo? O mundo é assim”.

Confundimos o exigir respeito, que até dedicamos à pessoa, com insubordinação.
Para exigir respeito não é preciso ultrapassar nenhum limite, não é sinónimo de adoptar uma postura não ética. O exigir respeito começa no abandonar o pensamento ou possibilidade de rebaixarmo-nos face a quem quer que seja. Como seres humanos que somos, devemos respeito uns aos outros, e o mundo corporativo não é uma excepção.

O papel do líder, nesta matéria, é de tal importância que a empatia na liderança vai muito além da mera compreensão emocional. É um exercício de humanidade que pode trazer resultados tangíveis para o ambiente do trabalho. Líderes empáticos, aqueles que verdadeiramente escutam e tentam entender as perspectivas dos outros, estão equipados para cultivar ambientes de trabalho mais positivos e produtivos.

Por sua vez, a empatia também melhora a comunicação, uma vez que incentiva a escuta activa e a abertura para diferentes pontos de vista. Líderes empáticos são capazes de identificar e compreender os problemas enfrentados pelos membros da sua equipa, permitindo-lhes tomar decisões mais informadas e eficazes.

“Ser” humano, no mundo corporativo, é trabalhar a nossa capacidade de interpretar e gerir expectativas.

Aqui, a comunicação se faz um factor-chave. Não podemos, de maneira nenhuma, presumir que as pessoas conseguem ler os nossos pensamentos, o que acontece com muita frequência, sem que nos apercebamos. Assumimos, dentre outros, que sabem como nos sentimos. Que estão claras sobre o que queremos, sem que as tenhamos informado, ou que pelo menos, sabem a nossa opinião sobre determinada situação. O mesmo acontecimento, dependendo do nosso ponto de vista e do conhecimento que temos sobre a situação, pode ser interpretado de diversas formas. Não podemos assumir que todos o interpretamos sobre o mesmo prisma.

Assim, é importante que nos preocupemos com a nossa habilidade em comunicar eficientemente. É necessário trabalhar a nossa capacidade de expressar claramente as ideias, de ouvir activamente e de usar linguagem não verbal de forma eficaz. Ora, a nossa postura em cada uma das situações do nosso quotidiano é, também, uma forma de comunicar.

Porquê é que a comunicação eficaz é um elemento central para o sucesso nas relações de trabalho? É por meio dela que ideias são trocadas, projectos são desenvolvidos e conflitos são resolvidos. Uma comunicação bem-sucedida pode melhorar a moral da equipa, aumentar a eficiência e evitar mal-entendidos prejudiciais.

No entanto, comunicar eficazmente vai muito além das palavras que escolhemos. A linguagem não verbal, aquela que comunicamos através dos nossos corpos, também desempenha um papel crucial. Gestos, expressões faciais, contacto visual e postura podem transmitir mensagens tão poderosas quanto as palavras. E, em alguns casos, podem até contradizer o que estamos a dizer verbalmente.

Ora, um líder que constantemente evita contato visual enquanto fala pode transmitir desinteresse ou desconforto, independentemente do que as suas palavras possam sugerir. Da mesma forma, um colaborador que cruza os braços durante uma reunião pode parecer defensivo ou fechado para novas ideias, mesmo que verbalmente esteja a expressar abertura e cooperação.

Portanto, ao tentar comunicar eficazmente, é essencial estar ciente não apenas do que estamos a dizer, mas de como estamos a dizê-lo. Isto inclui controlar e entender a nossa própria linguagem não verbal, bem como ser capaz de interpretar a linguagem não verbal dos outros.

Grande parte do nosso tempo é passada no local de trabalho, com colegas, parceiros de negócio, clientes e fornecedores. Com a convivência passamos a perceber até os seus gostos e opiniões sobre os mais diversos temas. Tudo isto são dados que o nosso subconsciente recebe. Cabe a nós interpretar a informação que é gerada no nosso subconsciente. É daqui que surgem os “limites” que, sem que seja necessário verbalizar, colocamos nas nossas relações profissionais. É daqui que surge, por exemplo, a admiração pelos nossos líderes ou a indignação com o nosso chefe, colega ou cliente.

De certeza que alguns de nós já estivemos expostos a situações em que sentimos que alguém se aproveitou de nós, ou da nossa ignorância sobre algum tema, ou da nossa boa vontade em ajudar. Pois, será que se aproveitou ou, antes, explorou o espaço que permitimos que explorasse? E, porque o permitimos, “esperamos” que haja uma compensação, o que, muitas vezes, não ocorre. Criamos, assim, expectativas, as alimentamos e finalmente atribuímos a outrem a “culpa” por termos aquela expectativa insatisfeita. Já dizia Lauro Trevisan, em O poder infinito da sua mente: “Comece, porém, a pensar desde já: será que a culpa está fora de si, ou dentro de si?”

Líderes e colaboradores devem lembrar-se de que a comunicação é um processo bidirecional. Para ser eficaz requer tanto a capacidade de transmitir ideias de forma clara e concisa, como a capacidade de ouvir activamente e compreender o que os outros estão a comunicar. Somente quando ambos lados da comunicação são valorizados e praticados é que podemos criar um ambiente de trabalho verdadeiramente colaborativo e produtivo.

“Ser” humano no mundo corporativo envolve isso! No mundo corporativo pode ser ainda mais desafiador gerir diferenças culturais, sentimentos, interpretações, comunicação, expectativas… enfim, gerir uma variedade de situações nas nossas interações diárias no trabalho.

O que devemos treinar, constantemente, é a nossa consciência de que somos todos diferentes. É respeitar a tudo e a todos e fazermo-nos respeitar.

É ter e praticar empatia de forma consciente.

É comunicar de forma eficaz.

É ter liberdade – podermos tomar as nossas próprias decisões, e, concomitantemente, termos daí de assumir as respectivas consequências.