Os desafios de realizar pesquisas salariais em Moçambique

Toda a pesquisa salarial é encomendada a partir de uma pergunta de partida, que se pode resumir da seguinte forma: será que o salário que a minha empresa paga está abaixo, acima ou dentro da média do que pagam as outras empresas do mesmo sector? Esta é uma pergunta que tanto Gestores de topo, quanto os demais colaboradores fazem a si mesmos com alguma frequência, ainda que com objectivos distintos.

Do ponto de vista dos Gestores de topo, a escassez de candidatos qualificados, a necessidade de reter os seus quadros através de compensações competitivas e a necessidade de se destacar enquanto marca empregadora, é que suscitam esta pergunta de partida. Isto porque, com uma pesquisa salarial, conseguem adquirir informações comparativas do mercado, tratadas e filtradas por meio de critérios de validação estatística. Do outro lado, para os colaboradores, a resposta a esta pergunta de partida, permite-lhes aferir a justiça das compensações que recebem das respectivas empresas em comparação com o mercado.

Por mais interessados que os Gestores e os colaboradores estejam nos resultados dos estudos salariais dos seus sectores de actuação, em Moçambique, a realização deste tipo de pesquisas representa um grande desafio para as empresas de consultoria. Grande parte destes desafios decorre primariamente do posicionamento dos próprios Gestores e dos colaboradores quando convidados a participar. Para efeitos deste artigo, mencionamos alguns destes desafios:

1.Apesar de estarem interessados em conhecer as práticas salariais das empresas do seu sector, muitos Gestores recusam-se a admitir a participação oficial das suas empresas nas pesquisas salariais.

Enquanto manifestam interesse em conhecer as práticas dos outros, muitos Gestores demonstram pouca vontade de comprometer as suas organizações a participar activamente nas pesquisas salariais. Isto abre espaço para que as consultoras recorram a métodos não convencionais ou às suas Bases de Dados de processos de recrutamento e selecção para obter os dados salariais destes que se recusam a fornecer dados, em busca de atingir a representatividade nos dados.

Os dados das pesquisas salariais são frequentemente sensíveis ao tempo, uma vez que condições salariais e de compensação nas empresas mudam (quase) mensalmente, razão pela qual o recurso a Bases de Dados de processos de recrutamento deve ser devidamente ponderado.

2.Os Manuais de Funções, para o caso das empresas que os têm, divergem muito, mesmo quando se trata de empresas do mesmo sector. Os descritivos de funções, mesmo tratando-se das mesmas funções, divergem na especificidade das responsabilidades e nos requisitos de qualificação.

Este facto levanta a questão da validade da equiparação das funções. Isto porque, mais do que uma classificação quantitativa como habitualmente se faz, para uma pesquisa salarial fidedigna no nosso contexto é necessária uma homogeneização das funções ou então uma classificação qualitativa.

Porque a falta de uniformidade nas funções pode ser tomada por desorganização de um determinado sector, tem-se verificado importação de resultados de pesquisas salariais obtidos noutros contextos, que leva ao terceiro desafio selecionado para este artigo.

3.Algumas organizações têm preferido “comprar” resultados de pesquisas salariais supostamente conduzidas à distância, com pouco ou nenhum contacto directo com a realidade local e os assumem como válidos. Daí, em parte, a sua indisponibilidade para participar em pesquisas conduzidas localmente.

Ignorando todas as questões de eventual quebra de sigilo de confidencialidade quando são “vendidos” os resultados de uma pesquisa salarial, abordamos neste artigo apenas as questões metodológicas. Por isso, do nosso ponto de vista, à excepção dos sectores de actividade devidamente organizados e que possuam um organismo central ou um regulador que tenha contacto próximo com as práticas salariais e as devidas actualizações mensais, em todos os outros é muito difícil obter dados fidedignos à distância. Mais difícil ainda é obter resultados que estejam padronizados e aferidos ao contexto nacional.

Portanto, reconhecendo a importância de se realizar pesquisas salariais com alguma frequência, urge a necessidade de uma reflexão profunda sobre as metodologias que se enquadram no contexto moçambicano e as formas mais correctas de contornar os desafios aqui identificados. Pois, sem analisar as práticas do mercado, valorizar e reter colaboradores pode tornar-se um problema.