PORQUÊ ADIAR UMA DECISÃO?

A Raquel era a filha mais velha do Arnaldo, licenciada em Gestão, e tomava nas suas mãos a gestão da empresa que o pai tinha fundado há quase 40 anos.

O Arnaldo, apesar de continuar como Presidente do Conselho de Administração da Empresa, deixava a filha tomar conta dos negócios, estando sempre a acompanhar a evolução dos mercados e tecnologias e a apoiar nas decisões mais complicadas.

O Raúl, filho mais novo, com formação em Engenharia, embora acompanhasse de perto os negócios, dedicava-se mais às áreas da informática e das tecnologias, não acompanhava de perto as decisões económicas e de gestão, embora, quer a irmã, quer o pai, o incentivassem a estar atento às alterações que iam ocorrendo.

O Arnaldo achou que seria bom o Raúl ter maior abrangência na área da gestão e desafiou-o a conceber e a implementar uma nova área da Empresa, para responder a um segmento do mercado que manifestava alguma notoriedade e que não havia, no mercado nacional, empresas que conseguissem responder a este tipo de necessidades.

O Raúl não ia deixar escapar esta oportunidade de colocar os seus conhecimentos técnicos em ação e começou logo a delinear as linhas gerais do projeto, a tecnologia que deveria ser utilizada, como deveria ser implementada a nova linha de fabrico, em que local, elaborou o estudo de mercado, definiu as regras para a distribuição do produto no mercado, que tipo de financiamento necessitaria para o projeto, etc., e apresentou-os na reunião de Direção seguinte. Nesta reunião, estavam também os Diretores de Produção (Sales) e Administrativo-Financeiro (Albino), pessoas muito experientes e há muito ligadas à empresa.

O Arnaldo, como era hábito nestas situações de lançamento de novas linhas ou de alterações substanciais nos processos da empresa, pediu aos Diretores para estudarem a apresentação que tinha sido feita pelo Raúl e darem a sua opinião sobre o projeto.

O Albino, dois dias depois da reunião e depois de reunir com a Raquel e com o Raúl, de forma a esclarecer algumas dúvidas que lhe subsistiam sobre o financiamento, o estudo do mercado e quando se atingiria o break-even point, apresentou um memorando com as suas notas e conclusões sobre o projeto, sendo a sua opinião favorável ao projeto.

Já na área da Produção, o Sales teve alguma dificuldade em perceber como seria colocada a nova linha de fabrico, com que recursos, que formação teria de dar aos seus trabalhadores para que conseguissem manipular as novas máquinas, alguma desconfiança sobre a nova tecnologia que parecia ser muito boa, mas ainda havia pouco ou nada disso no mercado e estar desconfiado desse tipo de máquinas … Com isto tudo, ficava desconfortável e tinha receio de abordar o Raúl e demonstrar isso mesmo, a sua desconfiança, o seu receio de que houvesse problemas na nova linha e que pudessem afetar as linhas de fabrico tradicionais.

O tempo foi passando e o Raúl, numa conversa de café com amigos, falou deste projeto e do tipo de tecnologia que iria utilizar, despertando nos seus amigos a curiosidade e a vontade de saberem mais.

Um deles, cuja empresa do pai se encontrava no mesmo setor, avançou com as dicas que o Raúl lhe tinha dado e implementou uma linha de fabrico nova, respondendo aos anseios do mercado e escalando a empresa do pai para um novo patamar de rentabilidade e de notoriedade.

Ao saber destes desenvolvimentos, o Raúl solicitou uma nova reunião de Direção para abordar o que se passava com o pedido que tinha sido feito.

Ao se apresentar na reunião, o Sales esclareceu que tinha ficado com algumas dúvidas e que não tinha falado por ter receio do que pudessem pensar das suas hesitações, pedindo de imediato desculpa pelo facto dessa atitude ter causado eventuais prejuízos para a empresa.

Nesta reunião, foram esclarecidas todas as dúvidas da parte operacional pelo Raúl e pelo Arnaldo, a área financeira (o Albino e a Raquel) explicou que valores seriam dedicados à formação e ao recrutamento de pessoal qualificado para operar as máquinas neste novo contexto. Enfim, todas as questões que o Sales tinha ficaram esclarecidas, embora isso tenha provocado um atraso de um par de semanas na implementação deste novo processo.

Face ao tipo de negócio que era, havia espaço no mercado para mais do que uma fornecedora deste tipo de bens, não esgotando ainda a procura existente, permitindo que coabitassem sem prejuízos, nem com uma diminuição significativa da margem de rentabilidade em ambas as empresas.

O processo de decisão é uma tarefa difícil, nem sempre temos toda a informação no nosso conhecimento, nem sempre temos todos os dados para avaliar corretamente a situação, nem sempre temos a melhor perspetiva para decidir.

Mas, deveremos sempre procurar dispor de um mínimo de informação que nos deixe confortáveis com a decisão, pesar os prós e os contras de cada uma das opções, escolher os cenários que melhor se poderão aplicar a cada decisão, enfim, reunir o máximo de informação disponível para que a decisão seja o mais ponderada possível.

Mas, bastante pior que decidir é não o fazer: hesitar, pode ser bastante mais prejudicial do que decidir mal, agindo com base na informação que dispomos neste momento. Quando se decide e se conclui que se decidiu mal porque apareceu informação relevante e que, na altura, não conhecíamos, podemos ajustar, infletir a nossa posição, corrigir os nossos passos ou, no limite e quando possível, voltar atrás. Quando não se decide, deixamos as coisas correrem como estão, as dúvidas permanecem, mais informação nem sempre é melhor informação, e podemos estar a perder tempo ou o nosso negócio (ou a desperdiçar tempo na nossa vida, no caso pessoal).

Neste exemplo, o mercado tinha condições para alojar mais um novo produtor sem reduzir drasticamente as margens, o mercado poderia ser amplificado, com um segundo fornecedor deste tipo de bens. Mas, quantas vezes isso não acontece? E a culpa é sempre nossa: se não hesitássemos, se não tivéssemos esperado por um melhor momento, se não permitíssemos que alguém nos atrasasse um sonho, um projeto, uma vida, nada disso aconteceria