Sucesso profissional é assumir cargos de liderança!

Vivemos num mundo onde o sucesso é mandatório: todos temos que ser vencedores e super bem-sucedidos. Profissionalmente essa “exigência” é bem visível e somos cobrados pelos pares e até por nós mesmos. Para muitos de nós, esse sucesso é percebido como alcance de cargos de liderança/chefia e títulos académicos. No nosso mercado, somos medidos ou medimos, pelos títulos e cargos que carregamos.

Mas me questiono várias vezes: será mesmo esse o auge das nossas carreiras profissionais? Será que existem outras formas de alcançar sucesso profissional? O que é o sucesso verdadeiramente?

Etimologicamente a palavra sucesso deriva do latim “sucessus,us”, que pode significar entrada ou êxito. Nos dicionários sucesso pode ser definido como “Acontecimento favorável; resultado feliz; algo ou alguém que obteve êxito”.

Creio que na nossa conjuntura económica e social, o trabalho seja visto por uma lente “mecânica” por grande parte da massa laboral como somente fonte de rendimento e meio de posicionamento social. Então, quanto mais alto o cargo e maior o rendimento, mais bem-sucedido profissionalmente alguém é.

Valorizamos os profissionais que ocupam cargos de liderança ou chefia (conforme o perfil) ou ostentam títulos académicos, pois entendemos que eles sejam casos claros e inequívocos de sucesso profissional.

O prazer, a paixão e satisfação pelo nosso trabalho são colocados em segundo plano e muitas vezes completamente esquecidos ao longo das nossas carreiras profissionais.

Temos a sensação de não haver espaço para utopias, mas sim manter os pés no chão e aceitar o que o mercado oferece. Muitos de nós fizemos faculdade em cursos que não estão alinhados com o nosso verdadeiro ser, mas porque era o socialmente aceitável, e partimos para o mercado de trabalho com a mesma mentalidade. Não é incomum vermos profissionais que estão nos seus postos de trabalho somente para ter o salário no final do mês, sem nenhum envolvimento mais profundo com a empresa ou com a atividade.

Cada vez mais vamos ganhando consciência que não podemos aplicar a mesma régua para todos. Muitos são aqueles que definitivamente não tem perfil para liderança e/ou não tencionam assumir esses cargos, tornando-se a situação um fardo pesado para eles desenvolver o seu trabalho nessas posições.

Sobre títulos, várias foram as vezes que já me deparei com profissionais que “exigiam” que fossem tratados por “Dr., Sr. Eng” para se destacar perante os demais. Eu mesma já fui diversas vezes chamada de “Dra.”, dentro e fora das empresas em que atuei, ao que sempre respondi em tom de brincadeira “não sou formada em Medicina”. Mas vemos aí o viés cultural também sobre a importância dada a títulos.

A dias li um artigo que falava sobre carreira profissional de sucesso e como é tão complicado alcançá-la. No referido artigo, a autora diferenciava realizações/conquistas de sucesso profissional, no sentido em que –

ter títulos, cargos, salários e benefícios, não eram sinónimo e nem garantia de sucesso na carreira.

Na sua ótica, as nossas realizações garantem-nos estabilidade financeira, mas não sucesso, na medida em que este é alcançado quando para além dos ganhos financeiros o nosso trabalho nos alimenta a alma, nos traz alegria, está alinhado com as nossas paixões e aspirações pessoais.

Eu não poderia concordar mais com esta perspetiva, uma vez que, cada vez mais, este conceito vai se enraizando em mim como profissional que sou e também estou trilhando os caminhos para atingir o meu sucesso profissional. Particularmente sinto que no nosso mercado ainda temos um caminho longo a ser percorrido no quesito sucesso profissional. Esta perspetiva é ainda conflitante com a realidade do terreno.

Precisamos normalizar que nem todos queremos ter altos salários e cargos, níveis académicos, e aderir a essa norma da sociedade e do mundo corporativo. Para muitos, desenvolver uma atividade profissional que lhes permita ter tempo para si, família, ou mesmo perseguir outras paixões, é em si o sucesso profissional.

Oportunidades profissionais que possam não estar vinculadas a remunerações de alto padrão, mas que tenham um grande significado para o individuo, também são validas e bem-sucedidas. Temos que tomar em consideração o indivíduo na sua qualidade de ser único e particular.

Com isto digo que possa ser o momento de refletirmos sobre o nosso percurso e identificar o que nos toca profundamente, o que verdadeiramente queremos alcançar e os passos que devemos tomar para tal.

Mas falando assim parece ser meio romantizado e fora da realidade. Infelizmente, devo concordar que realmente, nem sempre aquilo para o qual nós temos inclinação é financeiramente sustentável. Mas aí está o desafio e graça de todo processo, buscando esse equilíbrio e consequentemente o nosso sucesso profissional verdadeiro.