TAKE 9 – “Não julgue o livro pela capa”
– Ainda não se sabe quem será o novo CEO? – Rodrigo Janota da Cunha, foi direto ao assunto, em abordagem intimista com o Patente Elevada, o Diretor de Operações, militar fervoroso. Este poderia ter alguma informação “privilegiada”, advinda da sua reputação de promover “escutas especiais” sempre ao serviço da segurança da empresa e quem sabe até da nação!
– Porque pensa que eu tenho informação? Olhe que a curiosidade matou o gato! – O leitor imagine o ar matreiro de uma raposa com os olhinhos semicerrados a mirar a sua presa, pois era mesmo essa a expressão que o Patente Elevada lançou ao Rodrigo Janota!
– Bom, simplesmente e sem qualquer segunda intenção, ocorreu-me que poderia elucidar-me, caso tivesse alguma ideia sobre o tema… – O semblante inocente escondia por trás outra raposa matreira, a mirar a primeira raposa – era um verdadeiro episódio do “National Geographic”
– Aprecio a nossa relação profissional e, tenho por si uma admiração pessoal, e nesse espirito, apenas adianto, em tom de confidência, que o novo líder desta empresa, o futuro CEO, é alguém que não faz parte nem da minha nem da sua network, porque não é português, mas fala a nossa língua com alguma razoabilidade, isto pode ser um mau presságio para a estabilidade que vivíamos, enquanto Direção, todos muito coesos…talvez não considere neste círculo de confiança a nossa Diretora de Recursos Humanos…mas só porque foi contratada muito depois de nós. Ainda está em período “experimental” quanto á confiança para partilhar os “nossos pequenos segredos” – Patente Elevada sofria de uma verborreia súbita e, Rodrigo Janota estava extasiado, com os ouvidos no volume máximo, para não perder pitada.
– Esta a dizer-me que o novo CEO é estrangeiro? Sabe que as diferenças culturais podem ser um grande obstáculo, digo isto em abstrato, pois no meu caso além de ser proficiente em pelo menos três línguas, a minha experiência internacional, coloca-me num lugar privilegiado para uma integração cultural perfeita! A isto chamamos diversidade e inclusão, só um marketeer como eu se permite viver à frente no seu próprio tempo… – Rodrigo tinha soltado o seu alter-ego – o “Homem Pavão” e nada o detinha de entrar em modo “me, myself and I”.
– Pois Caríssimo Rodrigo Janota, gostei da sua menção à adversidade (!?), hoje em dia temos de aceitar as diferenças e há que ajustar “a dança ao som da orquestra”, eu tenciono “armar-me” das melhores munições para ganhar a batalha, mas tudo isto numa missão diplomática irrepreensível, há que saber viver! – A palmada amigável mas energética que o Patente Elevada infligiu no braço do Janota, ecoou no corredor.
Ao fundo desse mesmo corredor, talvez atraída pelo som, como os mosquitos pela luz, foi-se aproximando de forma discreta (dentro do possível!) a Joaquina Limpa Direitinho:
– Olha quem são eles, os Diretores estão a falar de coisas importantes? É uma reunião de trabalho no corredor? Ou estão só fazer uma pausa? – A Joaquina era outra raposa matreira (a terceira a juntar-se, não sendo animais gregários, podemos sempre dizer que um conjunto de raposas é uma raposada), e isto prometia!
– Joaquina que mania a sua de se meter nos assuntos dos Diretores, tem de tentar colocar-se no seu lugar! – Patente Elevada franziu o sobrolho, em sincronia perfeita com o sobrolho do Rodrigo Janota…
– Olhe Dr. sabe que eu sei muito bem qual é o meu lugar, e agora o meu lugar vai ser no camarote, como nos jogos de futebol, e digo isto porque os políticos andam ai a falar de quotas, dessa coisa de as empresas terem mulheres a mandar em igualdade com os homens, e isto por aqui vai mudar, o grande chefe que vem do estrangeiro, afinal é uma ela! Está dito e agora é que vamos ver quem ganha!
Nesta festa de raposas, a Joaquina fechou o banquete com a chave de ouro, deixou dois pesos pesados a correr atrás da própria cauda, e afastou-se com um aceno e um movimento de anca que gritava “vitória do espanador sobre a caneta”!
Takes anteriores:
Take 8 – A insondável arte da entrevista
Take 7 – Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades