Teletrabalho: Onde será que você está agora?
Meu nome é Marcelo Madarász, sou brasileiro, moro em São Paulo e fiquei muitíssimo feliz com o convite para escrever para um público que fala português, que está em Portugal e outros países que falam nosso amado idioma.
Poderia discorrer sobre meu amor por Portugal, mas esta será outra história. Fiquei pensando em como minhas palavras poderão alcançar muitas pessoas que estão fisicamente distantes e onde estariam estas pessoas. Pensei em tudo que nos aproxima, que vai muito além da mesma língua, de algumas paixões em comum e principalmente em tudo que nos diz respeito por sermos humanos e, portanto, sujeitos à todas as dores e as delícias de nossa trajetória neste planeta.
Estamos vivendo um momento bastante desafiador, após mais de dois anos de uma pandemia que abalou tudo que conhecíamos e com o qual estávamos acostumados. Muito se fala no desejo ardente de alguns de voltarem ao “normal”, mas de que normal estamos falando?
Um normal no qual muitos estavam acomodados e nem percebiam mais que havia algo de “podre” e não era apenas no Reino da Dinamarca. Se pensarmos em tudo que está acontecendo hoje, podemos concluir que muita coisa incomodava, mas as pessoas simplesmente não se dedicavam a pensar nisso.
Números assustadores de pessoas com crises de ansiedade, de depressão, de usuários de drogas lícitas e ilícitas para suportarem o tranco. No mundo do trabalho, cada vez mais pessoas adoecendo e nem conseguimos identificar se os núcleos patológicos já existiam antes dos conflitos organizacionais ou se as empresas seriam as responsáveis pelo número crescente de pessoas com distúrbios mentais com repercussões muitas vezes graves.
O fato é que tivemos que aprender novas maneiras de trabalhar e mesmo as empresas mais conservadoras e tradicionais se deram conta que ou adotavam o trabalho remoto, ou adotavam o trabalho remoto, ou seja, não havia outra opção. Para algumas a adaptação foi mais fácil, para outras isto representou uma verdadeira revolução.
As empresas, de forma geral foram bem sucedidas e os colaboradores conheceram um mundo que estava debaixo de seus narizes, mas que não era acessível, ou seja, antes da pandemia, ninguém imaginava que poderia trabalhar de forma remota, seja em sua residência, seja em qualquer outra localidade e ser tão produtivo. Passada a fase inicial de adaptação, as pessoas se acostumaram e gostaram muito. Começaram a ter possibilidade de uso do tempo, que há muito haviam perdido.
No momento atual, no qual muitas empresas estão programando o retorno ao modelo presencial, o que está acontecendo é que muita gente não quer retornar ao mundo anterior. Preferem não renunciar à qualidade de vida que o trabalho remoto lhes permitiu.
Resta saber se as empresas serão estratégicas o suficiente e inteligentes, sensíveis para acomodar seus interesses e necessidades, com o interesse e as necessidades de seus colaboradores. O próprio fenômeno de demissão em massa que está acontecendo nos Estados Unidos e, numa escala menor em outros países, obrigará as organizações a criarem alternativas, sob o risco de perderem seus talentos que asseguram a sustentabilidade de seus negócios.
Tomara que desta desafiadora experiência saiamos todos muito mais fortalecidos e preparados para uma nova e melhor modalidade de vínculo entre empresas e colaboradores, num mundo melhor para todos.