Você é um Líder de que Século?

No cenário empresarial contemporâneo, onde as mudanças ocorrem a uma velocidade exponencial, torna-se crucial questionarmos: Você é um Líder de que Século? Observando à minha volta e interagindo com dezenas de líderes semanalmente, percebo uma dissonância significativa: muitos ainda operam com uma mentalidade de liderança do século XX.

Mas o que isso realmente significa? Em conversa recente com Beia de Carvalho, renomada futurista brasileira, discutimos como muitos líderes ainda pensam e agem com a mentalidade do século passado, apesar de estarmos bem inseridos no século XXI. Esta observação manifesta-se claramente no modo como algumas lideranças continuam a priorizar o controlo rígido e os resultados de curto prazo, em detrimento do bem-estar e do desenvolvimento das suas equipas.

No livro Liderança Disruptiva, José Salibi Neto e Sandro Magaldi alertam para a persistência de uma mentalidade anacrónica, semelhante à dos tempos da Revolução Industrial. Nesse período, a liderança focava-se unicamente na produção e na eficiência operacional. Recorda-se de como era? Um foco total na produção e nada mais.

O líder do século XXI precisa de reconhecer que a era da produção em massa e do trabalho mecânico está ultrapassada. Vivemos num momento em que a inteligência artificial e outras inovações tecnológicas estão a transformar drasticamente a nossa forma de trabalhar. Assim, já não há espaço para negócios centrados numa mentalidade de linha de produção, sem considerar o bem-estar das pessoas.

A Importância do Propósito nas Empresas

As pessoas hoje procuram, cada vez mais, trabalhar em empresas que possuam um propósito claro e significativo. Segundo uma pesquisa realizada pela Deloitte em 2023, 60% dos Millennials e 58% da Geração Z afirmam que escolheriam uma organização baseada nos seus valores e impacto social, mesmo que isso significasse um salário mais baixo. Este dado é um claro indicador de que o propósito e os valores da empresa se tornaram decisivos para a atração e retenção de talentos.

O “efeito dominó” é evidente: os resultados são consequência de um bom trabalho. Para atingirmos os picos desejados de resultados, precisamos de colaboradores engajados, felizes e saudáveis. Esta é a principal diferença entre o líder do século XXI e aquele do século XX. O líder moderno apoia a sua equipa, serve como parceiro e é um facilitador que dá suporte ao processo. Este líder entende que o caminho para o sucesso passa pelo desenvolvimento de uma cultura organizacional positiva e pela promoção do bem-estar entre os colaboradores.

Desenvolvendo o Pensamento Crítico e Estratégico

Como líderes, num mundo onde a exponencialidade dos factos é uma realidade incontornável, é vital que não apenas busquemos resultados, mas que também promovamos o pensamento crítico e estratégico entre as nossas equipas. De acordo com Peter Drucker, “a rotina devora a estratégia ao pequeno-almoço”. Em outras palavras, se não cultivarmos um ambiente que incentive a inovação e o pensamento
estratégico, corremos o risco de sermos constantemente absorvidos pelas operações diárias, sem espaço para o crescimento e a evolução.

No meu papel como dirigente de uma das principais escolas de negócios africanas e na criação de programas executivos, dedico-me a levar essa consciência aos líderes em formação, assim como à minha equipa. Aplico essa mentalidade no dia a dia, incentivando o desenvolvimento de uma visão estratégica e a valorização do bem-estar das pessoas. Um dado excelente neste meu ciclo é que tenho uma líder que acredita que os bons resultados estão atrelados a pessoas felizes. Então, a conta fecha lindamente para esta construção.

Superando a Resistência da Cultura Organizacional

Apesar do desejo de muitos líderes em se adaptarem e se tornarem conectores modernos, a realidade é que muitas vezes a cultura organizacional e as lideranças imediatas podem ser resistivas e ainda estar arraigadas no passado, exercendo grande poder sobre o controlo de toda a gestão, dificultando a autonomia das pessoas em promoverem ambientes mais favoráveis a uma construção engajada. Não é um processo fácil, mas a transformação de comportamentos é fundamental. A resistência pode ser superada com uma abordagem consciente e gradual, promovendo a mudança cultural através do exemplo e da implementação de práticas que valorizem as pessoas e o seu desenvolvimento.

Estratégias para uma Liderança Eficaz no Século XXI

Para facilitar a transição para uma liderança mais alinhada com as exigências contemporâneas, aqui estão algumas atividades que podem ser adotadas imediatamente:

  1. Fomentar a Comunicação Aberta: Incentive um ambiente onde todos possam expressar as suas ideias e preocupações sem receio. Utilize reuniões de feedback regulares para identificar e resolver problemas rapidamente.
  2. Promover o Bem-Estar: Implementar programas de bem-estar que incluam apoio à saúde mental, flexibilidade no trabalho e oportunidades de desenvolvimento pessoal.
  3. Valorizar a Diversidade: Crie uma cultura que celebre a diversidade e a inclusão, reconhecendo que diferentes perspectivas enriquecem a tomada de decisão e a inovação.
  4. Apoiar o Desenvolvimento Contínuo: Ofereça oportunidades de formação contínua e de desenvolvimento de habilidades que preparem a sua equipa para os desafios futuros.
  5. Adotar uma Liderança Servidora: Mude o foco do controlo para o apoio. Ajude a sua equipa a atingir os seus objetivos fornecendo os recursos e o suporte necessários.

O líder do século XXI é aquele que se adapta ao agora, que compreende que a verdadeira inovação começa com as pessoas e que os resultados são uma consequência natural de uma equipa engajada e bem cuidada. A liderança eficaz não é apenas sobre alcançar metas; é sobre construir um ambiente onde cada indivíduo possa prosperar e contribuir com o seu melhor. Como líderes, temos a responsabilidade de moldar o presente e preparar o futuro, criando uma cultura que valorize o bem-estar, a diversidade e o desenvolvimento contínuo.