Com a mudança do clima, como assegurar um trabalho seguro e saudável, sobre a perspectiva de Gestão de Pessoas na Área da Saúde

De acordo com as primeiras estimativas conjuntas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), relacionadas com o trabalho 2000-2016 (1) , há identificação de 19 fatores de risco ocupacional, como exposição a longas jornadas de trabalho e exposição no ambiente de trabalho à poluição do ar, a substâncias cancerígenas e a riscos ergonômicos que causam o adoecimento profissional. Além do aumento em mortes por doenças cardíacas e derrames associados à exposição a longas jornadas de trabalho. Isso reflete uma tendência crescente neste fator de risco ocupacional relativamente novo, ambiental e psicossocial.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) ao mesmo tempo que celebra o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, escolheu o dia 28 de abril deste ano, para abordar um tema pertinente “Impactos das mudanças climáticas na segurança e saúde no trabalho”.

Além dos impactos ambientais evidentes, como o aumento das temperaturas globais e a frequência de eventos climáticos extremos, como tempestades intensas e secas prolongadas com mudanças significativas no mundo do trabalho, especialmente na segurança e saúde dos trabalhadores, representando uma das maiores ameaças do século XXI e um grande desafio para as áreas de Segurança e Saúde do Trabalhador – SST e Gestão de Pessoas.

A gestão de pessoas e o SST desempenham papel crucial na mitigação desses impactos e na proteção dos trabalhadores de saúde.

No entanto as ações não ficam restritas à essas duas áreas, as lideranças também podem contribuir para a segurança do ambiente profissional estando atento aos seu quadro de trabalhadores, identificando aqueles que, diante das características do trabalho ou em decorrência do seu próprio perfil de saúde, podem estar mais suscetíveis a esses impactos.

Perspectivas e desafios
No Brasil, observa-se uma ampla discussão envolvendo o tema de mudança climática, progressivamente com os setores governamentais, não governamentais e a comunidade em geral, incorporado como uma questão estratégica que inclui a área da saúde(2).

Segundo estudo realizado pelo programa Desafio a Saúde pelo Clima(3), que reúne organizações de saúde ao redor do mundo comprometidas em tornarem-se mais resiliente e reduzirem progressivamente suas emissões para cuidar da saúde das pessoas e do planeta, as mudanças do clima afetarão diretamente a capacidade dos sistemas de saúde de desenvolver suas atividades, não apenas pelos efeitos de desastres naturais mais frequentes, como principalmente pela redução ao acesso a recursos essenciais, como água ou energia, recursos humanos e pelo impacto de crises sistêmicas de ordem econômica e social.

O desafio para mudar o cenário é enorme. Os profissionais e as organizações de saúde podem – e devem – assumir papel destacado, aplicando práticas inovadoras nas próprias unidades de saúde enquanto lideram o debate acerca dos principais temas da saúde ambiental. Por isso, o Desafio a Saúde pelo Clima incentiva que as organizações de saúde ampliem sua ação climática com base em três pilares:

A partir dos três pilares aqui identificados, a gestão de pessoas pode desempenhar um papel crucial na identificação e mitigação desses riscos, relacionados às mudanças climáticas, garantindo um ambiente de trabalho seguro e saudável para todos os trabalhadores.

Sobre o aspecto da liderança, a gestão de pessoas pode trabalhar em conjunto com as lideranças para desenvolver estratégias de longo prazo que abordem os desafios das mudanças climáticas no ambiente de trabalho, como a criação de políticas de sustentabilidade e planos de ação para emergências. Promovendo uma cultura organizacional de segurança, por meio de programas de incentivo à segurança, práticas de liderança pelo exemplo e reconhecimento de comportamentos seguros.

Pode ainda desenvolver programas de capacitação sobre os impactos das mudanças climáticas na saúde e segurança ocupacional, fornecendo informações atualizadas e diretrizes sobre as melhores práticas de mitigação de riscos(4).

Desenvolver resiliência, pode incluir medidas de proteção, melhorias nas condições de trabalho e mudanças nos processos organizacionais. Implementar sistemas de monitoramento contínuo para avaliar os riscos climáticos e a eficácia das medidas de mitigação adotadas, permitindo ajustes quando necessário.

A área de gestão de pessoas também pode criar canais de comunicação eficientes entre os trabalhadores e as lideranças, garantindo que as preocupações e sugestões dos funcionários sejam ouvidas e levadas em consideração nas decisões de gestão.

E estimular à inovação, apoiando lideranças e trabalhadores na busca de soluções criativas para o enfrentamento das mudanças climáticas, com novas tecnologias de controle ambiental ou práticas de trabalho mais sustentáveis, mitigando riscos.

Apresenta-se aqui 8 estudos de caso brasileiros de organizações membros do Projeto Hospitais Saudáveis, com informações e estratégias de como lidar com os desafios climáticos.

Acesse: https://hospitaissaudaveis.org/BibliotecaLer/146

Nota:

[1] “Estimativas conjuntas da OMS e da OIT sobre o ônus de doenças e lesões relacionadas ao trabalho, 2000-2016 ” – acesso abril/2024 – wcms_819788.pdf (ilo.org).

[2] Mudança Climática e Saúde: um perfil do Brasil / Organização Pan-Americana da Saúde ; Ministério da Saúde – Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde, 2009 – https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/mudanca_climatica_saude.pdf – acesso em abril/2024.

[3] Hospitais Saudáveis – Programa Desafio à saúde pelo clima – https://www.hospitaissaudaveis.org/DesafioClima – acesso em abril/2024.

[4] Organização Internacional do Trabalho. (2019). “Working on a warmer planet: The impact of heat stress on productivity and decent work.” Geneva: International Labour Office.](https://www-ilo-org.translate.goog/global/publications/books/WCMS_711919/lang–en/index.htm?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc – acesso em abril/2024.