Competição X Cooperação na cultura organizacional

  • “A gentileza não ocupa lugar”

A natureza é competitiva em todos os sentidos. A sobrevivência exige que os mais fortes resistam às provações.  A competição motivada pelo capitalismo sempre levou o profissional a adotar uma conduta fria e racional nos negócios, tendo como único objetivo lucrar e destacar-se. E com base nesta filosofia de vida, somos formatados desde pequenos a competir, para sermos melhores que os outros (em vez de focarmos no nosso melhor, ou focarmos em sermos melhor que fomos ontem).

Aquilo que nos dizem é que a vida é uma competição de velocidade, uma correria desenfreada, e quem fica para trás é automaticamente “desclassificado” ou eliminado, e com isso, corremos contra o tempo, sem apreciar o processo de crescimento e amadurecimento profissional, porque estamos preocupados com o outro. Não no sentido de “olhar pelo outro”, mas sim para não sermos ultrapassados. E assim nasceu a competitividade insustentável, através da qual acreditamos que para alguns ganharem, os outros devem perder.

O que muitos não compreendem é que do outro lado, existe a cooperação que representa uma cultura mais humanizada, promovendo mais equilíbrio nas relações empresariais internas e externas, tornando-se muitas vezes num diferencial competitivo.

Todos temos o dom de nos focarmos naquilo que é importante para nós. E, quando aceitamos e confiamos na verdade que transportamos, no potencial que nós temos, a nossa direção alinha-se. O caminho não tem de ser lógico, nem previsível, mas tem de ser o nosso caminho. É isso que o torna especial. Não devemos nos alinhar na mentalidade da competição, devemos sim focar em viver o nosso processo de melhoria contínua diariamente, porque a vida nasce onde semeamos a nossa atenção.

Na verdade, o ideal seria percebermos que no mundo há lugar para todos, desde que cada um saiba o seu lugar.

A vida tem tudo para ser uma longa e leve maratona. Podia inclusive ser um mar de rosas, se todos soubessem nadar.

Sem pressa, é possível ir desvendando a nossa jornada, e com ela, aprender tudo o que precisamos saber na nossa jornada profissional. A meta ou o resultado não deve ser objetivo mas sim apenas uma consequência (do nosso crescimento).

Acredito que na verdade, no mercado de trabalho, ninguém ganha ou perde, todos evoluímos, mas em sentidos e ritmos bastante diferentes. E atenção que a evolução nem sempre é sinônimo de melhoria. Darwin nunca utilizou a terminologia evolução como mudança (note que câncer também evolui, problema também progride). Se os profissionais ambiciosos por atingir o auge das suas carreiras de forma competitiva não despertarem uma consciência para a cooperação, podemos evoluir para uma sociedade ou mercado narcísica e tóxica com todos os requisitos para atingirmos um estado caótico e de batalha para a sobrevivência, onde quem vai sobreviver não é o mais forte nem o mais inteligente, mas sim aquele que se adapta com maior facilidade.

E qual é a adaptação que se espera? Espera-se profissionais com grande capacidade de empatia e cooperação, que não disputam espaço, mas sim, que ampliam espaço e quando chegarem no topo (das suas carreiras),  que façam caber mais pessoas.

Pessoas que não são apegadas a status ou altos cargos, e sim no crescimento pessoal e da equipa. Pessoas que compreendem que na vida é preciso ter raízes e não âncoras. A raiz alimenta e a âncora imobiliza. A âncora fica presa no passado, na mentalidade do passado, na cultura competitiva do passado. A velocidade da mudança exige de que nós estejamos abertos e preparados para a mudança constantemente e predispostos a cooperar com o próximo que através das partilhas e experiências, pode agregar valor ao nosso crescimento.

Apesar do cenário desfavorável, defendo que nem tudo está perdido e ainda vamos a tempo de ganhar consciência das nossas responsabilidades e capacidades. Todos nós temos um grande potencial individual e uma missão pessoal para cumprir no mundo. Para sermos agentes transformadores desta cultura de competição, para uma de cooperação, requer uma configuração de mentalidade de que o outro é uma ameaça: o mundo não é uma selva!

Começar a acreditar que é possível ganharmos todos.

O meu bem estar é ilusório quando depende do mal estar (ou do insucesso) do 0utro. É possível acreditar numa comunidade próspera quando a maior parte tem uma vida indigna?

O mercado de trabalho será mais promissor e mais fácil se acolhermos a via da colaboração. Se formos os colegas que gostaríamos de ter encontrado quando fomos acolhidos no primeiro dia de trabalho. Através da empatia e da compaixão, tornam-se naturais as ligações entre os humanos, que inevitavelmente nos conduzirá a um sistema mais justo, equilibrado e saudável para trabalhar.

Todos fazemos falta à nossa maneira, embora ninguém seja insubstituível. Cabe a cada um deixar a sua marca ou o seu legado, se souber qual é a sua obra maior numa empresa.

Aquilo que temos em comum são características únicas e singulares, basta aceitar a nossa natureza humana e amorosa ressaltar e deixar que a magia do universo aconteça alocando a pessoa certa no lugar certo. Entretanto convém frisar que, não é complicado ser essa pessoa, difícil é ser humano, porque o caminho que fazemos, depende mais dos nossos pés do que dos sapatos que calçamos.