Fomos postos à prova! E agora?

O FAROL que está em cada um de nós!

Reflete:

De 0 a 10, quão satisfeito te sentes no que toca à qualidade de vida ao nível profissional?

Na imensidão de estímulos que recebemos nos dias de hoje e com o ritmo acelerado, por vezes, é difícil abrandar um pouco e pensar se, efectivamente, estamos no caminho certo, e, se vivemos ou sobrevivemos. Este sentimento pode ser aplicado quer a nível individual quer a nível organizacional. Sim, organizacional. No decorrer do artigo irás perceber o porquê de dar “sentimento” à organização.

Muito se tem debatido sobre a importância da saúde mental no ambiente de trabalho, explorando estratégias para promover organizações saudáveis, manter os colaboradores engajados e alinhados, garantindo mentes sãs e, consequentemente, aumentando a produtividade e a eficiência.

A nossa eficácia quanto à prevenção já não está a ser posta à prova, simplesmente está a falhar. Este será um outro tema a trabalhar fortemente, e não queremos com isto dizer que não há casos vitoriosos e virtuosos e que devem ser estudados à lupa, por forma a serem seguidos, copiados, imitados (o que pretendermos chamar-lhe!). Diz a expressão que virou popular “a roda já foi inventada”, só há que lhe dar outra roupagem, adaptar à circunstância, situação, especificidade e teremos mais vencedores.

Contudo, somos testemunhas do crescente aumento dos indicadores negros, especialmente no que diz respeito à depressão, à ansiedade e ao burnout. Diante desses desafios, surge a questão crucial: qual é o papel individual diante dessas realidades e por que é tão decisivo estar atento aos sinais?

Podemos fazer uma analogia com os faróis, essenciais como dispositivos de auxílio à navegação. A noite oculta e encobre perigos, pelo que houve a necessidade de os sinalizar. Daí a enorme importância destes mecanismos, já que garantem a segurança de todos aqueles que se encontram no navio, bem como da própria embarcação (qual organização).

Entretanto, os faróis só são úteis para quem compreende a sua linguagem.

Da mesma forma, cada um de nós pode tornar-se um farol na vida de alguém. Não apenas oferecendo apoio de maneira compassiva e empática, mas também identificando sinais muitas vezes não percepcionados pelo próprio. Isso requer conhecimento adequado para interpretar esses sinais e agir apropriadamente, dando devido enquadramento e seguimento.

Vamos fazer um exercício.

Pensa.
Em que direção a tua vida está? Em que direção está a vida da organização?
Qual o teu propósito? Qual o propósito da organização?
Estão em match perfeito ou muito próximo?
E, já agora, olha ao teu redor… o que vês?

Os experientes afirmam que “apenas quem já se perdeu no mar conhece o sentimento de ver uma luz a piscar na escuridão”. O paralelismo é considerável. Quem se encontra perante um problema, nomeadamente de ordem mental/emocional, está ávido por essa luz, mesmo que ainda não o tenha compreendido.

E aqui está um novo conflito, quantas vezes o nosso corpo estremece, a nossa mente grita, e nós, tão simplesmente, não vemos, não escutamos, não sentimos, ou, talvez ainda mais grave, não nos ligamos e achamos que vai passar ou, pior, que temos de aguentar porque, porque e porque (tantas e tantas justificações).

Ora, o nosso querido farol, além de guiar os navios com segurança, também fornece informações cruciais sobre as condições existentes.

Pára.
De 0 a 10, como consideras o teu nível de consciência em relação às reais condições existentes?
Para o bem ou para o menos bem!

E sim, compreendendo os sinais de cada trabalhador, sabendo interpretar os mesmos, também conseguimos obter informação valiosa sobre a cultura organizacional e sobre o caminho a seguir.

E este dispositivo é de tal forma imprescindível e útil, que os navegadores confiam plenamente na sua fiabilidade.

Com treino, com a motivação certa, com a disciplina imprescindível, e com o propósito virtual, esta confiança será inabalável nas relações dentro das organizações.

Voltando à questão “qual é o papel individual diante dessas realidades e por que é tão decisivo estar atento aos sinais?”, de imediato consideramos duas situações, o papel individual para consigo mesmo e o papel individual para com os outros.

No primeiro contexto são decisivos os sete pilares do autocuidado emanados pela Organização Mundial de Saúde e que são considerados um direito de qualquer cidadão, dos sete destacamos a autopercepção. Como o próprio nome indica, a autopercepção é conhecermo-nos, física e emocionalmente, e para que isto aconteça é crucial ativar o nosso estado de presença, é estar atento aos sinais, aos nossos sinais. E isto aprende-se e treina-se.

Na segunda situação é determinante a empatia, entre outros como a compaixão, e sim, sendo extraordinariamente difícil, a empatia remete-nos para um estado de alerta único, tão eficaz e necessário quando se trata de olhar para o outro. Devemos deixar os (pre)conceitos de lado e escutar o que se passa à nossa volta, uma vez mais, estar atento aos sinais, desta feita, do outro. Também aqui a (in)formação é manifestamente insubstituível.

Assim, gostaríamos de deixar um exercício que vai permitir ajudar com a autopercepção e uma partilha para a capacitação quanto ao outro.

Autopercepção:
Coloca-te confortável.
Pensa e responde (escreve).
O que faz de ti um ser único e especial?
Quais são as formas preferidas de cuidares de ti?
Estás atenta/o aos sinais que o teu corpo te dá?
Quais são as tuas necessidades e limites?
Qual é o teu contributo para o outro?
Sentes que acrescentas valor às pessoas que te rodeiam?
Como gostarias de ser recordado?

Capacitação quanto ao outro:
Assim como quando olhamos para o corpo humano e tentamos perceber a importância de cada órgão e se todos estão a funcionar devidamente, se sentimos algo de diferente, se detectamos desconforto, incómodo, ou ainda se visualizamos algo anormal, invulgar, atípico, também nas organizações podemos, de forma genuína, olhar para cada colega, com a tal empatia, utilizando como exemplos a escuta ativa, a observação, a compreensão, a comunicação que está a ser veiculada por ele, por ela e tentemos perceber como está essa pessoa.

Que sejamos o nosso farol, bem como o do outro (tendo sempre em mente que só podemos ser o farol de alguém se estivermos saudáveis, qual farol avariado que dará informação enviesada) e nunca esqueçamos que o coração das organizações é, e sempre será, as pessoas que nelas “residem”.

Desafio final (que podes partilhar connosco):
Nos próximos três dias tens três tarefas. Pronto/a?

Tarefa dia 1- Escolhe uma pessoa (por exemplo, do local de trabalho), aproxima-te, discretamente, e sente como ela está. Se necessitar de ajuda, percebe o que podes fazer por ela! Faz. No final do dia escreve como te sentiste.

Tarefa dia 2- No dia 31 de janeiro assinala-se o “Dia ao Contrário”. Então, neste segundo dia, vive o teu dia ao contrário. E o que isto é? Quando acordares, levanta-te diferente do habitual, quando fores escovar os dentes, usa a mão que não costumas usar, quando fores comer as tuas refeições troca os teus talheres, ou almoça de manhã e toma o pequeno almoço à noite, (…) tenta fazer o máximo das tuas tarefas e escolhas (as possíveis) de forma contrária. No final do dia, como te sentes? Que conclusão tiras?

Tarefa dia 3- Escolhe como podes contribuir na sociedade. No meio em que estás inserido/a, como podes contribuir para melhorar a vida de alguém? de alguma associação? de um grupo? de um animal? … No final do dia, conta a ti próprio/a como foi a tua experiência.

A vida não para. O tempo não volta. E como estás tu a dar uso aos teus tic tac tic tac…

Artigo de:
Carla Ribeiro (Mestre em Gestão Estratégica de Recursos Humanos, Investigadora na
área do burnout, Instrutora em Primeiros Socorros em Saúde Mental)

Ana do Vale (Mestre em Psicologia Clínica, Mestre em Psicoterapia Sistémica e Familiar
e Coach)