Palestra de António Ramalho – ex CEO do Novo Banco no IV Fórum do Link to Portugal

Jorge M. Fonseca, Partner da GEORGE Executive Advisors, esteve presente no IV Fórum do Link to Portugal, que decorreu no passado mês de julho e apresenta uma síntese da palestra de António Ramalho – ex CEO do Novo Banco.

Estamos num momento de grande imprevisibilidade económica. Confira alguns tópicos das tendências marcantes desta palestra:

– Transição Energética e Sustentabilidade:

  1. Sistema financeiro irá influenciar as decisões das empresas (negócios a investir/ desinvestir)
  2. Substituição de carteiras de crédito (fim das indústrias poluentes, entre outros)

– Nova Revolução Industrial:

  1. Digitalização
  2. Crescente introdução de tecnologias e de inteligência artificial

– Os Stakeholders começam a ser tão ou mais importantes que os Shareholders.

– O crescente envelhecimento da população gera custos acrescidos aos diferentes estados/ países. As reformas aos 66 anos têm os dias contados: um crescente nº de profissionais ambiciona manter-se no ativo por mais anos que a idade da reforma (alguns até aos 75 anos de idade)

– Os estados não terão margem para baixar impostos no médio-longo prazo:

  1. Aumento dos custos sociais e de saúde, devido ao crescente envelhecimento das populações.

– Desglobalização das economias: o preço deixou de ser o fator mais preponderante das decisões de compra das indústrias.

– Autossuficiência regional: energética, produtiva, matérias-primas, entre outras e menor dependência de países externos longínquos (China, Rússia, entre outros).

– O PIB português tem vindo a ganhar preponderância na zona centro-norte, com o expressivo aumento das exportações nos últimos anos.

– Portugal tem apresentado nos últimos anos superavits gémeos, ao nível das contas publicas e externas. Os governantes portugueses têm a ambição de baixar a divida publica e a inflação colabora na redução e equilíbrio das dividas públicas.

– Portugal apresenta taxas de desemprego muito baixas, ao nível dos 7%, mas nos últimos anos tem exportado muitos quadros diferenciados e importado profissionais indiferenciados

 A inflação atual é resultante da oferta:

  1. Do aumento dos custos de produção, energia e dos alimentos;
  2. A reorganização das estruturas empresariais e o aumento das margens de lucro;
  3. A inflação começou a descer e deverá continuar nos próximos trimestres.

 – O consumo das famílias continua resiliente.

– Temos um sistema financeiro muito sólido, capitalizado e com muita liquidez, que se financia a si próprio.

– A economia portuguesa tem tido um bom comportamento nos últimos anos: detemos os preços das energias sob controlo. 

– O modelo industrial prevalecente na Europa, nos dias de hoje, favorece a regionalização, a desglobalização e as compras de maior proximidade:

  1. A Indústria portuguesa conseguiu substituir facilmente os fornecimentos oriundos da China e outros países longínquos por fornecedores de maior proximidade geográfica, ainda que mais caros (o preço deixou de ser o único fator de decisão);
  2. Nearshoring + Friend Shoring industrial;
  3. Portugal irá beneficiar das suas fortes relações comerciais com os Palop’s e Espanha das suas relações de proximidade à América Latina;
  4. O Turismo deve continuar a crescer em Portugal e Espanha nos próximos anos, acomodando muito bem o expressivo aumento dos preços praticados. 

– A correta Gestão da Dívida Publica irá ser critica nos próximos anos – os gastos do estado não deverão diminuir, dado o acentuado envelhecimento da população:

  1. Aumento dos custos com a Segurança Social e Saúde;
  2. As despesas do estado deverão continuar a aumentar, pelo que terão de adaptar as receitas às despesas;
  3. Começamos a ter um número idêntico de cidadãos no ativo e em situação de reforma que votam;
  4. 50% da população portuguesa não paga IRS, apenas impostos indiretos;

 – Portugal precisará de ter sempre a sua divida pública controlada.

– Há que repensar que despesas o estado deve assumir e quais devem ser assumidas por cada agregado familiar.

-A inflação terá tendência a descer nos próximos trimestres, mas as taxas de juro não irão voltar a ser negativas:

  1. As taxas de juro deverão manter-se nos 2.5% a 3%;
  2. As taxas de juro positivas irão permanecer nos próximos tempos. 

– Por regra, a poupança é feita pelos mais velhos e o investimento pelos cidadãos mais novos.

– Os sindicatos bancários já têm hoje mais associados em situação de reforma do que no ativo.

– Portugal incentiva pouco os cidadãos a arriscarem. Os portugueses são por regra avessos ao risco. O Estado deve começar a incentivar os cidadãos a tomarem mais riscos controlados.

– Portugal tem um SISTEMA FISCAL muito eficiente em comparação com os seus congéneres europeus

– Temos de aumentar a eficiência dos órgãos do estado como um todo (otimizar processos, recursos materiais e humanos, entre outros).

– Os países ocidentais, em especial os EUA e a EU, terão de a vir a suportar a reconstrução da Ucrânia e os processos de transição energética das suas economias.

– Há uma crescente tendência/ incentivo à compra de matérias-primas e bens alimentares em Friend Shoring (Palop’s, Brasil, entre outros), em contrapartida às compras nos mercados da China, Rússia, etc:

  1. O preço deixou de ser o 1º critério de compra;
  2. As cadeias de valor de proximidade estão a ganhar peso

– Portugal tem uma grande capacidade de diversificação da sua produção, mas falta mais marcas fortes, que gerem maior valor acrescentado:

  1. A indústria portuguesa tem sido um grande fornecedor de empresas de renome mundial (IKEA, Inditex, …), mas temos que se focar no aumento do valor dos produtos e serviços produzidos;
  2. Um Porsche e um Opel são carros bastante semelhantes, a grande diferença está no valor da marca e acabamento. 

– A BANCA portuguesa:

  1. Irá ser um interveniente ativo no processo de transição climática;
  2. Detém uma situação muito solida, com rácios de crédito vencido muito baixos;
  3. Não precisa de aumentos de capital;
  4. Os bancos têm presentemente falta de procura de crédito a risco aceitável.

– Não há risco no IMOBILIÁRIO em Portugal nem na Europa:

  1. Não são previsíveis riscos no crédito à habitação em Portugal nos próximos tempos;
  2. Grande parte dos portugueses já pagaram a sua casa;
  3. A maioria dos portugueses fizerem bem em endividar-se a taxas variáveis e tal foi-lhe benéfico durante um longo período.

– O mercado da habitação só pode ter problemas em casos de aumento do:

  1. Desemprego;
  2. Divórcios;
  3. Doenças.