É o Timing, Senhores, é o Timing! – Momento, Consciência e Liderança

No âmbito do desenvolvimento de pessoas, de equipas e de organizações, entre tantas outras, existe uma questão que frequentemente nos tende a assaltar, a respeito daquele que é (ou deve ser) o planeamento de execução de tarefas: “quando devo fazer?”, “qual o timing certo para esta execução?”. É sobre este tema que me proponho partilhar, procurando o estímulo pelo raciocínio e provocação interna.

Quantas vezes, na verdade, já o leitor ou qualquer membro da sua Equipa ou até da família ou grupo de amigos, afirmou, como justificação para algo não conseguido, que não tem ou teve tempo? Esta é, de facto, a mais derradeira desculpa para aquilo que se nos confronta como uma não concretização de algo. Por certo, uma desculpa não tem obrigatoriamente de ser algo falacioso e isto percebe-se na medida em que, citando Miles Davis, “o tempo não é a coisa mais importante; é a única coisa” e é, também, o recurso com melhor distribuição. Não distingue género, idade, formação, estatuto social, raça ou etnia. É igual para todos! Todavia, é claro que o que varia é o que cada um faz com o tempo que recebe e, ainda, o que cada um escolhe fazer em cada pedaço de tempo de que dispõe.

É atribuída a Albert Einstein uma frase da qual gosto particularmente; nela, Einstein transmite a ideia de que nenhum problema da vida das pessoas pode ser resolvido pelo mesmo nível de consciência que o criou. E quase nada mais correto está! Todos nós, diariamente, fazemos coisas, dentro e fora de um plano que mais ou menos foi antecipadamente preparado; a grande questão é que inúmeros são os momentos em que não sabemos o que fazemos e não percecionamos corretamente a forma como o estamos a fazer; do mesmo modo, não entendemos sequer o impacto que estamos a promover em nós e nos outros. Por outras palavras, bastantes são os momentos em que de nós se apodera um registo de piloto-automático que tanto tem de protetor e de promotor de sobrevivência, como de sabotador e altamente limitativo da promoção de intencionalidade.

Este raciocínio que aqui lhe trago é um raciocínio que visa compreender, em última análise, a importância técnica e estratégica do questionamento permanente. Para connosco e para com aqueles que cuidamos.

E sim, o objetivo é o de valorizar a importância do Quando?; aquela pergunta que tem por objetivo a definição estratégica do momento mais adequado para a realização e concretização de algo. Porém, a complexidade deste tema começa mesmo antes de ele próprio se dissertar, na medida em que o Quando? não pode viver a solo, compondo aquele que se espera poder ser um virtuoso quarteto interativo com seus pares: O quê?, Como? e Porquê?.

Parece simples conseguirmos compreender a magnitude desta dinâmica. A escolha e determinação sobre o timing – quando – mais adequado e propício para a realização de algo está, iminentemente dependente da essência, identificação e estrutura desse mesmo algo – o quê -, da estratégia que sentimos e persentimos ser mais efetiva para a realizar – como – e, essencialmente, do propósito pelo qual nos envolvemos na sua execução – porquê – e este último tem diretamente a ver com o alinhamento da essência de cada um, dos seus valores, crenças e, muito importante, da visão pessoal a médio-longo prazo.

Naturalmente que, em qualquer relação intra e interpessoal, os níveis do diálogo e comunicação assumem uma pertinência e relevância assombrosa, sendo certo que a capacidade de compreender, aceitar e conseguir revelar respostas intelectualmente genuínas às questões supramencionadas, enquadrando-as num registo de constância e permanência, é um trabalho de liderança. Um trabalho de liderança e de liderança pessoal. Assumir uma atitude de investigação preocupada, genuína e incondicionalmente focada na pessoa e no seu posicionamento é fundamental para conseguirmos perceber qual o nível de exigência que podemos colocar, quais as expetativas que, realisticamente, podem ser alimentadas para aquele momento específico. Em suma, cumprindo e fazendo-o bem e por bem, ganham as pessoas, as equipas e as organizações. Chegamos cada vez mais perto da pérola fundamental: a Produtividade.

Como líderes, somos responsáveis por olhar, estimar, cuidar e defender.

Mas não esqueçamos: somos responsáveis por fazê-lo para e pelas pessoas. Somos responsáveis por selecionar o perfil adequado ao meio, à função, à necessidade de interação. Somos responsáveis pelos resultados e, por isso, devemos aprender a ser responsabilizados. Somos responsáveis pela criação de uma cultura e de um clima que instiguem a participação voluntária, a autonomia e a mestria de cada um. Somos responsáveis pela compreensão e identificação do timing certo para cada coisa, a cada pessoa. Somos responsáveis e devemos ser responsabilizados.

A ciência é capaz de nos explicar que, aludindo a uma metáfora zoófila, alguns de nós temos uma tendência para sermos cotovias – madrugadores -, enquanto que outros para uma realidade de coruja – notívagos. A preferência de cada um determina em grande parte o seu cronotipo – disposição individual relativa ao tempo despendido para períodos de atividade ou de descanso. Mas e se lhe disser, caro leitor, que a mesma ciência também é capaz de nos explicar que, numa ótica estatística, a altura do dia e o estado de espírito e predisposição para a performance se relacionam com o tipo de tarefas a desempenhar, formando uma curva que nos ajuda a compreender que, muitas vezes, fazemos a coisa errada no momento errado e, por isso mesmo, padecemos de uma incrível falta de produtividade?

Para além da componente biológica e da predisposição humana, há uma outra variável absolutamente fundamental para o indicador de produtividade comportamental: a clareza ou, se quiser, o foco. Este fator, mesmo que numa primeira instância não remeta para aí, está totalmente ligado com o timing e com a decisão do quando fazer o que se faz.

Todos nós, nas nossas vidas, nos nossos relacionamentos e nas várias dimensões em que se inserem, devemos estar cientes de que aquilo em que nos focamos é aquilo que sentimos e também aquilo que ampliamos. Daí que seja tão relevante que, seja na vida pessoal ou no enquadramento profissional, desenvolvamos a habilidade de otimizar o foco apreciativo. Sucintamente, a abordagem apreciativa aplicada ao nosso foco ou à nossa clareza sobre aquilo que fazemos e produzimos apresenta-se como a capacidade de direcionarmos o nosso pensamento estratégico para aquilo que queremos ter, em vez do que temos, e não para o que temos e desejamos deixar de ter.

A liderança pessoal e organizacional é determinante para o comportamento sustentável de resignificação (mudança de foco), sobretudo quando falamos de desafios ou das vulgarmente denominadas por situações difíceis. Em complemento, é também fundamental para que todos sejamos capazes de alimentar um foco e uma clareza sobre o meu perfil, o perfil da tarefa e o momento de proposta à execução. Até porque, como diz o provérbio russo: “se persegues dois coelhos ao mesmo tempo… não vais apanhar nenhum deles”. E é aqui que a auto-consciência fará toda a diferença. Falamos sobre ela no futuro?