Liderança: líderes que se deixam liderar!

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E quando os líderes também são liderados pelos seus próprios liderados? Precisam os líderes de ser liderados pelas suas equipas? E quando isso acontece é algo natural e saudável ou sinal de que há algo de errado?

Se liderar é ser capaz de influenciar pessoas a fazerem de boa vontade o que tem de ser feito em favor do coletivo; é preocupar-se genuinamente com o bem-estar dos outros; é influenciar o outro a acreditar em si próprio; é levar o outro a atingir coisas que não conseguiria sozinho; entre muitas outras coisas.
Então, será verdade que por vezes o liderado pode assumir o papel de líder do seu próprio
líder?

Parece estranho?

Claro que sim, mas esta reflexão parece-me fundamental numa altura em que tanto falamos de compromisso, de engagement e de responsabilidade. Mais do que fazer parte da função ou da posição hierárquica na estrutura organizacional que se ocupa, liderar deve fazer parte das competências-chave de qualquer profissional de excelência, pois em algum momento será necessário liderar algo ou alguém.

Liderar é muito mais do que chefiar equipas, é muito mais do que ter um cargo!

Quantos de nós conhecem pessoas que lideram sem ser chefes e sem intenção de o serem?

Liderarmos algo ou alguém per si, não faz de nós um líder formal, mas permite-nos perceber que podemos e devemos olhar de forma mais atenta para este tema.

Sempre fui apaixonado pelo tema da liderança e atento aos vários líderes que emergem nos grupos, seja na vida académica, pessoal ou profissional. É incrível perceber como num grupo de pares, por exemplo de amigos, podem existir diferentes líderes, que se manifestam em diferentes momentos. E tudo parece fluir naturalmente, talvez por não haver uma dependência hierárquica, ou seja, provavelmente estaremos perante a liderança no seu estado mais puro.

Quando lideramos um tema, obrigatoriamente, para sermos bem-sucedidos, teremos de liderar pessoas ao longo do processo. Reparem, um vendedor bem-sucedido, que lidera um processo de venda, tem ou não tem de em algum momento liderar o seu cliente, ou um fornecedor, ou um colega, ou até o seu responsável comercial?

E porque o fazemos mesmo que seja sem pensar? Será porque sentimos que é o que deve ser feito? Será por termos liberdade e/ou espaço para tal? Ou porque nos disseram que era assim que fazia sentido e era o que esperavam de nós?

Queres liderar comigo?

No mundo corporativo, a minha experiência diz-me que um liderado pode influenciar e inspirar o seu líder ao ponto de também ele liderar pontualmente. No entanto, isto só é possível quando estamos perante um verdadeiro líder, que reconhece a importância de ouvir e considerar as suas pessoas, as suas ideias e opiniões. Estar aberto a sugestões alternativas às orientações que passa à equipa, aberto ao feedback bilateral e incentivar as equipas a trazer ideias e contribuições é uma forma inteligente de um líder deixar que sejam (também) as suas pessoas a liderar, a influenciar e a tomar decisões. Ainda assim, em condições normais, no final do dia, será quase sempre o líder (formal) a ter a última palavra.

Estar aberto a que as nossas pessoas tenham estes comportamentos e atitudes, é uma das formas mais eficazes de as treinarmos, de lhes darmos espaço para que se desenvolvam enquanto futuros líderes. Devemos ser capazes de mostrar vulnerabilidade, de deixar que “experimentem os nossos sapatos” tomando consciência das dificuldades, desafios e responsabilidades a que um líder está constantemente sujeito.

Muito do respeito e admiração que conseguimos conquistar nos outros enquanto líder, passa por não querermos fazer tudo sozinhos, por os envolvermos nas decisões, por confiarmos, por pensarmos pela nossa cabeça, mas considerarmos o que vai na cabeça dos outros. Juntos, líder e liderados são muito mais fortes e isto tem de ser muito mais que um cliché.

Eu vejo muito valor em ser liderado pela minha equipa em vários momentos, porque acredito que isso significa que consegui rodear-me de pessoas que fazem determinadas coisas muito melhor do que eu faria, que dominam algo que eu não domino, porque não preciso, foi por isso que os contratei. Isso dá-lhes uma tremenda autoconfiança, fá-los assumir responsabilidades de forma mais natural e descomplexada, e a mim, enquanto líder, faz-me confiar mais e acima de tudo, desafia-me a criar cada vez mais impacto e a ser melhor diariamente, para continuar a aportar valor à equipa e a cada elemento individualmente.

Por outro lado, na minha experiência enquanto liderado, julgo que sempre tentei liderar os meus líderes, de forma natural e respeitadora, nunca com a intenção de os superar, mas sim de os ajudar a serem melhores. “Quanto melhores eles forem, melhor eu serei!” Esta sempre foi a minha crença! Talvez tenha sido o futebol que me ajudou a toldar o pensamento, porque sempre pensei que se ajudasse o meu treinador a ser melhor, por sua vez ele nos levaria muito mais longe e a ter muito mais sucesso!

Acredito que as equipas de alto rendimento são feitas de pessoas que se “empurram para cima” umas às outras e que vão ocupando os espaços que vão ficando vazios de forma o mais natural possível, desafiando-se constantemente individual e coletivamente.

Mas será que depende só do Líder aplicar este conceito de liderança?

Não, claro que não! Este é um modelo avançado de gestão de equipas que exige muito trabalho e um enorme alinhamento de todas as partes, bem como mindset e cultura. Por exemplo, acredito que os verdadeiros líderes devem afastar-se dos “yes man”, que são o oposto do que menciono neste artigo. Um “yes man” nunca irá permitir que, mesmo que o Líder queira, esta liderança partilhada seja viável, pois irá escudar-se e refugiar-se no conforto de fazer tudo o que o chefe manda sem questionar, limitando a responsabilidade dos resultados à sua chefia, guardando para si a sua opinião. Por outro lado, acredito que os maus líderes atraem este tipo de perfil, principalmente os líderes mais autocráticos e egocêntricos.

Em suma, este estilo de liderança aberta e envolvente depende muito do líder, mas claro que também dos liderados.

O meu conselho?

Se queres ser um grande Líder, deixa-te liderar (pontualmente) pelos teus liderados! Quando encontrares pessoas que não te importarias que um dia fossem teus líderes, então encontraste os teus sucessores, que vão ser igualmente capazes de atrair boas pessoas! Assim se constroem equipas de alta performance e empresas vencedoras e humanizadas!